quarta-feira, outubro 31, 2007

Histórias sem moral nenhuma (2)

Amigos inseparáveis desde a infância, eu e o Pedro, e os dois melhores do nosso ano na Faculdade. Naquele exame eu tive 17, e o Pedro 18; o professor deu-me os parabéns, disse que eu escrevia muito bem, mas acrescentou que tive azar em ser do mesmo ano do Pedro. Ajeitou a gravata como quem vai dizer uma verdade universal, e finalizou: na vida real não tens que ser muito bom, tens que ser o melhor.

Na questão que o Pedro tinha falhado eu tinha tido pontuação máxima; a que eu errei era sobre o autor preferido do Pedro. Num momento de pouca lucidez, cheguei a considerar estudarmos juntos e melhorarmos os dois. Imediatamente bati na cabeça castigando-me pela minha própria estupidez: esse não era, obviamente, o caminho para ser o melhor.

No dia anterior ao segundo exame atropelei o Pedro a caminho da Faculdade, praticamente sem querer. O exame nem me correu especialmente bem e tirei 16, mas fui o melhor.

domingo, outubro 28, 2007

Já disse, mas depois talvez diga outra coisa

Sócrates diz que não divulga para já se o governo vai optar por referendar o Tratado de Lisboa, ou se será aprovado pelo Parlamento. A opção ficará em segredo até à assinatura do tratado, a 13 de Dezembro.

Faltou-lhe dizer que se os eleitores tomassem o Engenheiro, o Governo e o PS como honestos, não haveria segredo nenhum: o referendo fazia, afinal, parte do programa de Governo que foi a votos. Como já ninguém acredita nas promessas destes senhores, o segredo mantém-se.

sexta-feira, outubro 26, 2007

David Sylvian

A mim, que tenho acompanhado a carreira de David Sylvian bastante de longe, parece-me que esta não tem sido feita em linha recta: colaborações com artistas variados têm-no feito visitar terrenos diferentes. Não sei bem se isto tem feito fugir alguns seguidores (que continuarão a preferir ouvir os Japan ou o Secrets of the Behive, preterindo o que o senhor vai editando ultimamente), ou se, pelo contrário, lhe permite ter várias legiões de fãs com gostos diferentes.

O alinhamento do concerto desta Terça no Teatro Circo em Braga, em tudo semelhante, pelo que se lê pela blogosfera, a outros desta The World is Everything Tour, parecia pensado para provar que afinal toda a obra se encaixa na perfeição. Abriu com Wonderful World (dos recentes Nine Horses), passou por World Citizen (sem Sakamoto), por vários temas desde os anos oitenta (Waterfront, Brilliant trees, e até um Ghosts dos Japan disfarçado) até aos mais recentes (A fire in the forest, Snow born sorrow, The librarian) e a coisa apresentava uma coerência que inicialmente não lhe atribuíria.

Em palco, David Sylvian não é dos artistas mais agitados (ou faladores) que por ali passaram. Não vou dizer que o ar é de frete, porque não é, mas todo o concerto é passado sentado no seu banquinho, e a interacção com o público limita-se a uns Thank You's quase inaudíveis. É quase difícil perceber como pode este trabalho tão sedentário levado o homem a cancelar 3 concertos na última semana (Moscovo, San Sebastian, CCB) por fadiga. Cansado ou não, musicalmente foi a perfeição que se lhe reconhece. Até parece fácil.

PS: Anda por aí pelos torrents um concerto em Glasgow do mês passado (com um alinhamento idêntico), com uma qualidade de som bastante boa. Recomendo a quem quiser recordar o que ouviu na Terça, ou aos lisboetas que (oh que pena) não tiveram (ainda?) direito a concerto.

quarta-feira, outubro 24, 2007

Esgotado

David Sylvian, esgotado, faltou ao concerto no CCB no Domingo.
David Sylvian deu grande concerto ontem num Teatro Circo esgotado.

Está aí escondida, tenho a certeza, uma qualquer piada aproveitando a polissemia da palavra, mas neste momento não estou a ver qual.

terça-feira, outubro 23, 2007

Escutas

O Ministério Público e a PJ não gostaram que o Procurador-Geral da República, Pinto Monteiro, viesse dizer, em entrevista ao Sol, que se fazem demasiadas escutas em Portugal.
Aliás, MP e PJ já não tinham gostado quando o Procurador expressou a mesma opinião, há algumas semanas, ao telefone com um amigo.

sexta-feira, outubro 19, 2007

Histórias sem moral nenhuma

Ia sozinho no automóvel. O embate foi violento e fatal.
Abriu a porta, saiu, deu a volta ao carro e entrou pelo lado do passageiro. Sentou-se e pensou satisfeito que agora sim estava no lugar do morto. Toda a sua vida tinha sido conhecido por ser extremamente organizado, e não ia agora morrer fora do lugar.

quinta-feira, outubro 18, 2007

Doris

Diz o Pedro Mexia que não comenta o Nobel a Doris Lessing porque "apenas" leu 2 dos seus 50 livros.
Em primeiro lugar, Pedro, parece-me uma limitação grave. Eu, que nunca li Doris Lessing, sinto-me perfeitamente à vontade para entrar num qualquer debate sobre a velhinha; dependendo do lado da mesa em que me coloquem, sou capaz de a defender com entusiasmo, e que vale muito mais o conjunto coerente da totalidade da sua obra do que cada livro individual (e bla bla); ou então, sentando-me do outro lado, defender com o mesmo entusiasmo que o prémio se destina não aos seus escritos mas ao passado de esquerda e feminista (e bla bla).
Por outro lado, um escritor de quem li 2 livros passa directamente para o rol de escritores de quem mais li. Dizer de algum escritor que li "apenas" 2 livros não me passa pela cabeça. Parecendo que não, isto de trabalhar acaba por roubar tempo a um gajo.

terça-feira, outubro 16, 2007

Populismo

Gostaria de ter escrito isto, mas o Pedro Magalhães já o fez, e bem:

Anteontem, Manuela Ferreira Leite, dirigindo-se ao congresso do PSD, explicava por que razão os temas da regionalização e do referendo europeu não deveriam fazer parte da agenda do partido no futuro próximo. Quanto ao primeiro, cito de memória, isso corresponderia a "servir de lebre ao PS" e a perder uma bandeira (a da oposição à regionalização) que tinha dado sucessos políticos e eleitorais ao partido no passado. Quanto ao referendo europeu, ele seria de evitar porque obrigaria a fazer campanha com o PS sobre um tema no qual os dois partidos estão de acordo, desfavorecendo, mais uma vez, a possibilidade de o segundo se diferenciar do primeiro. Sobre se a regionalização, o tratado europeu ou a sua submissão a referendo são "bons" ou "maus" em si mesmos, não recordo uma palavra. Assim, os eleitores que tenham ouvido Manuela Ferreira Leite só podem chegar a duas conclusões. A primeira é que a entrada ou saída dos temas da agenda não tem, pelos vistos, rigorosamente nada a ver com a sua substância, mas sim com a maneira ela como pode afectar o "jogo" político e as perspectivas eleitorais do partido.[...]

Foi exactamente o que pensei quando ouvi o discurso de MFL no congresso do PSD. Houve ainda outro argumento, na mesma linha, que o Pedro Magalhães não citou: não podemos pedir baixa de impostos pois isso seria admitir que tal já é possível devido ao bom trabalho do PS nestes dois anos, e não podemos admitir isso.
Já se sabe que este tipo de raciocínios serão normais em reuniões à porta fechada, ou em discursos "para dentro", mas estranha-se vê-los expostos, tão clara e cinicamente, em discursos a que o comum eleitor pode aceder pela TV, pelas rádios, pelos jornais.
Esta falta de vergonha só se compreende por uma de duas razões: ou consideram que cá fora ninguém liga patavina a estes discursos, ou acham que o povinho mesmo que os ouça não os vai perceber. E o mais triste é que são capazes de ter razão..

sexta-feira, outubro 12, 2007

Conversa a 8

[...] e acreditaram que com aquele "cá estamos" me referia também a eles dois, certos como estavam de que ali, naquela sala de estar, estávamos agora três e não nove; ou antes, oito, visto que eu - por mim mesmo já não contava.
Que seja:
1) Dida, como era para si própria;
2) Dida, como era para mim;
3) Dida, como era para Quantorzo;
4) Quantorzo, como era para si próprio;
5) Quantorzo, como era para Dida;
6) Quantorzo, como era para mim;
7) O querido Gengè de Dida;
8) O caro Vitangelo de Quantorzo.
Naquela sala de estar, entre aqueles oito que se julgavam três, preparava-se uma bela conversa.
(Um, Ninguém e Cem Mil, de Luigi Pirandello, cap. V)

quarta-feira, outubro 10, 2007

Quarter Pounder with Cheese

O Vincent ficaria surpreendido ao descobrir que, apesar do sistema métrico, os espanhóis lhe chamam Cuarto de Libra con Queso.


segunda-feira, outubro 01, 2007

É que me lixo...

Será que as pessoas com quem me cruzo apenas quando vou levar o lixo à rua sabem que, em circunstâncias normais, não cheiro a comida estragada?