Fui um dos culpados pela necessidade de mudança, confesso. Como muitos outros, já não o comprava tanto como noutros tempos. Ainda assim, tive pena que tivesse que acabar. Na quarta-feira comprei a sucessora, para ver como se comparava a filha ao pai.
Quando ia a um concerto sabia que o Blitz seria dos poucos sítios onde poderia encontrar uma crítica ao espectáculo; essa era, portanto, uma das razões porque o comprava. No resto da imprensa, por alguma razão que me escapa, é normal ter o anúncio do concerto, com uns parágrafos sobre o artista retirados da internet, mas no dia seguinte nada de crítica. Procurei as críticas agora na nova Blitz mas, imagino que dentro da política de redução de custos, não encontrei nada. Por aí, portanto, não a vou comprar.
Semanalmente vou lendo o Y, e não é raro, mesmo tendo ele apenas meia dúzia de páginas, poder fazer um ou dois recortes de críticas a discos que não conheço e pretendo ouvir (obrigado João Bonifácio). Nas 120 páginas da Blitz não fiz nenhum recorte. Também não será por aí, portanto, que a vou comprar.
Tinha lido bons comentários ao novo formato, e que estão no caminho certo, e bla bla. A mim, a nova Blitz pareceu-me demasiado mainstream. Compreendo a necessidade de agradar a um público o mais alargado possível, mas tenho até dúvidas que esse público esteja interessado na Blitz. Quem vai ouvindo a música da semana das playlists das rádios, quem ouve James Blunt ou Nelly Furtado porque é o que está a passar na Comercial, não me parece que esteja muito interessado em ler críticas musicais sobre o novo álbum.
Não sei se o Jornal de Letras sobrevive bem ou mal; imagino que mal: o Eduardo Prado Coelho e os seus amigos comprarão o JL, e pouco mais. Mas encontrou um nicho de mercado, e é a esse que tenta agradar. Como o Saramago veio defender (não concordo muito, mas isso é outro post), ler será sempre coisa para poucos. Fazendo capas com, sei lá, Kazuo Ishiguro, o JL nunca terá uma tiragem tão grande como a Nova Gente, é verdade, mas é o seu nicho; não acredito é que passar a fazer capas com a Margarida Rebelo Pinto seja a solução para aumentar as vendas: os leitores da MRP, vamos admitir, não compram jornais de literatura.
E voltamos à Blitz. Posso então estar enganado, mas não acredito que os tais ouvintes-rádio-comercial estejam interessados numa revista de música. Talvez por isso, a tentativa é de deixar de ser apenas uma revista de música; mas como revista de cinema já existe melhor, como revista de videojogos também. Ficamos portanto com uma revista levezinha que fala sobre um pouco de tudo: música, cinema, jogos, até futebol. Pode ser que resulte, pode ser que seja isso que venda, não sei. Escusavam era de lhe chamar Blitz: não vão ser os leitores dele que a vão comprar a ela.
domingo, junho 25, 2006
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