dava a entender sem dizê-lo, vezes em que chegou a acreditar que prazer de sexo é só esfrega de carne, e que forma de buraco, cor ou cheiro, é distinção da cabeça. parada a cabeça de pensar, qualquer esfrega dá no mesmo. até que a cabeça se intua de outras coisas e suporte sem regresso as formas, as cores e os cheiros desnaturais, preocupada com ser diferente de todas as outras. imaginem, dizia, é como gostar de coisas que nenhuma outra cabeça saberia sequer imaginar. era um plano de sobrevivência, como expliquei ao aldegundes, um plano de sobrevivência a ver se suportava grande solidão e apetência carnal. resto disso só o que está claro de ver, se tivesse mulher onde se pôr, nada de bichos lhe viriam à satisfação, comentei. por isso, era ainda assim boa pessoa, bom homem, encurralado numa vida cruel sem opção, e só por isso usado de atitutes bestiais, mais nada, aldegundes. e nós devemos pensar que está com maleita de escolhas, erradas escolhas que faz, tão erradas que é maleita de cabeça e já nem simples burrice ou distracção. o aldegundes abanou que sim e sossegou-me, nada penses que me assusto com histórias e suspeitas sobre ele, a mim dá-me tanto como não que ele se tenha de animais grandes ou pequenos, se não se tiver de almas é que me basta.
(baltazar e aldegundes sobre dagoberto, no fantástico "o remorso de baltazar serapião", de valter hugo mãe)
sábado, janeiro 03, 2009
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