quinta-feira, dezembro 28, 2006

Da Liberdade de Pensamento

David Irving, o historiador que negou o Holocausto, foi libertado a semana passada após cumprir 13 meses de pena. Aparentemente a lei de vários países da Europa Central (ainda?) proíbe a negação do Holocausto.
E pensar que o coitado do John Stuart escreveu o seu livrito há já século e meio, e ninguém lhe liga nenhuma. A estes senhores legisladores recomendo o capítulo dois.

Todos diferentes, todos iguais

A violação da privacidade do dirigente portista é decerto injustificável e obscena e os factos de índole criminal relatados deveriam ter sido comunicados à polícia e não matéria de best-seller. Salgado não está no entanto só na exposição da intimidade alheia. Outros livros, como o de Maria Filomena Mónica, se aventuram por esse território sem provocar o mesmo tipo de nojo público. É que Carolina é uma "ex-alternadeira", não uma intelectual com cachet. No entanto, descontado o estilo de escrita, que diferença há entre contar episódios sexuais ocorridos com várias pessoas vivas, citando-as pelo nome, sob pretexto de "memórias", e o que fez Carolina?
Fernanda Câncio, DN 15.12.2006

quarta-feira, dezembro 27, 2006

Eternas insatisfeitas

Se fosse preciso mais uma prova de que as mulheres nunca estão contentes ela aí está. A Sra Angelina conseguiu levar para casa o homem por quem todas as mulheres suspiram. Ficou satisfeita? Não. Andou, está à vista de todos, a divertir-se com um chinês, um negro e um nórdico. E o pobre do homem, aparentemente, nem desconfia.

Seguradoras

Seria engraçado se não fosse ridículo. Uma seguradora cobrou-me duas vezes o mesmo prémio, apesar de eu os ter avisado com antecedência que tinha recebido duas facturas iguais. A semana passada, passados seis meses, recebi finalmente o valor de volta; isto, claro, muitos telefonemas e muitos e-mails depois. Nem um "Pedimos desculpa por este erro estúpido" nem um "O funcionário responsável será severamente fustigado". Nada. Apenas a transferência do valor, ainda por cima com um cêntimo a menos (vá-se lá percebê-los).
Agora, qual cereja em cima do bolo, recebo uma carta que explica: "A Axa Portugal, num processo contínuo de melhoria do serviço prestado ao cliente, encontrou uma vez mais uma forma de o servir melhor. Assim, creditámos o valor deste aviso directamente na sua Conta Bancária."
Seis meses depois, por um erro deles, e com um cêntimo a menos. Nem quero pensar como seria o serviço antes da melhoria.

quinta-feira, dezembro 21, 2006

Trimestre Natalício

Ainda me lembro de quando o Natal durava uma noite, eventualmente mais a Roupa Velha no dia seguinte. Uma noite a confraternizar com família que não tínhamos visto durante todo o ano, que servia para nos lembrar porque é que realmente não os víamos durante o resto o ano.
Agora que o novo Deus (não o do Vaticano mas o da Reserva Federal) substituiu o menino nas palhinhas, o Natal dura um trimestre. Ainda por cima, as lojas dos trezentos tornaram cada prédio uma espécie de Picadilly Circus, mas com mais luzes e mais Pais Natais a subir as varandas. Quando era criança se desenhava um prédio pintava-o de cinzento; as crianças de agora, imagino, devem pintá-los de vermelho, verde, amarelo, tudo coberto de luzinhas irritantes.
Este governo descredibilizou os restaurante chineses; não podem por favor fazer o mesmo às lojas de chineses para ver se os prédios deixam de piscar?

terça-feira, dezembro 19, 2006

The Departed

Não escrevi aqui nada sobre The Departed, mas também não sei bem o que escrever. Apenas que será certamente um clássico dos noughties (ou lá como vamos chamar a esta década).

Micah

Mais um imperdível, mais um que vou perder. Micah Paul "Running Out of Patience" Hinson, Teatro Circo, Braga, 25 de Janeiro. Ah, e no dia anterior em Lisboa.

segunda-feira, dezembro 11, 2006

Auto, boulot, dodo

Não deixa de ser elogioso que os franceses tenham inventado uma expressão propositadamente para descrever a minha vida.

Audiolivros

O Codex 632, de José Rodrigues dos Santos, foi editado em audiolivro(parece que é assim o termo em português), o que me parece uma excelente notícia: não tanto pelo Codex em si (experimentei ler meia dúzia de páginas e não passou no teste), mas pelo facto de poder ser sinal de que vai começar a haver oferta deste tipo de produtos, muito escassa em Portugal.
A mim sempre me pareceu uma óptima forma de suportar as filas de trânsito, e na geração IPod vai fazer cada vez mais sentido. Fico à espera então de mais títulos, e já agora a um preço mais reduzido que os 40 euros do Codex (já sei que são muitas horas de gravação, mas se aquilo tudo fosse vendido baratito em mp3 a geração IPod até poderia aderir...).

quinta-feira, dezembro 07, 2006

Maximilian

O Teatro Circo vai-nos mostrar durante 2007 o que se faz na música alemã, e em Fevereiro teremos a voz de veludo de Maximilian Hecker (se esta é realmente música alemã é discutível, mas isso é outro assunto). Valores mais altos se levantam e não poderei estar presente, mas será certamente um dos concertos a não perder no início do próximo ano.

E segue-se a UEFA...

O Senhor Sir veio a Alvalade e saiu daqui a dizer que tinha aprendido muito sobre a forma de jogar do Benfica e que não ia facilitar. Afinal a única coisa que aprendeu foi a estacionar o autocarro em frente à área, e quem assim joga arrisca-se a levar um golo mais tarde ou mais cedo. Infelizmente para o Benfica foi mais cedo com um grande golo de Nélson, e o Manchester viu-se obrigado a deitar fora tudo o que o Sir tinha aprendido e a balancear-se no ataque (o próprio Ferguson afirmou "Temos de agradecer o golo a Nélson", na conferência de imprensa). Jogando assim o Manchester provou que é realmente melhor que o Benfica: ao intervalo já tinha empatado, e na segunda parte marcou mais dois.
Naquele que foi o grupo mais equilibrado de todos (o último classificado terminou com 7 pontos), acabamos por ficar com a UEFA, apesar de o Celtic não me ter convencido que é superior ao Benfica. Em Copenhaga, onde muita gente dizia que tínhamos perdido pontos, fomos os únicos a pontuar. A diferença para o Celtic foi apenas o jogo em casa com o Manchester, onde o Celtic ganhou porque teve a sorte de marcar a apenas 10 minutos do fim; como ontem, o Manchester só reagiu quando se viu a perder, mas já era tarde demais (apesar de duas perdidas de Saha, uma delas de penalty).
As outras equipas portuguesas tiveram sorte diferentes: o grupo do Porto acabou por ser mais fácil do que parecia, em parte por mérito próprio e em parte pela má forma das várias equipas (o Arsenal está a uns 15 pontos do Manchester, o Hamburgo arrasta-se no fundo da tabela alemã, o CSKA estava em fim de época/de férias); o Sporting começou bem mas acabou apenas com 5 pontos, num grupo onde tinha obrigação de pelo menos conseguir a UEFA.
Resta-nos a taça UEFA, acompanhados, espera-se, do Braguinha.

sexta-feira, dezembro 01, 2006

A Ciência dos Intelectuais

Eduardo Prado Coelho escrevia no Público um destes dias que descobriu o Flatland, e aparentemente gostou. Não deixa de ser um bom sinal ouvi-lo dizer que o leu, mas o próprio facto de o vir dizer, aos 60 anos, admiradíssimo como quem descobre um grande segredo, mostra como ainda é verdade que os nossos intelectuais consideram que uma pessoa "culta" deve obviamente ser conhecedor de Literatura, Pintura, Teatro, mas deixam a Ciência de fora disto.
O que distingue um clássico dos restantes livros é que ninguém os está a ler. Ninguém vem dizer aos 60 anos que está a ler o Quixote ou o Em Busca do Tempo Perdido. Quando muito pode estar a reler, mas nunca ninguém vai admitir que nunca pegou, sei lá, no Memorial do Convento.
O Flatland é, é claro, um clássico, já centário. Parece que a A&A lançou uma nova edição, e daí ter chegado agora às mãos do EPC, mas a Gradiva já o tem na Ciência Aberta há mais de 10 anos e por isso não há desculpa. Eu, de minha parte, sou capaz de comprar a nova versão, para o juntar ao amarelado da Gradiva; para reler...

O Papa e a Turquia

Estes dias dos Papa na Turquia têm-me feito relembrar as férias de há dois anos: Ankara e o mausoléu de Ataturk, Éfeso, a casa de Nossa Senhora, Istambul, Mesquita Azul, Rainha Sofia.
Pena que ele não tenha comprado o pacote completo, com uma semana de praia, que também recomendo.

O Papa e a Mesquita

Dizem-me hoje no telejornal que o Papa cometeu o feito (extraordinário!) de entrar numa mesquita, no caso a Mesquita Azul em Istambul. Aparentemente foi apenas a segunda vez na história que um Papa entrou numa mesquita.
É realmente extraordinário: não o facto de o Papa entrar na mesquita, claro, mas o facto de nestes tempos ecuménicos, de aproximação entre religiões, e bla bla, ser apenas a segunda vez que tal acontece, e ainda hoje se considerar isso um grande passo...

Sentados, 3

A uma semana bastante cansativa juntou-se um princípio da gripe na sexta, e por isso as bandas em palco tinham um desafio ambicioso: manter-me acordado até à 1, 2 das manhã.
A noite começou com o piano de Stuart Robertson. Música que não foi feita para deslumbrar, mas que nos embalou para um óptimo início de noite. O público foi sendo conquistado com as tentativas, bastante bem sucedidas, de falar português com a ajuda de uns pequenos papéis em cima do piano: Esta música chama-se Green Bay, e é do novo álbum, lia, com um sotaque surpreendentemente perto do perfeito.
Os Fink foram os senhores que se seguem, e tenho de confessar que foram os que pior cumpriram o desafio que lhes propus: culpa toda minha, claro, da semana cansativa e da gripe, nenhuma deles. Ainda assim deu para perceber que sai dali folk de qualidade, a ouvir com mais atenção num futuro próximo, isto vindo de alguém que, dizem-me, (mas claro que não acredito) era anteriormente um dj de música electrónica.
A fechar a noite, o pop surrealista de Adam Green, com um espectáculo que quem lá esteve não vai esquecer. Adam Green era o que eu melhor conhecia antes do Festival, e foi para mim o melhor das duas noites. Começa por ironizar com o português, e a meio das músicas vai sacando de um guia de convesação, abre uma página à sorte, e saem-lhe frases como "Não arranque o dente" ou "Estou gravída" (sic). Ele garante que "This is fun, it's the first time I do this", mas a ideia que fica é que o seu método de escrever canções não andará muito longe disto. Sentado timidamente, com os pés a apontar para dentro, ia-nos encantando com as suas músicas, cada uma mais catchy que a outra. Logo desde cedo avisou que I like to do drugs, I like to have drugs, e é realmente o que se percebe quando se vê alguém a rir-se das próprias músicas: ou se ri agora do que escreveu sob o efeito de substâncias ilegais; ou se ri exactamente por efeito das ditas substâncias; ou, provavelmente, por uma conjungação de ambas. É fácil perceber o complexo de Salieri olhando para este Mozart da pop: ali está um puto ganzado, que ninguém daria nada por ele, saindo-lhe as músicas com espantosa naturalidade, imagina-se que dispensando sequer ensaios, fazendo o que outros estudam, ensaiam, lêem, tentam, e não conseguem. É verdade que se engana, que pára e diz oh, fuck, que se esquece das letras, mas dá um sorriso e tudo lhe é perdoado, porque afinal o puto é mesmo bom. "I have so many songs, what should I play"? E o público sugere Jessica e ele canta, e Emily e Nat King Cole , e ele diz que sim a ambas mas depois esquece-ce da segunda, e Pay the toll que ele diz não saber a letra, mas trauteia e lá se lembra. E tivemos Bluebirds, e I Wanna Die, e Novotel, e Computer Show, e Gemstones, e Carolina, e What a waster dos Libertines ("I am gonna play this song because I play it very well"). E fomos para casa a assobiar, e felizes por ter saído de casa nesta noite de chuva.
Vinte e quatro horas de pulseira no braço depois a má notícia estava chapada na porta do teatro (que a mim, claro, me escapou): devido a uma gripe, Emiliana Torrini não estaria presente.
A noite começou com Ed Harcourt. O palco esperava-o já com os intrumentos para os Sparklehorse, e a primeira reacção ao vê-lo entrar sozinho de guitarra debaixo do braço é que podiam ter pensado numa solução melhor, porque o homem ficava quase escondido com tantos instrumentos. Nada de mais errado, já que metade dos instrumentos era mesmo para ele. Começa com a tal guitarra, é verdade, mas logo a larga, enquanto continuámos a ouvir aquilo que acabou de gravar. Vai mexendo numa caixita mágica com os pés, e grava também alguns sons com um pequeno metalofone, e quando canta, tocando guitarra eléctrica, é já sobre o som dos instrumentos entretanto gravados. Não sabia, não esperava, e adorei. Ao longo do concerto iria ainda sentar-se frequentemente ao piano ("I hate electrical pianos; sorry for not bringing a proper piano, and have to play in this toy") - com uma voz a fazer lembrar Damien Rice algumas vezes, enquanto outras grunhia à la Tom Waits -, e também gravar com a sua caixita mágica sons de bongo, de maracas e outros chocalhos, de pandeireta, de sei lá mais o quê. Não faço ideia qual a formação do senhor, mas desconfio que há ali pouco de garagem e muito de estudos a sério.
Sem Emiliana passamos directamente para os cabeças de cartaz da noite. Tenho apenas o It's a wonderful life, e pelo álbum pensei que ia gostar mais do concerto. Enquanto Ed Harcourt se cansou de pedir para colocar alguns instrumentos mais alto ou mais baixo, os Sparklehorse parece-me que optaram sempre pelo volume máximo, e isso acabou por abafar a voz de Mark Linkous, que nem merece nada ser abafada. O público gostou, parece, e exigiu os dois encores da praxe; se a memória não me falha no primeiro ouviu-se Gold day, no segundo It's a wonderful life.
Imagino que seja sempre difícil pensar em nomes para um festival que começou logo com Devendra + Robert Fischer + Sufjan Stevens. Este ano foi pena termos tido um nome a menos, mas de resto não desiludiu.