No final do século passado dava formação, entre outros, de um módulo de Introdução à Informática. Na primeira sessão costumava pedir aos formandos exemplos de como a informática influencia a nossa vida, tanto positiva como negativamente. Na coluna dos factores negativos aparecia invariavelmente o facto de os computadores (ou as máquinas no geral) poderem em alguns trabalhos substituir o homem, e assim levar ao aumento do desemprego. Alguém normalmente contra-argumentava que outros empregos são criados pelos computadores (ou não fosse o de formador de informática um bom exemplo), mas no geral a opinião era de que o saldo seria negativo.
O papel do formador, para mim, sempre foi o do advogado diabo, argumentando a favor da opinião em minoria de forma a fomentar a discussão. Sempre tive jeito para argumentar mesmo não concordando com o que estou a defender, mas no caso específico isso nem era necessário. O argumento é simples: sim, os empregos provavelmente diminuiriam, mas e daí?
É verdade que muitos defendem que apenas o trabalho completa o ser humano, e blá blá, mas nunca acreditei nisso. Quando as pessoas se queixam de não ter emprego, frequentemente estão a queixar-se daquilo que os empregos proporcionam: basicamente, aqueles pedaços de papel a que se convencionou atribuir valor de troca (ok, e em casos raros a um sentimento de "contribuição para a sociedade" e de "realização").
As máquinas, ao contribuir para aumentos brutais de produtividade, deveriam contribuir para que as pessoas tivessem de trabalhar cada vez menos. Para que raio queremos as máquinas senão para isso? Em vez disso, claro (e sem querer soar muito marxista), as mais-valias (oops) desse aumento de produtividade beneficiam os do costume, e quem se lixa é o mexilhão. Mas não teria que ser assim: num futuro não muito distante poderia só trabalhar quem quisesse.
Fazendo uma análise propositadamente simplista, é fácil ver que havendo excesso de oferta no mercado de trabalho (originando desemprego), não ouvimos falar de falta de produtos. Ou seja, as pessoas que trabalham são suficientes para produzir o que precisamos. Ou seja ainda, não é preciso que trabalhemos todos. E, num futuro não muito distante, muito menos serão precisos. Aliás, a semana de trabalho já foi reduzida para metade no último século, e aquilo que chamamos hoje uma semana cheia seria um trabalho leve no auge da Revolução Industrial. Parece-me que não há razões para pensar que essa tendência precisa inverter-se.
Bem, vem isto a propósito de me terem chamado a atenção para o facto do Bloco de Esquerda ter defendido o fim-de-semana de 3 dias (semana de 36 horas, a 9 horas por dia). É um tema a voltar com mais tempo: não é uma ideia original (tenho essa ideia todas as segundas-feiras), e não vou discutir se Portugal se pode dar ao luxo de estar na linha da frente nesta matéria, mas como meta a atingir parece-me bem. Só ainda não decidi se prefiro a sexta ou a quarta-feira.
domingo, setembro 24, 2006
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1 comentário:
eu a segunda. sem quaisquer duvidas!
(ps: o mexia è genial na sua agudeza critica, o seu comentario ao sol é simplesmente delicioso e refere um tema que ja me tinha preocupado: que vou ter que admitir que o expresso nao é assim tao mau!)
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