A noite começou mal. Uma desistência de última hora, com o bilhete há muito comprado, implicou uma nova contratação e atrasou a saída de casa. Para piorar a situação, a burrinha e mais a sua procissão (a quem não sabe a que me refiro sugiro uma estadia em Braga durante a Semana Santa, e vão ver que também ficam a adorar procissões) fecharam a Avenida Central e lotaram os parques em toda aquela zona. À hora marcada para o início do espectáculo ainda eu procurava estacionamento, com o meu bilhete e os de mais oito pessoas (que na altura, imagino, me insultavam à porta do Teatro Circo). Os outros bilhetes foram entregues a tempo, mas eu já só entrei um pouco depois de, segundo me dizem, Dawn McCarthy ter entrado pela mesma porta e iniciado o concerto, cantando a cappella mesmo ao lado de onde eu já deveria estar sentado. Deixei-a voltar ao palco, desci também o corredor (sem cantar a cappella) e discretamente procurei o meu lugar, que encontrei ocupado. Na fila atrás lá encontrei um lugar vazio e, menos mal, contra todas as probabilidades, acabei por ficar sentado ao lado de uma miúda gira e não de um cabeludo-barbudo-mau-aspecto como eu.
Ela, o Fauno, continuava a encantar em palco. Fabuloso, no sentido original da palavra. Ele, o Sátiro, de casaco de cabedal e barbicha mefistofélica, mais Fausto que Fauno, parece ao princípio um pouco deslocado. Quase como se, em vez de ter sido a guitarra a ser emprestada pelo Bonnie, nos tivesse anunciado antes: "Peço desculpa, mas o meu músico quebrou esta tarde, por isso tive que trazer este que um grupo de metal me emprestou". Mas não, continua-se a ouvir e não é nada disso: o duo é mesmo um duo, Nils encaixa ali perfeitamente; quando canta, ou quando sopra na flauta transversal, ou quando, teatralmente, é a voz do comboio em trânsito. E nós rendidos.
Depois veio o príncipe, e sinceramente não sei dizer se deu um bom concerto. Alguém que não o conhecia bem (como é possível?) diz-me que o concerto foi demasiado longo, ainda por cima quando "as músicas dele são todas iguais" (heresia!). Eu, confesso, há coisas em que não consigo ser imparcial: assim como o Simãozinho foi nitidamente derrubado (foi penalty, pois claro), também o Bonnie deu (pois claro) um grande concerto. Ok, entrou e foi ele próprio preparando o palco, meio desastradamente; as suas piadas podem não ser tão boas como isso ("a friend of mine is opening a maternity shop, and will call it We're fucked"); a guitarra nova não conhecerá tão bem os dedos como a anterior. Mas, senhores, é o Bonnie. São aqueles versos que ouvimos e re-ouvimos, ainda que o que ele ali nos mostre sejam na realidade covers e medleys das suas próprias criações, a ponto de tornar quase irreconhecíceis músicas que pensávamos reconhecer mesmo que tocadas de trás para a frente. Com ou sem Dawn the Faun, Bonnie foi sempre genial (o pobre coitado não sabe ser outra coisa). Entre genialidades, lá ficamos a saber que em breve vai passar muito mais tempo em Portugal, algures in a minor place, visto que, graças à Madonna ter copiado o O Let it be (na versão dela ficou Let It Will Be), se vai reformar com os royalties (não soubemos o resultado final do malmequer, mas tudo indica que virá sozinho).
Cá fora, o lugar para o carro que tanto me custou a encontrar era afinal num parque que fechava à meia noite. Que está fechado, portanto, e o carro lá ficará até de manhã. Mas, claro, há noites que por mais percalços que tenham não deixam de ser perfeitas.
quarta-feira, abril 11, 2007
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1 comentário:
Ora aqui temos um belo comentário
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