segunda-feira, fevereiro 21, 2005

Esquerda sobe

Há 5 meses, escrevi (e ainda sem saber a ajuda que Santana Lopes viria dar) que a eleição de Sócrates para secretário-geral do PS poderia ser boa notícia para os principais partidos de esquerda (leia-se PCP e BE), se estes o soubessem aproveitar. Ambos subiram nestas eleições, e juntos representam agora 14% do eleitorado. Quem disse, quem disse? :)
Um amigo perguntava-me ao almoço quem teria perdido votos para permitir a subida da CDU(mais uns 70.000 votos). O eleitorado PSD/PP, por muito descontente, certamente não teria votado nesses monstros que comem criancinhas; o BE mais do que duplicou a sua votação, e portanto também não foram eles os culpados; o PS, que atingiu a maioria absoluta pela primeira vez, também não parece ter perdido votos.
Só uma análise cuidada das sondagens o pode confirmar (já que normalmente se pergunta também em quem votaram os inquiridos nas eleições anteriores), mas parece-me que a transferência se deu do PSD para o PS, mas também, em parte, do PS para o CDU ou BE: alguns eleitores do PS que se consideram de esquerda não se identificarão com Sócrates, e outros (falei com vários) são contra maiorias absolutas, e votaram mais à esquerda na tentativa de a evitar.

Proporcionalidade

Novamente, as eleições deste fim-de-semana revelam os problemas do método de Hondt.
Para os seus 120 deputados, o PS, o partido mais votado, precisou de 2.573.311 votos, o que dá uma média de 21.624 votos por deputado. O BE, o menos votado dos partidos com acento parlamentar, precisou de 364.296 para 8 deputados: 45.537 votos por deputado, mais do dobro do PS! Os votos no PCTT/MRPP (47.745) seriam no PS suficientes para 2 deputados, mas o MRPP ficou sem nenhum.
Ou ainda: com 45% dos votos, o PS obteve 53% dos deputados (120 em 226, estando para já excluídos os círculos internacionais). Com 6,4% dos votos, o BE obteve 3,5% dos deputados.
Para quando uma outra solução, como a existência de um círculo nacional extra, que permita garantir a proporcionalidade e a verdadeira representatividade do parlamento?

Demissionários e resistentes

As manchetes de hoje apelidam o líder do PP de demissionário, e o líder do PSD de resistente. Ontem, Paulo Portas anunciou que chegou o fim de um ciclo e a hora de sair, enquanto Santana Lopes convoca um congresso extraordinário mas mantém para já o tabu da recandidatura.
Na verdade, penso que o cenário se mostrará exactamente o oposto: o "demissionário" Paulo Portas não resistirá à vaga de fundo que certamente aparecerá a pedir que continue a liderar o partido, e mais cedo ou mais tarde certamente estará de volta (se chegar a sair); o "resistente" Santana Lopes, e a ver pelos abutres que já sobrevoam os corpos ainda quentes, não parece capaz de resistir por muito tempo.

Antigamente

Nas eleições deste fim-de-semana efectuaram-se algumas experiências de voto electrónico, nas 5 freguesias onde votam o Presidente da República e os líderes dos 5 partidos com acento parlamentar. Na freguesia de Santos (Lisboa) votaram Pedro Santana Lopes e Paulo Portas. À saída, Portas disse aos jornalistas que a votação electrónica tinha corrido bem, mas que preferia as coisas à moda antiga, com papel e caneta.
"Preferia as coisas à moda antiga". E ainda dizem que já não há diferença entre direita e esquerda! Querem melhor definição?