... ou estaria agora a revirar-se no túmulo.
É sabido que Álvaro Cunhal, elogiado por todos pela sua coerência ao longo da vida, teve de engolir o seu maior sapo quando apelou ao voto em Soares, adversário de longa data (basta ler algum livro de Cunhal sobre o período revolucionário para perceber como eles se davam bem).
Brevemente, ao que parece, a água passará duas vezes debaixo da mesma ponte, e o seu partido será obrigado, numa eventual segunda volta presidencial, a apelar ao voto no fixe do Soares. Cavaco oblige.
Ironicamente, apoiar Soares pode até ser um mal menor, pois perfilava-se a possibilidade de o candidato socialista, a quem (quase) toda a esquerda inevitavelmente apoia no final, ser nada mais nada menos que o opositor de Soares em 1986 (o tal que o sapo permitiu evitar). Nesse caso, parece-me que não só se revirava no túmulo, mas se levantava e voltava para o exílio, que este país não o merece.
terça-feira, julho 26, 2005
quinta-feira, julho 21, 2005
Campos e Cunha abandona Governo ao fim de 130 dias
Quem ouvia falar o Ministro das Finanças, independentemente de concordar com as suas medidas ou não, notava que não parecia um político normal a falar. Explicava as decisões racionalmente, com argumentos lógicos. Estranhamente, aquilo parecia fazer algum sentido. E digo estranhamente porque não é todos os dias que se ouve um político começar um raciocínio e desenvolvê-lo com início, meio e fim.
Notava-se que não ia durar muito.
Notava-se que não ia durar muito.
sexta-feira, julho 08, 2005
O 7 de Julho
Ontem, quatro explosões de origem terrorista no centro de Londres tiveram como trágico balanço a morte de várias pessoas, cujo número se estima vir a chegar à meia centena, e cerca de 700 feridos. Ao contrário do que aconteceu em Madrid, ninguém se lembrou de culpar o IRA; todos perceberam imediatamente que algum tentáculo da Al-Qaeda estaria por trás do atentado. O mundo está diferente, para pior, muito pior.
A primeira vez que fui a Londres, ainda criança, há uns 15 anos, lembro-me de ter ficado com a impressão que um ataque terrorista estava ali sempre iminente. Cartazes avisando para o perigo de malas abandonadas apareciam em todas as estações do metro, algo a que só me habituei mais recentemente a ver em todos os aeroportos. Numa das viagens no metro, alguns de nós defendiam que seguir por uma linha seria mais perto, enquanto outros votavam por outra (sem saber que o mapa do metro de Londres é esquemático, sem correspondência com as distâncias reais); para desempatar, decidimos que cada grupo seguiria pela sua linha. O meu grupo perdeu porque a meio a linha estava cortada por ameaça de bomba; nunca saberei quem tinha razão.
Anteontem, a mesma Londres foi escolhida para sede dos Jogos Olímpicos de 2012, sendo a primeira cidade a acolher os Jogos por 3 vezes. De manhã cedo, as notícias indicavam que 3 das cidades candidatas, Moscovo, Nova Iorque e Madrid, estavam excluídas da corrida, e os comentadores eram unânimes em afirmar que o principal critério para a exclusão se prendia com questões de segurança e com o perigo de atentados terroristas nessas cidades. Na disputa final com Paris, Londres ganhou por 54 contra 50 votos.
Sei que os dias do IRA estarão para trás, mas ainda assim custou-me imaginar Londres como a cidade menos sujeita a actos terroristas. Além disso, depois do 11 de Setembro e do 11 de Março, Blair era o único líder dos presentes na reunião que decidiu a guerra que ainda não tinha sido vítima da Al-Qaeda dentro de portas.
Resta-nos esperar que ninguém se lembre quem foi o mestre-de-cerimónias desse encontro, e que em Portugal a palavra terrorista continue a ser utilizada apenas para significar criança irrequieta.
A primeira vez que fui a Londres, ainda criança, há uns 15 anos, lembro-me de ter ficado com a impressão que um ataque terrorista estava ali sempre iminente. Cartazes avisando para o perigo de malas abandonadas apareciam em todas as estações do metro, algo a que só me habituei mais recentemente a ver em todos os aeroportos. Numa das viagens no metro, alguns de nós defendiam que seguir por uma linha seria mais perto, enquanto outros votavam por outra (sem saber que o mapa do metro de Londres é esquemático, sem correspondência com as distâncias reais); para desempatar, decidimos que cada grupo seguiria pela sua linha. O meu grupo perdeu porque a meio a linha estava cortada por ameaça de bomba; nunca saberei quem tinha razão.
Anteontem, a mesma Londres foi escolhida para sede dos Jogos Olímpicos de 2012, sendo a primeira cidade a acolher os Jogos por 3 vezes. De manhã cedo, as notícias indicavam que 3 das cidades candidatas, Moscovo, Nova Iorque e Madrid, estavam excluídas da corrida, e os comentadores eram unânimes em afirmar que o principal critério para a exclusão se prendia com questões de segurança e com o perigo de atentados terroristas nessas cidades. Na disputa final com Paris, Londres ganhou por 54 contra 50 votos.
Sei que os dias do IRA estarão para trás, mas ainda assim custou-me imaginar Londres como a cidade menos sujeita a actos terroristas. Além disso, depois do 11 de Setembro e do 11 de Março, Blair era o único líder dos presentes na reunião que decidiu a guerra que ainda não tinha sido vítima da Al-Qaeda dentro de portas.
Resta-nos esperar que ninguém se lembre quem foi o mestre-de-cerimónias desse encontro, e que em Portugal a palavra terrorista continue a ser utilizada apenas para significar criança irrequieta.
quarta-feira, julho 06, 2005
"Novo" código da estrada
Quando há uns meses se começou a falar do novo código de estrada, tentei perceber o que teria sido modificado. Portugal é conhecido pela sua enorme sinistralidade rodoviária, e por isso há certamente muito onde melhorar. Pelo que nos foi feito chegar pelos meios de comunicação, no entanto, a grande novidade do "novo" código prende-se com o duplicar do valor previsto para as coimas.
Um novo código implicou, imagino, pessoas pagas especialmente para o preparar. Especialistas, imagino. Estamos assim tão bem que a única melhoria que estes especialistas foram capazes de introduzir foi o aumento das coimas? , pensei. Não há uma única ideia, mais ou menos inovadora, para diminuir as mortes nas estradas?
A semana passada, no entanto, entrou em vigor uma das medidas do código: a obrigatoriedade de utilização de colete reflector quando se sai da viatura (por exemplo, para mudar um pneu, ou na eventualidade de um acidente). Ao ver os primeiro acidentados vítimas desta medida, compreendi finalmente que esta é sem dúvida uma optima ideia capaz de realmente diminuir o número de acidentes. Quem já viu o ridículo que ficam dois adultos a discutir um acidente vestidos de laranja fluorescente percebe o que eu quero dizer; sabendo que terá de vestir este colete em caso de acidente, os portugueses serão certamente mais cuidadosos na sua condução.
Um novo código implicou, imagino, pessoas pagas especialmente para o preparar. Especialistas, imagino. Estamos assim tão bem que a única melhoria que estes especialistas foram capazes de introduzir foi o aumento das coimas? , pensei. Não há uma única ideia, mais ou menos inovadora, para diminuir as mortes nas estradas?
A semana passada, no entanto, entrou em vigor uma das medidas do código: a obrigatoriedade de utilização de colete reflector quando se sai da viatura (por exemplo, para mudar um pneu, ou na eventualidade de um acidente). Ao ver os primeiro acidentados vítimas desta medida, compreendi finalmente que esta é sem dúvida uma optima ideia capaz de realmente diminuir o número de acidentes. Quem já viu o ridículo que ficam dois adultos a discutir um acidente vestidos de laranja fluorescente percebe o que eu quero dizer; sabendo que terá de vestir este colete em caso de acidente, os portugueses serão certamente mais cuidadosos na sua condução.
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