"Não sou nem de esquerda nem de direita. Primeiro, eu acho que essas definições de facto hoje em dia já não fazem grande sentido".
Tomás Azevedo, neto de Belmiro de Azevedo, Sic, 2008-08-31
There is a war between the ones who say there is a war
And the ones who say there isn't.
Leonard Cohen, New Skin for the Old Ceremony, 1974
Outros destaques: "Não gasta dinheiro em música e filmes porque tira quase tudo da internet" (a ilegalidade como virtude) e "Os fornecedores(!) gostam muito de atrasar os pagamentos".
terça-feira, setembro 02, 2008
quarta-feira, agosto 13, 2008
This be the verse
They fuck you up, your mum and dad.
They may not mean to, but they do.
They fill you with the faults they had
And add some extra, just for you.
Este poema, talvez o mais conhecido de Larkin, levou-me a um blog onde se faz uma análise.. eh.. original. Não é fácil perceber a 100% se o autor do blog acredita realmente na interpretação que faz, mas é difícil levar a sério um fulano que diz, noutro post: "If only it were possible to separate the shit from food before eating it — think how much more convenient things would be." (ler também a discussão nos comentários, que envolve mel, abelhas, ursos e hippies)
They may not mean to, but they do.
They fill you with the faults they had
And add some extra, just for you.
Este poema, talvez o mais conhecido de Larkin, levou-me a um blog onde se faz uma análise.. eh.. original. Não é fácil perceber a 100% se o autor do blog acredita realmente na interpretação que faz, mas é difícil levar a sério um fulano que diz, noutro post: "If only it were possible to separate the shit from food before eating it — think how much more convenient things would be." (ler também a discussão nos comentários, que envolve mel, abelhas, ursos e hippies)
quarta-feira, agosto 06, 2008
Literatura de WC 5
De momento ando em re-leituras:
. Os vários Senhores do Gonçalo M. Tavares (Caminho)
. Em diálogo com Jorge Luis Borges, I e II (Circulo de Leitores) (que li há meia duzia de anos quando andava a descobrir o argentino)
. Tertúlia de Mentirosos, contos filosóficos do mundo inteiro (Jean-Claude Carrièrre, Tinta da China) (que ofereci também há vários anos, e agora encontrei a 4,99 na livraria Oficina do Livro de Alcochete)
PS: Não propriamente para o WC, mas também a 4,99, estava o V de Thomas Pynchon que, por já me andar a piscar o olho há muito tempo, vai ter entrada directa para o top de livros a ler em breve
. Os vários Senhores do Gonçalo M. Tavares (Caminho)
. Em diálogo com Jorge Luis Borges, I e II (Circulo de Leitores) (que li há meia duzia de anos quando andava a descobrir o argentino)
. Tertúlia de Mentirosos, contos filosóficos do mundo inteiro (Jean-Claude Carrièrre, Tinta da China) (que ofereci também há vários anos, e agora encontrei a 4,99 na livraria Oficina do Livro de Alcochete)
PS: Não propriamente para o WC, mas também a 4,99, estava o V de Thomas Pynchon que, por já me andar a piscar o olho há muito tempo, vai ter entrada directa para o top de livros a ler em breve
terça-feira, julho 29, 2008
The National, CCVF, 18 Julho
Uma banda cujos últimos 2 ou 3 álbuns são não só muito bons mas uniformemente bons arrisca-se a dar um concerto em que o público conhece todas as músicas e se sente em casa. Em casa, numa noite de calor e lua cheia nos jardins do Centro Cultural Vila Flor.
"We've been playing in so many ugly places this summer. Obrigado very much."
PS: Após esta breve interrupção vou voltar ali para trás e continuar a vergastar-me por não ter ido ver o Cohen.
"We've been playing in so many ugly places this summer. Obrigado very much."
PS: Após esta breve interrupção vou voltar ali para trás e continuar a vergastar-me por não ter ido ver o Cohen.
Conhecimento de causa
Alberto João Jardim, anteontem em Chão da Lagoa: "[José Socrates] faz o que há de menos ético num Estado democrático, usou o Estado para fazer combate politico".
Bem, ninguém pode acusar o senhor de falar de coisas que não conhece.
Bem, ninguém pode acusar o senhor de falar de coisas que não conhece.
Já foram
Uma das vantagens de ter um blog raramente actualizado e ainda menos lido é que se pode ir de férias e voltar, e nem se nota.
quinta-feira, junho 12, 2008
Pormenor idiota (ou será palerma?)
Ontem a TSF anunciava que tinha acabado terminado a reunião o encontro com a Antram, com sucesso êxito, mas que o comunicado final ainda não tinha sido emitido porque as partes não se entendiam. A Antram queria dizer que houve um "acordo", mas o Ministro pretendia desejava que fosse referido mencionado que houve um "entendimento".
Não tenho vistos as notícias, e nem me apercebi que o Ricardo Araújo Pereira já tomou posse como Ministro dos Obras Públicas. Parabéns ao rapaz, sempre achei que ele tinha valor.
Não tenho vistos as notícias, e nem me apercebi que o Ricardo Araújo Pereira já tomou posse como Ministro dos Obras Públicas. Parabéns ao rapaz, sempre achei que ele tinha valor.
E as contas, carago?
Duas vitórias em dois jogos, e ficou logo arrumada a classificação para os quartos-de-final. Desta vez, não vamos ter aquilo porque todos ansiamos: as contas. Que piada tem um Europeu em que não vamos para a última jornada a pensar que ainda é possível, mas só se a Croácia perder por 3 e nós vencermos por 5, com todos os golos ao pé-coxinho?
Se não dermos pelo menos um murro no árbitro até ao final não vejo mais futebol.
Se não dermos pelo menos um murro no árbitro até ao final não vejo mais futebol.
sexta-feira, junho 06, 2008
Citizen Plainview
I hate most people. There are times when I look at people and I see nothing worth liking. [...] I want to earn enough money I can get away from everyone. I can't keep doing this on my own, with these.. people..
(There Will Be Blood)
(There Will Be Blood)
segunda-feira, maio 26, 2008
Tradições
Não somos tantos como isso, mas somos bons e apostados em manter vivas as ancestrais tradições deste país. Parabéns, portanto, aos 5168 portugueses que hoje às 11 da noite estavam no site das finanças a preencher o IRS.
quarta-feira, maio 21, 2008
Mistérios
Ontem noticiava-se que, agora que a lei não permite cobrar o aluguer dos contadores de água, as autarquias vão, numa atitude típica do país-que-temos, passar a aplicar uma "taxa de disponibilidade".
No editorial do Público de ontem, José Manuel Fernandes dizia que "é imcompreensível que [...] se tenha aprovado na Assembleia da República uma lei [para] abolir a chamada taxa do contador". Acrescentava que "não cabe na cabeça de ninguém que viva com os pés assentes na terra que a forma correcta de optimizar os consumos de água seja abolir uma taxa que fazia parte do preço final pago pelos consumidores".
São os pequenos mistérios da vida que a fazem bela. Por exemplo, é um pequeno mistério como é que alguém, depois de ter meditado sobre o assunto, acha que uma taxa fixa (= não dependente do consumo) é um bom método para manter os consumos baixos. É um mistério um pouco maior como é que esse alguém pode chegar a director de um grande jornal.
No editorial do Público de ontem, José Manuel Fernandes dizia que "é imcompreensível que [...] se tenha aprovado na Assembleia da República uma lei [para] abolir a chamada taxa do contador". Acrescentava que "não cabe na cabeça de ninguém que viva com os pés assentes na terra que a forma correcta de optimizar os consumos de água seja abolir uma taxa que fazia parte do preço final pago pelos consumidores".
São os pequenos mistérios da vida que a fazem bela. Por exemplo, é um pequeno mistério como é que alguém, depois de ter meditado sobre o assunto, acha que uma taxa fixa (= não dependente do consumo) é um bom método para manter os consumos baixos. É um mistério um pouco maior como é que esse alguém pode chegar a director de um grande jornal.
quarta-feira, maio 14, 2008
Parábola do Jorge 2
E se, afinal, escondido no auto-rádio que teve de devolver, o Jorge tivesse ficado também sem um bilhete de viagem pela Europa?
E se alguns até já soubessem disso, mas tivessem tido o cuidado de não avisar o Jorge que o bilhete estava lá dentro até ser tarde demais para recuperar o auto-rádio?
E se, por uma vez, o Chico-esperto provasse do próprio veneno?
E se alguns até já soubessem disso, mas tivessem tido o cuidado de não avisar o Jorge que o bilhete estava lá dentro até ser tarde demais para recuperar o auto-rádio?
E se, por uma vez, o Chico-esperto provasse do próprio veneno?
domingo, maio 11, 2008
Parábola do Jorge
O Jorge tinha sempre mais dinheiro do que o resto do pessoal lá do bairro. Nunca explicou como obtinha esse dinheiro, mas toda a gente sabia que ele roubava auto-rádios: dezenas de moradores já se tinham queixado dos roubos, mas nunca tinha sido apanhado.
Um dia, finalmente, alguém mostrou uma filmagem com meia dúzia de anos onde se via o Jorge a roubar um auto-rádio. Agora sim ia-se fazer justiça, pensaram alguns mais ingénuos; finalmente havia uma prova de todos os roubos que andou a fazer durante anos. A decisão da "justiça" conseguiu surpreender: o Jorge foi apenas condenado a devolver o auto-rádio que roubou naquele dia, que ainda tinha lá guardado e que já nem funcionava. De resto, tudo continuou como dantes.
"Nem tudo foi em vão", pensou o pessoal lá do bairro, que era muito bom a perceber parábolas. "Pelo menos agora não vamos ter de ouvir os portistas a dizer que nunca se provou nada".
Um dia, finalmente, alguém mostrou uma filmagem com meia dúzia de anos onde se via o Jorge a roubar um auto-rádio. Agora sim ia-se fazer justiça, pensaram alguns mais ingénuos; finalmente havia uma prova de todos os roubos que andou a fazer durante anos. A decisão da "justiça" conseguiu surpreender: o Jorge foi apenas condenado a devolver o auto-rádio que roubou naquele dia, que ainda tinha lá guardado e que já nem funcionava. De resto, tudo continuou como dantes.
"Nem tudo foi em vão", pensou o pessoal lá do bairro, que era muito bom a perceber parábolas. "Pelo menos agora não vamos ter de ouvir os portistas a dizer que nunca se provou nada".
sábado, maio 10, 2008
Diamanda Galás
Diamanda três-oitavas-e-meia Galás veio ontem à noite visitar a nossa campa, no seu longo véu negro.
A senhora não fala entre músicas, num concerto rápido (pouco mais de uma hora, incluindo 2 encores de uma música), por isso o espectáculo é "só" aquilo que já se conhece: a voz de Maria Callas numa Piaf que caiu em pequena num caldeirão de ácidos (twenty five minutes to go); é cabaret; é Kurt Weil (and twelve more minutes to go); é Johnny Cash irreconhecível na sua fantasia de noite de Halloween (and five more minutes to go); são os gritos a ecoar na sala, ou não serão gritos porque grito é palavra demasiado suave para o descrever, bem, são gritos à falta de melhor alternativa, são gritos, portanto, a ecoar, rodopiar na sala, ferem, massacram, intermináveis, insuportáveis (and here I go...).
(Theatro Circo, Braga, 2008-05-06)
A senhora não fala entre músicas, num concerto rápido (pouco mais de uma hora, incluindo 2 encores de uma música), por isso o espectáculo é "só" aquilo que já se conhece: a voz de Maria Callas numa Piaf que caiu em pequena num caldeirão de ácidos (twenty five minutes to go); é cabaret; é Kurt Weil (and twelve more minutes to go); é Johnny Cash irreconhecível na sua fantasia de noite de Halloween (and five more minutes to go); são os gritos a ecoar na sala, ou não serão gritos porque grito é palavra demasiado suave para o descrever, bem, são gritos à falta de melhor alternativa, são gritos, portanto, a ecoar, rodopiar na sala, ferem, massacram, intermináveis, insuportáveis (and here I go...).
(Theatro Circo, Braga, 2008-05-06)
segunda-feira, maio 05, 2008
Já é matemático!
Não se vê muita gente na rua a festejar (os portugueses nunca foram muito bons a fazer contas), mas a verdade é que, com o empate a valer 3 pontos, e depois de mais um excelente resultado hoje, o Glorioso já é matematicamente campeão.
Eis a primeira metade da tabela:
Eis a primeira metade da tabela:
Vitórias | Empates | Derrotas | Pontos | |
Benfica | 12 | 13 | 4 | 63 |
Setúbal | 11 | 12 | 6 | 58 |
Porto | 23 | 3 | 3 | 55 |
Académica | 6 | 14 | 9 | 54 |
Guimarães | 14 | 8 | 7 | 52 |
Belenenses | 11 | 10 | 8 | 52 |
Boavista | 8 | 12 | 9 | 52 |
Sporting | 15 | 7 | 7 | 51 |
quinta-feira, abril 24, 2008
Nick
We make a little history every time you come around.
Obri-fucking-gado.
(Nick Cave and the Bad Seeds, Coliseu do Porto, 2008-04-22)
PS: Roam-se, lisboetas: o homem não cantou o Into my arms no Porto...
Obri-fucking-gado.
(Nick Cave and the Bad Seeds, Coliseu do Porto, 2008-04-22)
PS: Roam-se, lisboetas: o homem não cantou o Into my arms no Porto...
terça-feira, abril 22, 2008
Roubo
Porque a Justiça portuguesa não se desenrasca, decidi investigar sozinho, e descobri mais uma prova de que as classificações de futebol neste país são cozinhadas na secretaria.
Há anos decidiu-se mudar a vitória para 3 pontos. Com esta alteração a classificação está absurdamente desfasada do que milhões de portugueses desejariam, com prejuízos graves para o moral do país:
Ao alterar a vitória para 3 pontos, está-se a favorecer as equipas que ganham mais, o que me parece escandaloso e uma medida descarada para prejudicar o Benfica.
A título de exemplo, eis qual seria a classificação se, em vez de alterarem a vitória, tivessem alterado o empate para 3 pontos:
Há anos decidiu-se mudar a vitória para 3 pontos. Com esta alteração a classificação está absurdamente desfasada do que milhões de portugueses desejariam, com prejuízos graves para o moral do país:
Vitórias | Empates | Derrotas | Pontos | |
Porto | 22 | 3 | 2 | 69 |
Guimarães | 14 | 7 | 6 | 49 |
Sporting | 13 | 7 | 7 | 46 |
Benfica | 11 | 12 | 4 | 45 |
Belenenses | 11 | 9 | 7 | 42 |
Setúbal | 10 | 11 | 6 | 41 |
Maritimo | 12 | 4 | 11 | 40 |
Boavista | 8 | 11 | 8 | 35 |
Braga | 8 | 10 | 9 | 34 |
Nacional | 8 | 8 | 11 | 32 |
Estrela | 6 | 11 | 10 | 29 |
Académica | 5 | 13 | 9 | 28 |
Naval | 7 | 6 | 14 | 27 |
P. Ferreira | 6 | 6 | 15 | 24 |
Leixões | 3 | 14 | 10 | 23 |
Leiria | 3 | 6 | 18 | 15 |
Ao alterar a vitória para 3 pontos, está-se a favorecer as equipas que ganham mais, o que me parece escandaloso e uma medida descarada para prejudicar o Benfica.
A título de exemplo, eis qual seria a classificação se, em vez de alterarem a vitória, tivessem alterado o empate para 3 pontos:
Vitórias | Empates | Derrotas | Pontos | |
Benfica | 11 | 12 | 4 | 58 |
Porto | 22 | 3 | 2 | 53 |
Setúbal | 10 | 11 | 6 | 53 |
Guimarães | 14 | 7 | 6 | 49 |
Belenenses | 11 | 9 | 7 | 49 |
Boavista | 8 | 11 | 8 | 49 |
Académica | 5 | 13 | 9 | 49 |
Leixões | 3 | 14 | 10 | 48 |
Sporting | 13 | 7 | 7 | 47 |
Braga | 8 | 10 | 9 | 46 |
Estrela | 6 | 11 | 10 | 45 |
Nacional | 8 | 8 | 11 | 40 |
Maritimo | 12 | 4 | 11 | 36 |
Naval | 7 | 6 | 14 | 32 |
P. Ferreira | 6 | 6 | 15 | 30 |
Leiria | 3 | 6 | 18 | 24 |
quarta-feira, abril 16, 2008
A arte, a vida e os escafandros
Um ano e meio depois voltei a entrar numa sala de cinema. A ausência foi forçada, ainda que pelo melhor motivo possível.
O regresso calhou ser com O escafandro e a borboleta. O filme é inspirado em factos reais (a arte imita a vida): Jean-Dominique Bauby, jornalista e editor da Elle francesa, sofre um AVC e, paralisado, passa a poder comunicar apenas através do seu olho esquerdo. É a história de alguém que, recorrendo à imaginação, se tenta libertar do escafandro onde o prenderam (o seu próprio corpo). Se a história do Daniel Day-Lewis parecia difícil, imagine-se com um olho em vez de com um pé.
Antes do acidente o jornalista tinha já assinado contrato para um livro, que seria uma recriação (a arte imita a arte) do Conde de Monte Cristo, mas com uma vingadora feminina no século XXI. Acontece que Deus, já se sabe, é um brincalhão com um sentido de humor bastante perverso, e decide transformar o pobre do Jean-Do numa versão século XXI do velho Noirtier, o pai do Villefort do romance de Dumas (a vida imita a arte, para fechar o ciclo). Noirtier é conhecido por ser a primeira referência literária do locked-in syndrome, o mesmo de que sofre Bauby (ler o capítulo 59 do Conde de Monte Cristo para mais informações).
O filme é arte. São os planos perfeitos encontrados por Julian Schnabel para nos dar a ver o que vê quem pode apenas ver; não será possível sabermos o que é coserem o nosso próprio olho sem que nos cosam o nosso próprio olho, mas o filme coloca-nos lá perto. São as boas interpretações das várias (belas) mulheres da vida de Bauby e de Max von Sydow, que aparece pouco mas é muito bom no pior papel que a vida nos pode reservar: perder um filho. E é, já agora, o Tom Waits na banda sonora.
O filme é vida. É a desgraça, mas sem apelar ao sentimentalismo. É o humor (negro) de Bauby, ao mesmo tempo que momentos como o Chaque jour je t'attends nos impedem de o idealizar, porque cá fora os desgraçados e os coitadinhos podem ser, como toda a gente, bons ou maus, sensíveis ou insensíveis, gajos porreiros ou filhos da puta. Ou, na verdade, nem um nem outro mas ambos. Como toda a gente.
O regresso calhou ser com O escafandro e a borboleta. O filme é inspirado em factos reais (a arte imita a vida): Jean-Dominique Bauby, jornalista e editor da Elle francesa, sofre um AVC e, paralisado, passa a poder comunicar apenas através do seu olho esquerdo. É a história de alguém que, recorrendo à imaginação, se tenta libertar do escafandro onde o prenderam (o seu próprio corpo). Se a história do Daniel Day-Lewis parecia difícil, imagine-se com um olho em vez de com um pé.
Antes do acidente o jornalista tinha já assinado contrato para um livro, que seria uma recriação (a arte imita a arte) do Conde de Monte Cristo, mas com uma vingadora feminina no século XXI. Acontece que Deus, já se sabe, é um brincalhão com um sentido de humor bastante perverso, e decide transformar o pobre do Jean-Do numa versão século XXI do velho Noirtier, o pai do Villefort do romance de Dumas (a vida imita a arte, para fechar o ciclo). Noirtier é conhecido por ser a primeira referência literária do locked-in syndrome, o mesmo de que sofre Bauby (ler o capítulo 59 do Conde de Monte Cristo para mais informações).
O filme é arte. São os planos perfeitos encontrados por Julian Schnabel para nos dar a ver o que vê quem pode apenas ver; não será possível sabermos o que é coserem o nosso próprio olho sem que nos cosam o nosso próprio olho, mas o filme coloca-nos lá perto. São as boas interpretações das várias (belas) mulheres da vida de Bauby e de Max von Sydow, que aparece pouco mas é muito bom no pior papel que a vida nos pode reservar: perder um filho. E é, já agora, o Tom Waits na banda sonora.
O filme é vida. É a desgraça, mas sem apelar ao sentimentalismo. É o humor (negro) de Bauby, ao mesmo tempo que momentos como o Chaque jour je t'attends nos impedem de o idealizar, porque cá fora os desgraçados e os coitadinhos podem ser, como toda a gente, bons ou maus, sensíveis ou insensíveis, gajos porreiros ou filhos da puta. Ou, na verdade, nem um nem outro mas ambos. Como toda a gente.
quarta-feira, abril 09, 2008
Anúncio de boicote
Este blog é peremptoriamente (mas nunca perentoriamente) contra o Acordo Ortográfico, e promete utilizar pelo menos uma consoante muda por post.
quarta-feira, abril 02, 2008
Eu errei
Comentei com amigos que até percebia que este fim-de-semana tivessem assinalado um penalty inexistente contra o Benfica (afinal, o Guimarães está com os mesmos pontos), mas que inventar outro a favor do FCP (para dar a vitória 4 minutos depois da hora) me parecia desnecessário, agora que estão 16 pontos à frente e são quase matematicamente campeões. Sempre reconheci razoabilidade ao FCP e, por uma questão de equilíbrio, até costumam ser prejudicados quando já vencem por 3-0 ou já são campeões. Parecia-me por isso estranho este excesso de zelo.
Eis senão quando, poucos dias depois, saem notícias de que o FCP pode vir a perder 6 pontos já esta época devido ao Apito Dourado. O tal penalty passa de repente a fazer sentido e, sendo assim, venho por este meio retratar-me por, na minha ignorância, ter alguma vez colocado em causa os sempre acertados critérios da instituição FCP e dos seus dirigentes.
Eis senão quando, poucos dias depois, saem notícias de que o FCP pode vir a perder 6 pontos já esta época devido ao Apito Dourado. O tal penalty passa de repente a fazer sentido e, sendo assim, venho por este meio retratar-me por, na minha ignorância, ter alguma vez colocado em causa os sempre acertados critérios da instituição FCP e dos seus dirigentes.
domingo, março 23, 2008
No tempo das azeitonas...
Grande polémica anda aí por causa de um vídeo que mostra indisciplina numa sala de aula. "No meu tempo não era nada disto", vão dizendo as pessoas. E é verdade, as coisas são realmente muito diferentes do que eram no meu tempo: na altura não havia telemóveis, e muito menos com possibilidade de filmar...
sexta-feira, março 21, 2008
Foi azar
Ontem na Grande Entrevista a Judite de Sousa entrevistava o Prof. Luis Martins, presidente da Sociedade Portuguesa de Hipertensão. O médico explicava-lhe qualquer coisa como os nossos genes terem evoluído há milhões de anos, quando a comida não abundava, e por isso termos tendência para acumularmos gorduras sempre que possível, para compensar períodos de falta de comida, e daí os problemas actuais de obesidade.
Judite de Sousa foi concordando, acrescentando ainda que o primeiro homem surgiu na África Oriental, o que "também pode explicar muita coisa".
Brilhante, claro, esta observação da Judite. Tudo se deve ao facto de o primeiro homem ter surgido em África onde, como se sabe, sempre houve falta de comida, até por causa das guerras do petróleo e dos diamantes. Se, ao contrário, há milhões de anos, o primeiro homem tivesse surgido não em África mas num arranha-céus em Manhattan hoje não haveria problemas de obesidade e hipertensão.
Foi azar, carago.
Judite de Sousa foi concordando, acrescentando ainda que o primeiro homem surgiu na África Oriental, o que "também pode explicar muita coisa".
Brilhante, claro, esta observação da Judite. Tudo se deve ao facto de o primeiro homem ter surgido em África onde, como se sabe, sempre houve falta de comida, até por causa das guerras do petróleo e dos diamantes. Se, ao contrário, há milhões de anos, o primeiro homem tivesse surgido não em África mas num arranha-céus em Manhattan hoje não haveria problemas de obesidade e hipertensão.
Foi azar, carago.
domingo, março 09, 2008
Já fomos
Ontem, numa lengendagem da TVI, apareceu um "Eskece". É oficial, portanto: a geração K já tomou conta desta merda. Ou talvez tenha tomando konta, não sei.
sexta-feira, março 07, 2008
Demolindo novos prédios
Desde que o Blixa abandonou os Bad Seeds, o Nick voltou a gritar, primeiro como Grinderman e agora com o Dig, Lazarus, Dig. Seria o Blixa o culpado pelo lá-lá-lá lá-lá-lá?
quinta-feira, março 06, 2008
Dicotomias
Existem dois tipos de pessoas: aquelas que lêem o Todo-o-Mundo de Roth e decidem fazer alguma coisa da vida antes que o seu próprio corpo as traia, e aquelas que entram em depressão profunda.
Ainda não tomei a decisão final, mas tudo indica que me vou juntar ao segundo grupo.
Ainda não tomei a decisão final, mas tudo indica que me vou juntar ao segundo grupo.
quinta-feira, fevereiro 28, 2008
Festival para Gente Sentada 2008
A segunda noite do 4º Festival para Gente Sentada começou com o talentoso Norberto Lobo. O homem é bom, mesmo muito bom, disso não deve ter ficado dúvidas a ninguém (mesmo aqueles, como eu, que de guitarra acústica não percebem nada). No entanto, como já tinha comentado no concerto dos Dead Combo a ausência de um vocalista sente-se, o que faz com que acabem por apenas resultar em primeiras partes, curtas. Pode ser injusto, mas a música do século XX habituou-nos assim. Foi, de resto, o que tivemos nessa noite (bem, aqui, a organização): um espectáculo curto que deixou o público com vontade de mais.
Joe Henry deveria ter sido o senhor seguinte, mas soube-se de véspera que estaria ausente, por doença. Havia quem o considerasse o verdadeiro cabeça de cartaz, mas pelo (pouco) que conheço nem esperava muito dele em palco. A notícia da sua ausência deverá ter feito muita gente lembrar-se do último FpGS, em que Emiliana Torrini (também teria sido a senhora do meio, também no segundo dia) faltou devido a gripe (sem substituição ou qualquer tipo de reembolso). Coincidências infelizes a que os responsáveis do festival certamente serão alheios, mas a verdade é que estas coisas podem afectar o nome do evento. Desta vez, no entanto, a notícia soube-se com um pouco mais de antecedência, o que permitiu à organização arranjar um substituto.
Entretanto, alguém atrás de mim perguntava, no final do Norberto, se aquele tinha sido o JP Simões; alguém lhe explicou que não, que "esse canta, em brasileiro mas canta". O substituto de Joe Henry foi mesmo, já se sabia, JP Simões, e quem melhor para um festival cujo público-alvo passa muito pelos da geração de 70 que podem ter casado ou mudado mas certamente não morreram nem desapareceram. O JêPê foi pedindo desculpas por estar ali à socapa, a tocar com uma guitarra (de Celeirós!) encontrada à última hora, e por, depois do Norberto, parecer um amador. Esteve muito bem, com o seu ar de não-decidi-ainda-se-gosto-de-estar-em-palco-ou-se-me-apetece-meter-num-buraco-porque-sou-tímido-demais a que já nos habituou. Ou quase esteve muito bem: faltou-lhe o "Se por acaso", e isso não lhe perdoo.
A festa estava reservada para o final, com o rockabilly de Richard Hawley. Aparentemente as pessoas só conheciam o The Ocean (passava na Antena 3?): quando, por exemplo, gritou "And now Tonight the streets are ours", parecia estar à espera de assobios e aplausos que não vieram. De vez em quando saía-se com um "This crowd is great" que me soava sempre irónico, e notava-se a desilução por aquilo ser um festival de gente (bem) sentada (a culpa não é dele: se esta gente não se levanta com o Serious, não se levanta com nada). Realmente, se fechássemos os olhos imaginaríamos mais facilmente, em vez de trintões sentados de braços cruzados, um baile algures nos fifties de meninas com vestidos às flores a dançar com rapazes borbulhentos de sapatos engraxados, gel no cabelo, e a estalar os dedos. Richard Hawley não é a música que ouço todos os dias, mas algumas músicas já guardei, junto ao "Fim do Mundo", para quando preciso mesmo de ficar bem disposto logo pela manhã.
Não pude ir na Sexta-feira desta vez, e tive pena. De resto a mesma frase dos últimos anos: esta não foi certamente a melhor edição de sempre, mas o festival continua vivo e recomenda-se.
PS: Não há concerto a que eu vá aqui pela zona (Teatro Circo, Casa das Artes, Casa da Música, Feira) que não esteja a mesma miúda de tranças (que não conheço) sentada no lugar central da 1ª fila. Este Sábado ela não estava lá. Desejo-lhe as melhoras.
Joe Henry deveria ter sido o senhor seguinte, mas soube-se de véspera que estaria ausente, por doença. Havia quem o considerasse o verdadeiro cabeça de cartaz, mas pelo (pouco) que conheço nem esperava muito dele em palco. A notícia da sua ausência deverá ter feito muita gente lembrar-se do último FpGS, em que Emiliana Torrini (também teria sido a senhora do meio, também no segundo dia) faltou devido a gripe (sem substituição ou qualquer tipo de reembolso). Coincidências infelizes a que os responsáveis do festival certamente serão alheios, mas a verdade é que estas coisas podem afectar o nome do evento. Desta vez, no entanto, a notícia soube-se com um pouco mais de antecedência, o que permitiu à organização arranjar um substituto.
Entretanto, alguém atrás de mim perguntava, no final do Norberto, se aquele tinha sido o JP Simões; alguém lhe explicou que não, que "esse canta, em brasileiro mas canta". O substituto de Joe Henry foi mesmo, já se sabia, JP Simões, e quem melhor para um festival cujo público-alvo passa muito pelos da geração de 70 que podem ter casado ou mudado mas certamente não morreram nem desapareceram. O JêPê foi pedindo desculpas por estar ali à socapa, a tocar com uma guitarra (de Celeirós!) encontrada à última hora, e por, depois do Norberto, parecer um amador. Esteve muito bem, com o seu ar de não-decidi-ainda-se-gosto-de-estar-em-palco-ou-se-me-apetece-meter-num-buraco-porque-sou-tímido-demais a que já nos habituou. Ou quase esteve muito bem: faltou-lhe o "Se por acaso", e isso não lhe perdoo.
A festa estava reservada para o final, com o rockabilly de Richard Hawley. Aparentemente as pessoas só conheciam o The Ocean (passava na Antena 3?): quando, por exemplo, gritou "And now Tonight the streets are ours", parecia estar à espera de assobios e aplausos que não vieram. De vez em quando saía-se com um "This crowd is great" que me soava sempre irónico, e notava-se a desilução por aquilo ser um festival de gente (bem) sentada (a culpa não é dele: se esta gente não se levanta com o Serious, não se levanta com nada). Realmente, se fechássemos os olhos imaginaríamos mais facilmente, em vez de trintões sentados de braços cruzados, um baile algures nos fifties de meninas com vestidos às flores a dançar com rapazes borbulhentos de sapatos engraxados, gel no cabelo, e a estalar os dedos. Richard Hawley não é a música que ouço todos os dias, mas algumas músicas já guardei, junto ao "Fim do Mundo", para quando preciso mesmo de ficar bem disposto logo pela manhã.
Não pude ir na Sexta-feira desta vez, e tive pena. De resto a mesma frase dos últimos anos: esta não foi certamente a melhor edição de sempre, mas o festival continua vivo e recomenda-se.
PS: Não há concerto a que eu vá aqui pela zona (Teatro Circo, Casa das Artes, Casa da Música, Feira) que não esteja a mesma miúda de tranças (que não conheço) sentada no lugar central da 1ª fila. Este Sábado ela não estava lá. Desejo-lhe as melhoras.
domingo, fevereiro 17, 2008
O menino Nicolau
Indeciso quanto ao FGS, vou ficar desta vez apenas pelo Sábado: Richard Hawley sim, portanto, mas nada de Nina Nastasia.
Entretanto, o homem do bigode, em Abril, já não escapa.
Entretanto, o homem do bigode, em Abril, já não escapa.
sábado, fevereiro 09, 2008
Crescimento económico, educação e ética
Na altura a notícia escapou-me, mas agora, via o Luís Aguiar-Conraria (que cita o Fernando Alexandre), fico a saber que, enquanto há uns anos nos receberam (e aos restantes europeus) com uma entrevista para um canal de televisão, hoje talvez não me deixassem entrar na Universidade de Helsinquia.
(entretanto, recomenda-se seguir os links para o artigo completo)
Um exemplo destas diferenças entre Portugal e a Finlândia ficou evidente há cerca de dois anos quando um aluno de uma universidade portuguesa a frequentar o Programa Erasmus, foi expulso da Universidade de Helsínquia por ter desrespeitado as regras de conduta num exame: foi apanhado a copiar. A posição da universidade finlandesa, na altura, foi muito clara: cortou relações institucionais com aquela Universidade portuguesa. O aluno, que teve um comportamento reprovável e prejudicial para os colegas (que deixaram de ser recebidos na Finlândia), não foi expulso da Universidade portuguesa em que se encontrava matriculado.
Esta não é uma diferença de somenos entre os sistemas de ensino dos dois países.
(entretanto, recomenda-se seguir os links para o artigo completo)
Um exemplo destas diferenças entre Portugal e a Finlândia ficou evidente há cerca de dois anos quando um aluno de uma universidade portuguesa a frequentar o Programa Erasmus, foi expulso da Universidade de Helsínquia por ter desrespeitado as regras de conduta num exame: foi apanhado a copiar. A posição da universidade finlandesa, na altura, foi muito clara: cortou relações institucionais com aquela Universidade portuguesa. O aluno, que teve um comportamento reprovável e prejudicial para os colegas (que deixaram de ser recebidos na Finlândia), não foi expulso da Universidade portuguesa em que se encontrava matriculado.
Esta não é uma diferença de somenos entre os sistemas de ensino dos dois países.
segunda-feira, fevereiro 04, 2008
Festival para Gente Sentada
Houve desta vez um ano e meio para prepará-lo. Teve várias datas, anunciou-se que passava a 3 dias, depois voltou a apenas 2. Fomos esperando, mas acho que desta vez o FpGS desilude. É já daqui a 15 dias, e estou a ponderar se é desta que deixo de ser totalista; o ter dois nomes portugueses, por exemplo, e sem desprimor, parece-me mais recurso do que opção (em edições anteriores, do que me lembro, o Francisco "Old Jerusalem" tinha sido a única presença nacional). O dia 23 é capaz de ser o melhor; como exemplo, eis Richard Hawley e o scottwalkeriano Tonight the streets are ours.
22 Fev: Nina Nastasia, Terry Lee Hale, Sean Riley
23 Fev: Richard Hawley, Joe Henry, Norberto Lobo
22 Fev: Nina Nastasia, Terry Lee Hale, Sean Riley
23 Fev: Richard Hawley, Joe Henry, Norberto Lobo
domingo, janeiro 20, 2008
Sol
A semana passada o Sol anunciava na capa a última entrevista de Luiz Pacheco, e não resisti a comprá-lo. Comprovei 2 coisas que já sabia:
1) O Luiz Pacheco é da mesma escola da minha avó: de cada vez que conta uma história ou multiplica o que contou da última vez, ou contradiz e desmente a última versão. Encontrar a verdade no meio de uma entrevista daquelas é mais difícil que encontrar o Wally.
2) O Sol é muito fraco.
1) O Luiz Pacheco é da mesma escola da minha avó: de cada vez que conta uma história ou multiplica o que contou da última vez, ou contradiz e desmente a última versão. Encontrar a verdade no meio de uma entrevista daquelas é mais difícil que encontrar o Wally.
2) O Sol é muito fraco.
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