sexta-feira, maio 26, 2006

A recuperar: Cinema

1) Fui ver o primeiro por razões pessoais, e gostei. O segundo, pelas mesmas razões e ainda porque não perderia um filme que passa por Londres, Paris, Veneza e São Petersburgo, 4 das cidades que, em diferentes momentos da vida, estiveram no top das minhas cidades preferidas. É verdade que fica um pouco atrás do primeiro, mas vale nem que seja apenas por uma imagem: a do inglês que decide aprender russo apenas para poder falar com a mulher por quem se apaixonou. Nabokov (ou será que não foi ele?) refere que quando disse a alguém que já tinha lido Kafka, lhe perguntaram se tinha sido no original alemão; quando respondeu que não, disseram-lhe que então nunca tinha lido Kafka. Essa é uma das razões por que, a espaços, tenho tentado aprender alemão, mas sem grande sucesso; mas enfim, também é verdade que Kafka não é nenhuma boneca russa.
Já agora, o filme vale também por outras bonecas: uma inglesa, uma francesa, uma espanhola, uma belga lésbica, até uma senegalesa...
2) O argumento acaba por ser o que mais valorizo num filme (também nos filmes, como em tudo na vida, a forma pode por vezes fazer esquecer o conteúdo, mas, como em tudo na vida, é raro), e o argumento é o ponto forte deste Inside Man. Nota alta também para Clive Owen. Se, ao contrário de mim, não adormecem a ver cinema em casa, podem deixar para ver no sofá. De qualquer forma, a ver, mesmo por quem não pretende assaltar um banco num futuro próximo.
3) De Ki-duk Kim tinha visto apenas o Primavera, ..., mas era já sem dúvida suficiente para me fazer ir ver este Ferro 3. Tinha lido que o ambiente dos dois filmes era o mesmo, mas não foi o que achei: este junta-lhe momentos de violência, mas também alguns momentos de rara beleza e até alturas de um humor bastante peculiar. Literalmente sem palavras (quem viu percebe o que isto quer dizer).
4) Quando perguntaram a Joseph Heller porque nunca mais tinha escrito algo como o Catch 22 ele respondeu: "mas já alguém o fez?". Também penso que escrever um Catch 22 é suficiente para deixar realizado qualquer escritor, mas a verdade é que Heller continou a tentar repetir o feito. Da mesma forma não se pode pedir a Tornatore que faça sempre Cinema Paradiso's, ou a Benigni que cada filme saia um A Vida é Bela. Mas este O Tigre e a Neve é talvez a sua melhor tentativa até agora de fazer um sucessor digno. A ver por quem gosta de histórias de amor impossíveis, e do humor teatral de Benigni. Ah, e por quem, como eu, sempre imaginou que no casamento perfeito estará o Tom Waits a um canto a tocar piano.
5) Vivemos numa época, como aliás o foram todas as outras, em que já tudo foi inventado. Por isso, nota alta para Clooney por ter conseguido inovar na forma como colou cenas representadas a footage (como é que se diz footage em português?) real de McCarthy. Parabéns, e boa sorte.

3 comentários:

Anónimo disse...

Grande Blog

Anónimo disse...

Tem tudo o se pode apreciar num blog: humor, informaçao, sentido critico, classe.
Parabens. E ainda por cima meu vizinho (Famalicao).

JV
(casca-de-laranja.blogspot.com)

Rui Dantas disse...

Obrigado Anónimo e JV.
Vou visitar o Casca de Laranja.