segunda-feira, novembro 20, 2006

À beira de um ataque de nervos

A comédia, já se sabe, é o mais difícil dos géneros. Fora um ou outro nome, temo sempre que os filmes "cómicos" mais tarde ou mais cedo vão descambar em alguém que tropeça numa banana ou leva com uma tarde na cara, e por isso nem arrisco.
Desta vez, no entanto, uma crítica qualquer lida na diagonal convenceu-me que este Little Miss Sunshine (Uma Família à Beira de um Ataque de Nervos, em português) teria um "humor negro" excelente, gargalhadas garantidas, etc., num filme supostamente meio "independente". Dentro do espírito de me informar o menos possível antes do filme, lá fui eu.
Resultado: as gargalhadas realmente apareceram por lá, a ver pelo resto da sala: a carrinha que não arranca, obrigando a família a empurrar e entrar em andamento (ha ha); a buzina da carrinha que encrava e vai apitando durante a viagem (ha ha); o polícia que apanha a revista gay do cunhado (ha ha ha). Enfim. Costumo (como toda a gente) criticar os tradutores que inventam nomes disparatados para os filmes, mas desta vez só posso concordar que o título em português me prepararia melhor para aquilo.

domingo, novembro 19, 2006

Braga 3 - Benfica 1

Vi ontem o jogo nos camarotes. Como cheguei quase na hora do jogo o vinho e os rissóis estavam quase a acabar, tive de comer o queijo amanteigado com pão porque já não havia tostas, e não havia garfos suficientes para toda a gente comer arroz de pato. Com condições destas é natural que o povo deixe de ir à bola. Ainda por cima, com televisão para as repetições perde-se aquele instinto natural de, na dúvida, insultar o árbitro.
Quanto ao jogo em si, digamos que ambas as equipas têm vindo a alternar boas e más exibições, e ontem coincidiu um dia bom do Braga com um dia mau do Benfica. O Braga inaugurou o marcador com um erro de Quim, mas depois justificou a vantagem e até poderia ter marcado mais. Foi assim contra a corrente que o Benfica empatou, na primeira situação de perigo para a baliza de Paulo Santos; a partir daí, no entanto, o Braga baixou e Nuno gomes quase virava o resultado. Os últimos minutos da primeira parte foram novamente do Braga, que conseguiu marcar e ir para o intervalo a vencer. A segunda parte foi mais morna, com as alterações de Fernando Santos a não sortirem efeito. Simão ainda teve uma grande perdida, mas logo depois o Braga mataria a partida.
O golo do Benfica foi marcado por Ricardo Rocha, jogador que já passou por Braga e que os sócios minhotos, não percebo bem porquê, assobiavam sempre que tocava na bola (isto ainda antes de marcar o golo, o que fez com que celebrasse o golo, em provocação, virado para os sócios).

terça-feira, novembro 14, 2006

Girando

Quando cheguei (atrasado, claro) já se ouvia o discurso do Martin Luther King. Oito instrumentos (viola, Violino, violoncelo, piano, bateria, saxofone, baixo, acordeão) esperavam por outros tantos Johnsons, que chegariam vestidos de preto acompanhados pelo próprio Antony (de preto também); este ficar-se-ia quase sempre pelo microfone desta vez, brindando-nos com o piano apenas para o Hope there's someone. Antes tinham já descido em direcção ao palco as 13 modelos que, girando, turning, spiralling, acompanhariam cada música (cá fora, no final, discutir-se-ia se teriam todas nascido com pila; a mim ninguém me convence pelo menos da que estava de tronco nu). Cada modelo acompanhou uma música, incluindo 4 ou 5 músicas novas.
O Antony já passou duas ou três vezes em Portugal; vi-o apenas numa outra ocasião, em Famalicão. Na altura foi maior que agora o espanto ao verificar o poder da sua voz ao vivo, mas imagino que parte do público tivesse sentido isso mesmo quando começou Everything is new. Aceito que a primeira vez tem sempre um efeito maior, mas na verdade comparando os dois concertos o deste Sábado não fica em vantagem. Perdeu por exemplo por ter menos Antony ao piano, que ainda por cima leva a o termos sempre no centro do palco, com maneirismos que nos distraem (sem preconceito, mas distraem) da beleza do que se passa em palco; é um pouco como ver, por exemplo, um concerto do Bonnie Prince Billy: fechando os olhos só se ouve a música, lindíssima; abrir os olhos é vê-lo a comer o bigode, e é impossível evitar um sorriso. Em termos de som a Casa das Artes também não fica nada atrás do novo Teatro Circo, talvez até antes pelo contrário.
Os maneirismos de Antony foram, é verdade, disfarçados pelo que se passava atrás de si. As modelos eram filmadas enquanto rodavam em cima de uma base giratória no extremo esquerdo do palco, e um grande plano projectado na tela gigante atrás dos músicos, com os efeitos de Charles Atlas produzidos no momento. A sobreposição das imagens das modelos (frequentemente 2, 3 imagens de momentos separados talvez por um segundo) resultava em imagens muito bonitas. As próprias músicas, pareceu-me, eram interpretadas de forma um pouco mais lenta, acompanhando o ritmo em que as modelos giravam.
O público portou-se bem, mantendo bonitos silêncios quando isso se justificou, mas por alguma razão senti a falta dos assobios entre a 2ª e a 3ª nota. Quem vai a (estes) concertos sabe que há uma ética própria que implica o máximo de silêncio, mas também sabe que há uma excepção que é o tal assobio a seguir à segunda nota: significa que quem assobia reconheceu já a música, e gostou que ela tivesse sido escolhida. Não ter ouvido estes assobios no início do já referido Hope there's someone, por exemplo, ou de um Bird Gehrl, causou-me uma certa estranheza. A mim ficou-me a dúvida: ou o público simplesmente não conhecia as músicas e estava ali mais para ver o dourado restaurado do Teatro Circo, ou estava demasiado boquiaberto para poder assobiar.
Quem já o ouviu sabe que Antony é daqueles abençoados que não conseguiria fazer um mau concerto nem que tentasse. Sábado o concerto foi lindo, sublime, isso tudo. Inesquecível. O tal concerto do ano, provavelmente. Não o quereria perder por nada. Mas, tendo visto ambos, e se tivesse de escolher apenas um, escolheria o concerto mais autêntico, menos produzido, menos pós-Mercury Prize, mais Antony, que vi em Famalicão. Esqueçam os efeitos e dêem-lhe apenas um piano, que ele não precisa de mais nada. Mas, claro, com ou sem efeitos, que nos continue a visitar que nós cá estaremos para o aplaudir de pé novamente; ou, utlizando as suas palavras: "Obrigado".


sábado, novembro 11, 2006

O fim da Humanidade, atentados e Freud

Esta semana houve direito a três idas ao cinema. A primeira foi para ver Children of Men, um filme do realizador de Y tu mamá también (agora em versão holywood). A ideia tinha tudo para dar um bom filme (2027, morre o último jovem - 18 anos - depois de a humanidade se ter misteriosamente tornado estéril), mas poderia ter sido melhor explorada: por exemplo, os problemas de 2027, poluição e emigração, são problemas já hoje: a imaginação não foi muita. Além disso, de minha parte dispensava um filme de ficção futurista, mas se não se queriam preocupar com isso a acção poderia passar-se num futuro mais próximo (escusava de ter já 18 anos o jovem); desta forma é sempre estranho imaginar que, por mais caótico que seja o futuro, não existam daqui a 20 anos modelos de carros novos ou outros gadgets que não temos hoje. O argumento anda à volta da tentativa de salvar um bebé (carregadinha de simbolismos bíblicos), e não passa muito disso. Prometia mais, mas ainda assim um filme a ver, e sem dúvida bem acima de outras coisas que por lá se fazem. Clive Owen (no papel do salvador da criança) e Michael Caine (no papel de um velhote que fuma erva com sabor a morango) estão bastante bem, Julianne Moore pouco aparece.
O segundo filme da semana foi United 93, um filme sobre o bastante difícil primeiro dia de trabalho de Ben Sliney. Apesar do forte carácter propagandista, e da dificuldade que existe em fazer um filme quando o argumento é por demais conhecido - neste caso a parte final, pelo menos -, parece-me que cumpre com o objectivo de nos colocar lá dentro e sentirmos o que sentiram estas pessoas. Existem obviamente algumas coisas que nunca saberemos se correspondem à realidade, e outras são difíceis de acreditar (o piloto terá mesmo colado uma foto do capitólio? para se guiar?), mas o facto de ser filmado com grandes planos, de câmara na mão, consegue passar a sensação que o realizador pretenderia. Outro ponto que terá contribuido é o facto de muitas das personagens lá estarem as himself (apenas as do solo, por razões óbvias). Com o tempo, a memória colectiva destes acontecimentos passa mais pelas obras que os retratam do que pelo que verdadeiramente aconteceu; não vi o World Trade Center (que penso não será comparável pois aborda um lado completamente diferente dos atentados), mas parece-me que ainda não foi feito o filme definitivo sobre o 11 de Setembro; talvez isso já não seja possível dada a complexidade do acontecimento, e aí este Voo 93 será uma peças importante no criar dessa tal memória colectiva.
A melhor supresa da semana viria com o freudiano Inconscientes. Leonor Watling - aqui bem mais mexida do que em Hable con ella - interpreta uma jovem grávida (leitora de Freud, Marx, Sherlock Holmes, Emily e Charlotte Brönte, Mary Shelley, Oscar Wilde), que vê o seu marido misteriosamente fugir de casa e vai - ela própria qual Sherlock -, junto com o cunhado, procurar encontrar as razões para este desaparecimento, descobrindo no caminho segredos sobre todos os que a rodeiam. O filme fez-me um pouco lembrar o 8 Mulheres, mas confesso que já não o vejo há bastante tempo e por isso a semelhança pode ser pouca. Apanhei este Inconscientes no cinema, mas sendo de 2004 deve ser mais fácil alugá-lo e vê-lo em casa, numa tarde de Domingo chuvosa (que mais semana menos semana há-de chegar, imagina-se); de uma forma ou de outra a não perder, ao mesmo tempo que nos roemos de inveja pelo cinema que os nuestros hermanos fazem e nós teimamos em não fazer.

quinta-feira, novembro 02, 2006

Sightseeing

Hotel em Berlim. A e B estão na mesa ao nosso lado, quando chega uma terceira (C). Ler com sotaque de Royle Family.
C: Hello, we are going to the Bradenburg gate, and places like that. Do you want to come?
A: Yes, sure, we can all go together.
B: I thought you wanted to go shopping.
A: Oh, they are not going shopping?
B: No, they are going sightseeing here in Berlin.

(a outra reage como se isso nunca lhe tivesse passado pela cabeça, e esta fosse a ideia mais original do mundo)
A: Sightseeing? Oh... Here? That's also a good idea...
B: We could maybe do that tomorrow...
A: Ok. And will they still be there tomorrow?
B: You mean the sights? They are always there, aren't they?
A: Oh, I guess they are. We'll go sightseeing tomorrow then...

Bola colorida

O sonho, claro, é uma constante da vida. Hoje tinha realmente sonhado com este resultado: acordei com uma imagem nítida de um jornal desportivo com 3-0 em letras garrafais na capa. Tenho de acreditar mais nas características premonitórias dos meus sonhos.
Ainda vamos na cauda do grupo junto com o Copenhaga, mas parece-me que ou é o Hesselink que faz falta e muda este Celtic em breve ou arriscam-se a nem ir à UEFA. A nós já só nos faltam duas finais, e talvez ganhar ao Copenhaga até seja suficiente.

quarta-feira, novembro 01, 2006

Stuart

Stuart Staples é que parece que só mesmo na Aula Magna. E cá para cima, não somos gente?


Gente sentada

Aquele que tinha por site oficial ainda só refere os dois primeiros nomes para a 3ª edição do festival, mas já há sites de notícias e blogs com a lista completa. Não está nada mal; vamos ver se vou conseguir continuar a ser totalista.
24/11/2006: Adam Green, Fink, Stuart Robertson
25/11/2006: Sparklehorse, Emiliana Torrini, Ed Harcourt

Cosmopolita

Apenas 2 noites em Berlim. O suficiente para nos cruzarmos, de uma forma ou de outra, com as comunidades alemã, inglesa, irlandesa, americana, espanhola, russa, portuguesa, turca, brasileira.

Volver

Incesto, morte, solidão, família, doença, aldeia, mulheres, superstição, assasínio, traição, velhice, incesto.
Está bem a Penelope, apesar de o nome Raimunda não lhe assentar nada bem; Carmen Maura cumpre, com um papel relativamente pequeno; Yohana Cobo é a revelação, e já se fala que é a próxima Penelope.
De resto, dispensava as explicações dadas pela Abuela e mais tarde pela própria Raimunda: um fim um pouco mais aberto tem sempre a vantagem de nos obrigar a pensar no filme depois de sairmos da sala, e no caso as explicações até vêm numa altura em que estava tudo mais que percebido, o que só nos faz sentir que estamos a ser considerados estúpidos.
Pode ainda não ser Almodovar de volta ao seu melhor, mas vale sem dúvida a ida ao cinema.

Sonho

O Benfica jogou até agora 3 vezes com o Celtic nas competições europeias. Duas vezes fora, que perdeu por 3-0, e uma em casa, que ganhou por 3-0.
Hoje sonhei que a tradição se ia manter.

Referendo

Local: bar na cave de um hotel na Alemanha profunda. Uns 6 a 8 homens, feios, altos e gordos, em geral de meia e chinelinho, rodeiam cada uma das 3 mulheres presentes no bar, também elas feias, altas e gordas, pelo menos uma delas bastante mais gorda que eles. Neste ambiente, entre dois gins, apenas uma pergunta me vem à cabeça:
Concorda com a despenalização da interrupção voluntária da vida, se realizada, por opção da sociedade em geral e por razões estéticas, em estabelecimento de saúde legalmente autorizado?