domingo, setembro 30, 2012

Do acreditar

Trouxe-me memórias o jogo de ontem do Sporting em Alvalade. Empatou a dois depois de ter estado a perder por 2-0, resultado conseguido talvez graças a algum puto, numa qualquer aldeia do país, fechado num carro coberto de espuma e com jactos de mangueira a bater nos vidros (já explico).

Naquele tempo o futebol celebrava-se ao Domingo à tarde. Não sei que idade teria, mas primária certamente. Era então Domingo, dia também de rotinas como ir à aldeia visitar os avós e lá lavar o carro. E era dentro desse carro - coberto de espuma e com jactos de mangueira a bater nos vidros - que eu ouvia os relatos do Alves dos Santos e do Ribeiro Cristóvão.

Não recordo muito mais do jogo, nem qual seria o adversário. Sei que o Benfica perdia por 2, e eu rezava baixinho por uma recuperação, no misto de fé e superstição que frequentemente caracteriza os adeptos. Já perto do final, em o resultado se mantendo, pedi um sinal (na altura não sabia que sinais não se pedem). Ok, já está a acabar, até com a Tua ajuda será difícil ganhar o jogo, mas acreditarei que aí estás se conseguires pelo menos um empate.

O Benfica marcou dois golos nos descontos e empatou o jogo. Nunca soube se por culpa minha perdemos ou ganhamos um ponto, mas aprendi uma lição nesse dia: nunca pedir 2 se podes pedir 3. Desde aí peço em grande, mas Ele, sem falar, vai dizendo: Da primeira caí; não cumpriste e agora quem não acredita em ti sou eu.

Pointless pain

Where does austerity fit in to this story? Mostly it doesn’t. Shaving an extra couple of points off the structural deficit will make very little difference to long-run solvency, nor will it do much to accelerate the pace of internal devaluation. It will, however, depress employment even further and inflict a lot of direct suffering too through cuts in social programs.

Why do it, then? Partly it’s because Europe is still operating on the false theory that this is essentially a fiscal issue; partly it’s to assuage the Germans, who remain convinced that those lazy Southern Europeans are getting away with something. In effect, the policy is to inflict pain for the sake of inflicting pain.

Which brings us to the question: can this go on? When do the people of the afflicted economies say that they can bear no more?

The news from Spain, with vast protests and talk of secession, suggests that this moment may be approaching fast. Also, while Greece has long since ceased to be the epicenter, things seem to be breaking down there too.

I really do think Draghi has done very well. But he can’t make internal devaluation work on his own, and he can’t save Europe if its leaders continue to think that gratuitous infliction of pain is sound policy.

Paul Krugman, aqui, sublinhados meus

sábado, setembro 29, 2012

Os informáticos

Já se sabe  que uma fila grande numa repartição pública se deve invariavelmente a problemas informáticos. Ou o atraso no reembolso do IRS. Ou a factura que não vai dar para passar desta vez, ou o desconto que não foi bem calculado.

Agora, pelos vistos, parece que as decisões e os erros nas previsões do Gaspar se devem a falhanços de "modelos informáticos em excel". Pelos vistos também a crise e a austeridade é culpa dos informáticos. Já chega, pá, é acabar com essa raça. 

As formigas

O parque de estacionamento do colégio da minha filha é um misto de stand da BM e da Mercedes. Isto nos  horários de maior movimento: perto das 9 da manhã, e das 5 da tarde. Mas não à hora que a levo, às 8:15. Ontem a essa hora no parque estava um Ibiza, um Corsa e um 207.

É fodido ser formiga em Portugal: por cá o inverno está a chegar, mas as formigas passam cada vez pior e as cigarras continuam alegremente a cantarolar.

sexta-feira, setembro 28, 2012

Um bom dia

No seu caso, sim, é recomendada a cirurgia porque ainda é muito novo.

Um bom final de dia, portanto: afinal já não é todos os dias que me chamam muito novo.

sábado, setembro 22, 2012

Da Produtividade

Um operário português produz uma cadeira por hora, que depois é vendida a 25€. Para simplificar, digamos que tem uma produtividade de 25€ /hora.

Um operário italiano produz uma cadeira a cada 2 horas, mas que depois (qualidade, design, marca, etc), é vendida a 100€. Produtividade: 50€ / hora.

Um operário sueco produz cadeiras que são vendidas depois a 10€, mas consegue produzir 10 por hora pois só tem que controlar a máquina que faz cadeiras. Produtividade: 100€ / hora.

O que há a fazer? A mim parece-me claro: cortar o salário do mandrião português. É que o sacana, além de produzir pouco, ainda teve a distinta lata de comprar algumas dessas cadeiras para a sua sala de jantar, o que é claramente viver acima das suas possibilidades.

(comentado aqui)

quarta-feira, setembro 19, 2012

A TSU e outras desgraças

A ir para a frente a medida anunciada, muitos trabalhadores ficarão sem 10% ou mais do seu salário. Anualmente perdem um salário e meio, ou até mais. Para que serve afinal o aumento da TSU, para os trabalhadores, de 11 para 18%? Ora bem, para tudo. E para nada.

A primeira explicação foi que teria como objectivo reduzir o défice, indo de acordo com a distribuição mais equitativa da austeridade exigida pelo Tribunal Constitucional. No entanto, e como esta subida foi compensada por uma descida para os empregadores, não era fácil que esta justificação colasse.

Rapidamente se mudou de narrativa: é uma tentativa de ajudar as empresas de forma a evitar mais despedimentos, e até a criar novos empregos. Com a economia que temos, no entanto, ninguém acredita nisso: a enorme diminuição no consumo interno vai ter precisamente o efeito contrário. Até as próprias empresas, as supostamente beneficiadas, vieram a público mostrar-se contra esta medida. Também não será para isto, portanto.

É para quê então? Desvalorização fiscal, dizem eles, para equilibrar a nossa balança comercial. Está desequilibrada, já se sabe (e não é de agora). Para uns porque temos poucas exportações, para outros porque temos demasiadas importações.

A justificação que se ouve mais por estes dias é que o objectivo é aumentar as exportações. E pode haver quem acredite, claro. A não ser que faça contas. Uma redução de cinco qualquer coisa por cento dos custos do trabalho reduzirá os custos totais das empresas exportadores em, para sermos simpáticos, dois por cento. Alguém acredita seriamente que com estes 2% vamos aumentar as exportações? Pois.

Só sobra o outro lado da equação. O verdadeiro, mas que ninguém quer admitir: diminuir as importações. E ninguém quer admitir porque não vamos fazê-lo por "boas" razões (porque conseguimos produzir internamente, diminuindo a dependência do exterior) mas pelo (anunciado, é verdade) empobrecimento do país. Vamos deixar de comprar simplesmente porque nos vão tirar o dinheiro para o fazer; e quem não tem dinheiro não tem vícios.

Com isto vamos finalmente atingir o nirvana, aka balança comercial equilibrada. E tudo irá pelo melhor no melhor dos mundos possíveis. Finalmente, Portugal ficará bem. Infelizmente, os Portugueses ficarão na merda.


E o pior de tudo, como se sabe, não é isso. O pior é que, foi hoje confirmado, o Luisão também está castigado para as competições europeias. Também já é demais, pá, raisquilhe os alemães.

Mais uma razão (como se fosse necessário) para mudar de PM

Toca lá a arranjar outro primeiro-ministro, que a Maria quer receber o prémio.