quarta-feira, dezembro 28, 2005

Postais de Natal

Num blog que viria a ter vida curta, escrevi que "o número de postais de natal recebidos profissionalmente é um bom indicador do poder dentro de uma empresa". Passados dois anos, não recebi nenhum postal, mas em contrapartida recebi um Pão-de-Ló de Ovar. Vou pensar que é um progresso, e que me estou a afastar do limpador de latrinas.

Actualização: acabo de receber da SAP uma coisa parecida com um postal; acho que conta. Em apenas dois anos passei de um postal de natal para um Pão-de-Ló de Ovar e "uma coisa parecida com um postal". Ó pessoal da Administração, aguardem-me que estou a chegar...

segunda-feira, dezembro 26, 2005

Apostas presidenciais

Tinha dito que se pusesse dinheiro num dos candidatos a Belém seria em Soares. A betandwin decidiu dar-me essa oportunidade, e abrir uma aposta para o vencedor das presidenciais. Pelo que me lembro, Cavaco Silva dava 1.2, Manuel Alegre 5.0, Mário Soares 6.5, Jerónimo de Sousa 101.0 e Francisco Louça 201.0. Infelizmente, o site reagiu aos protestos e retirou a aposta.
Continuo a dizer que, dado os ganhos possíveis em cada candidato, a aposta em Mário Soares seria neste momento talvez ainda a mais razoável. Mas com cada vez maior risco, porque Cavaco parece estar a conseguir aguentar a sua vantagem, e mesmo que haja segunda volta todas as sondagens o apontam aí como vencedor incontestado.
Já agora, aquilo que causou grnade polémica em Portugal é normalíssimo noutros países, como aliás frequentemente acontece com as polémicas neste país. O site William Hill há muito tem uma secção para Politics. Neste momento, por exemplo, permite apostar no vencedor das presidenciais de 2008 nos EUA, mesmo que as eleições ainda estejam longe, não haja ainda candidatos, e a Hillary, tal como Soares, "não seja um cavalo para se fazerem apostas".

sexta-feira, dezembro 16, 2005

2ª volta...

Ontem na Sic Notícias, quando questionado se a esquerda unida teria mais hipóteses contra Cavaco Silva, Luís Delgado disse que achava que não, e que Mário Soares sozinho teria não conseguiria uma segunda volta.
Ó Luís, até concordo com o que querias dizer (o que já de si é um acontecimento), mas só com dois candidatos provavelmente um deles teria mais de 50%, e por isso nunca haveria segunda volta, não te parece? Foi, aliás, o que se passou na derrota de Cavaco em 96...

sábado, dezembro 10, 2005

This Beard Is For Siobhan

now because my teeth don't bite
i can take 'em out dancin'
i could take my little teeth out
and i could show them a real good time
Devendra Banhart

sexta-feira, dezembro 09, 2005

Soares ainda é fixe?

Não vou votar nele, mas se tivesse de pôr dinheiro num dos candidatos a Belém acho que apostaria em Mário Soares (até porque nas apostas deve dar neste momento bastante mais que Cavaco).
Para já, as sondagens ainda prevêm maioria absoluta para Cavaco, mas acredito que haverá segunda volta. Quando se defrontarem apenas dois candidatos, claramente um da direita e outro da esquerda, a esquerda pderá ainda vencer, como aliás tem acontecido nos últimos 20 anos. Cavaco sabe disso e tem-se afirmado como apartidário, mas qualquer português o identifica antes de tudo como ex-líder do PSD. A teoria dos ovos e dos cestos também está a seu favor, mas ultimamente esta teoria não tem funcionado.
Havendo segunda volta, a dúvida será com quem: Soares ou Alegre? Alegre vai tendo alguma vantagem para já, mas penso que no dia D os para já ainda indecisos vão optar por Soares como sendo aquele que mais hipóteses tem de derrotar Cavaco numa segunda volta (com o que até concordo).
As tartaguras, coitadas, que não têm culpa nenhuma, é que podem vir a sofrer. Ah, e quem vai ter de engolir novo sapo, claro.

quinta-feira, dezembro 08, 2005

E fez-se Luz...

Uma das vantagens de escrever num blog é que depois se pode dizer "Eu não disse?" :)
Como qualquer pessoa que acompanhe minimamente o futebol europeia saberia, a única dúvida ontem era quem marcaria o golo da vitória do SLB. Confesso que não me passou pela cabeça que fosse o patinho feio.


Infelizmente, não fui benfiquista suficiente para apostar na vitória do glorioso. Nos sites de apostas dava 3 vezes ou mais, o que significa que se tivesse apostado todas as minhas poupanças podia ter agora uns 3 contos. Bem, tenho ainda a aposta que fiz no início da época (Benfica campeão europeu) por isso nem tudo está perdido. Quando apostei dava 100x, chegou a dar mais, e agora dá 50. Com tendência clara para baixar...

quarta-feira, dezembro 07, 2005

Quem será?

Pequeno aparte futebolístico, porque hoje se pode fazer História...
Logo à noite, os jogadores do Benfica têm oportunidade de ficar na História, se vencerem pela primeira vez o Manchester e o eliminarem da Liga dos Campeões. Ontem o FCP já nos deu uma pequena alegria, mas hoje pode vir a alegria maior.
Quem estará na capa de todos os jornais europeus de amanhã? Simão não vai poder repetir a graça do primeiro jogo. Será Nuno Gomes, o homem dos golos impossíveis nos jogos difíceis? Mantorras, com a sua recém-recuperada veia goleadora, vai começar a pagar os milhões que nos prometeu? Ou... ?

segunda-feira, dezembro 05, 2005

A Love Song for Bobby Long

Só pude ver o filme esta semana, no cinema.
Travolta começou a dançar nos anos 70, dançou também em Pulp Fiction, e volta agora a dançar, ainda que a um ritmo mais adequado a um cinquentão.
A ver, não só mas também por quem defendeu que não vale a pena reconstruir Nova Orleães. E, claro, por quem gosta de personagens bem desenvolvidas, um bom argumento, e de caras bonitas como a de Purslane Hominy Will.

quarta-feira, novembro 16, 2005

Fora isso...

[...]
Todos conhecem a história do cara que, logo após o assassinato, perguntou:— Fora isso, Mrs. Kennedy, o que a senhora achou de Dallas?
[...]
Luis Fernando Veríssimo

quinta-feira, novembro 03, 2005

Prémio Gestão 2005

Numa incrível demonstração de boa gestão, a Galp anunciou um aumento de 80% nos lucros até ao 3º trimestre. Tudo isto foi conseguido, como é sabido, "quase" sem reflectir no consumidor a subida do preço do crude.
Antes da liberalização, as distribuidoras podiam já baixar o preço dos combustíveis: havia apenas um máximo legal. No entanto, devido ao cartel existente, este preço não baixava. A excepção era um ou dois locais, nomeadamente junto a hipermercados, a que o portuguezinho associava logo menor qualidade (esta é uma lógica que me escapa; já vi uma senhora num hipermercado a dizer que não ia comprar o detergente que comprava sempre porque estava em promoção, logo devia ter alguma problema!).
Entretanto, utilizando mais uma lógica que me escapa (será problema meu?), foi mais ou menos vendido que a liberalização (ou seja, o fim da existência de um valor máximo definido pelo governo) levaria à baixa de preços. Obviamente, não levou.
Entretanto, a subida do preço do crude nos mercados internacionais veio baralhar as contas. Antigamente o governo utilizava uma fórmula, baseada no passado recente dos preços do petróleo, para calcular o tecto dos preços do combustível. Está esta fórmula disponível? Seria curioso comparar os preços actuais com o que seria o máximo se não tivesse havido liberalização. Sinceramente desconheço o resultado, pois infelizmente nunca vi essa análise em lado nenhum.

terça-feira, novembro 01, 2005

Ser pacifista

"Lotte foi presa pelos nazis com a mãe e a irmã e enviada para Ravensbrück, onde a mãe morreu de tifo e esgotamento. Lotte e a irmã, Margrit, foram transferidas para Theresienstadt. Gostaria de poder dizer que foram soltas por manifestantes pacifistas, de cartazes em punho, proclamando «façam amor, não a guerra». Mas a verdade é que foram libertadas, não por idealistas pacifistas, mas por soldados de capacete e metralhadora. Nós, os pacifistas militantes israelistas, nunca esquecemos isto quando lutamos contra o comportamento do nosso país em relação aos palestinianos, mesmo quando trabalhamos por um compromisso viável e pacífico entre Israel e a Palestina".

Amos oz, excerto de discurso a 28 de Agosto último ao receber o Prémio Goethe

segunda-feira, outubro 24, 2005

Prémio "Para arrogante já basto eu"

Durante a análise dos resultados autárquicos, Miguel Sousa Tavares disse que ficava contente pela derrota de Avelino Ferreira Torres, pois esta significava a derrota da arrogância. Vindo de quem vem, este comentário ou demonstra um louvável sentido de auto-crítica, ou uma enorme falta de noção do ridículo.
Ainda no mesmo espírito, o Bibi já veio dizer que acha incrível o que o Michael Jackson (alegadamente) fez com criancinhas, e o Tio Patinhas veio a público manifestar-se contra os sovinas.

segunda-feira, outubro 17, 2005

Língua Portuguesa 1

Um destes dias precisei de arrastar um armário devido a umas tomadas eléctricas que se encontram por trás.
Quem decidiu chamar móvel a estes objectos de certeza que nunca precisou de arrastar nenhum.

Proteger do calor

Sei que este post vem fora de época, mas..
Nós que temos um clima moderado, tiramos a roupa e bebemos bebidas refrescantes quando o calor aperta.
Os povos do calor a sério, protegem-se do calor cobrindo-se, e bebem chá quente.
Quem terá razão?

Autárquicas 2006

Mais uma vez, o PS sai largamente derrotado nas eleições autárquicas, sendo o grande perdedor. O PSD, por seu lado, conseguiu manter os excelentes resultados de há 4 anos, e ainda melhorar um pouco. Dada a tendência geral, é impossível não fazer uma análise nacional, percebendo isto como um cartão amarelo ao actual governo.
À direita, os resultados do PP são difíceis de analisar. Ganhou várias câmaras, mas em coligação. Sozinho, das 3 câmaras que tinha, manteve apenas Ponte de Lima, mas este é um dos casos em que o autarca ganharia mesmo sem um partido por trás.
O BE manteve no geral os seus resultados. Por um lado mostra cada vez mais que não é um partido de moda para durar pouco tempo, mas por outro parece ter parado a sua subida (ainda que as autárquicas sejam eleições mais difíceis para o bloco).
O PCP sai como vencedor: depois de longos anos a morrer lentamente, quebra esta tendência e cresce mesmo claramente. Recuperou câmaras que tinha perdido e ganhou Peniche pela primeira vez, marcando a sua presença agora também acima do Tejo.
Que todos façam um bom trabalho.

sexta-feira, outubro 07, 2005

Boas notícias para Alegre?

Para quem pensava que era muito difícil ganhar eleições sem um partido por trás, estas eleições autárquicas vêm provar o contrário.
A maioria das câmaras mais importantes do país (pelo menos a julgar pela cobertura televisiva) poderão ser conquistadas por candidaturas independentes. Falo, é claro, de Amarante, Felgueiras, Gondomar, Oeiras.

sexta-feira, setembro 30, 2005

O meu mundo...

... a aumentar logo que possível ...


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Crie também o seu.

sábado, agosto 27, 2005

Abordagem de fenómenos psíquicos

"Não há dúvida de que alguns dos acontecimentos registados em sessões espíritas são autênticos. [...] O autor viu pessoalmente uma mesa a levantar-se, e o Dr. Joshua Fleagle, de Harvard, assistiu a uma sessão em que a mesa não só se levantou como apresentou as suas desculpas e foi para a cama. "

Woody Allen, Sem Penas

quinta-feira, agosto 25, 2005

A(s) fraude(s) no caso Piano Man

O caso do pianista misterioso está (?) resolvido.
O homem que agora sabemos chamar-se Andreas Grassl apareceu há cerca de 4 meses numa praia do Reino Unido. Sugeriu-se que seria um náufrago e que se tratava de um pianista prodigioso: quando lhe apresentaram um papel e lápis, visto que não falava, imediatamente desenhou um piano; encontraram-lhe um piano, e ele tocava "genialmente" por períodos de longas horas.
Durante 4 meses, os melhores psicólogos do Reino Unido não conseguiram arrancar-lhe uma palavra, a polícia não consegui descobrir nada, os jornalistas também não.
Há dias, de repente, o homem falou. Segundo o Daily Mirror, disse que era alemão e que tinha perdido o seu emprego em França. Foi para Inglaterra de comboio pelo canal da mancha, e tinha tentado suicidar-se quando foi encontrado. Desenhou um piano porque foi a primeira coisa que lhe passou pela cabeça, e apenas teria tocado umas notas à sorte.
Esta versão, repetida pela generalidade dos jornais e televisões portugueses, é agora desmentida pelo hospital, pelo seu advogado, pela sua família, pelo próprio, segundo os quais Andreas esteve realmente amnésico, e melhorou com o tratamento. Alguns dos psicólogos, no entanto, falavam em processar o alemão.
Ficam as perguntas: será o alemão uma fraude? se sim, não serão os tais "melhores" psicólogos que não detectaram nada durante 4 meses uma fraude também? e a polícia que nada descobre, uma fraude? e os jornalistas de investigação? e os media, que veicularam as notícias sem grande filtro (tanto a notícia original como, pior ainda, a do Daily mirror), serão uma fraude?
No caso dos media portugueses, aliás, já observamos recentemente um comportamento semelhante no caso do arrastão. Sobre isto, ver o excelente (ainda que pouco isento, sem dúvida) trabalho de Diana Andringa em "Era uma vez um arrastão".

E daqui a 20 anos?

Há uns 20 / 30 anos, ou até menos, quem saía precocemente da escola tinha boas probablidades de acabar numa linha de produção de uma qualquer fabriqueta. Têxtil, na zona onde moro. Pelo que vejo à minha volta, esta probablidade era bastante maior para as mulheres.
Agora que o nosso país parece ter desistido dessa actividade dura, trabalhosa e poluente que é a indústria, para nos tornarmos um país de serviços, estes empregos têm vindo a desaparecer. Por um lado, isto nota-se quando uma fábrica encerra gerando desempregados nos seus 40/50 anos que não têm alternativa de emprego. Por outro lado, significa que os (ou, maioritariamente, as) jovens que saem agora com escolaridade mínima ou pouco mais se empregam como empregadas de lojas, e não já como operárias fabris. Tenho reparado nisso em vários colegas meus, que encontro a trabalhar nas benetton's ou outras que tais.
Ao contrário das fábricas têxteis, no entanto, parece-me que as benetton's apresentam uma característica que se pode transformar num problema social no médio prazo. Uma operária textil continua a produzir até se reformar, inclusivé com aumentos de produtividade decorrentes da experiência. Numa benetton, o que se pretende é meninas bonitas e jovens que atraiam clientes e que tornem a tarde de maridos obrigados a acompanhar mulheres às compras um pouco menos dolorosa.
A pergunta é então: quando, brevemente, esta geração de empregados(as) de lojas deixar de encaixar no perfil "bonito e jovem", para onde vão trabalhar?

Estará relacionado?

2 notícias no última hora do público de hoje:
  • Mário Soares anuncia candidatura a Belém no dia 31 em Lisboa
  • Governo aprova hoje aumento da idade de reforma na função pública

terça-feira, julho 26, 2005

Ainda bem que foi cremado...

... ou estaria agora a revirar-se no túmulo.
É sabido que Álvaro Cunhal, elogiado por todos pela sua coerência ao longo da vida, teve de engolir o seu maior sapo quando apelou ao voto em Soares, adversário de longa data (basta ler algum livro de Cunhal sobre o período revolucionário para perceber como eles se davam bem).
Brevemente, ao que parece, a água passará duas vezes debaixo da mesma ponte, e o seu partido será obrigado, numa eventual segunda volta presidencial, a apelar ao voto no fixe do Soares. Cavaco oblige.
Ironicamente, apoiar Soares pode até ser um mal menor, pois perfilava-se a possibilidade de o candidato socialista, a quem (quase) toda a esquerda inevitavelmente apoia no final, ser nada mais nada menos que o opositor de Soares em 1986 (o tal que o sapo permitiu evitar). Nesse caso, parece-me que não só se revirava no túmulo, mas se levantava e voltava para o exílio, que este país não o merece.

quinta-feira, julho 21, 2005

Campos e Cunha abandona Governo ao fim de 130 dias

Quem ouvia falar o Ministro das Finanças, independentemente de concordar com as suas medidas ou não, notava que não parecia um político normal a falar. Explicava as decisões racionalmente, com argumentos lógicos. Estranhamente, aquilo parecia fazer algum sentido. E digo estranhamente porque não é todos os dias que se ouve um político começar um raciocínio e desenvolvê-lo com início, meio e fim.
Notava-se que não ia durar muito.

sexta-feira, julho 08, 2005

O 7 de Julho

Ontem, quatro explosões de origem terrorista no centro de Londres tiveram como trágico balanço a morte de várias pessoas, cujo número se estima vir a chegar à meia centena, e cerca de 700 feridos. Ao contrário do que aconteceu em Madrid, ninguém se lembrou de culpar o IRA; todos perceberam imediatamente que algum tentáculo da Al-Qaeda estaria por trás do atentado. O mundo está diferente, para pior, muito pior.
A primeira vez que fui a Londres, ainda criança, há uns 15 anos, lembro-me de ter ficado com a impressão que um ataque terrorista estava ali sempre iminente. Cartazes avisando para o perigo de malas abandonadas apareciam em todas as estações do metro, algo a que só me habituei mais recentemente a ver em todos os aeroportos. Numa das viagens no metro, alguns de nós defendiam que seguir por uma linha seria mais perto, enquanto outros votavam por outra (sem saber que o mapa do metro de Londres é esquemático, sem correspondência com as distâncias reais); para desempatar, decidimos que cada grupo seguiria pela sua linha. O meu grupo perdeu porque a meio a linha estava cortada por ameaça de bomba; nunca saberei quem tinha razão.
Anteontem, a mesma Londres foi escolhida para sede dos Jogos Olímpicos de 2012, sendo a primeira cidade a acolher os Jogos por 3 vezes. De manhã cedo, as notícias indicavam que 3 das cidades candidatas, Moscovo, Nova Iorque e Madrid, estavam excluídas da corrida, e os comentadores eram unânimes em afirmar que o principal critério para a exclusão se prendia com questões de segurança e com o perigo de atentados terroristas nessas cidades. Na disputa final com Paris, Londres ganhou por 54 contra 50 votos.
Sei que os dias do IRA estarão para trás, mas ainda assim custou-me imaginar Londres como a cidade menos sujeita a actos terroristas. Além disso, depois do 11 de Setembro e do 11 de Março, Blair era o único líder dos presentes na reunião que decidiu a guerra que ainda não tinha sido vítima da Al-Qaeda dentro de portas.
Resta-nos esperar que ninguém se lembre quem foi o mestre-de-cerimónias desse encontro, e que em Portugal a palavra terrorista continue a ser utilizada apenas para significar criança irrequieta.

quarta-feira, julho 06, 2005

"Novo" código da estrada

Quando há uns meses se começou a falar do novo código de estrada, tentei perceber o que teria sido modificado. Portugal é conhecido pela sua enorme sinistralidade rodoviária, e por isso há certamente muito onde melhorar. Pelo que nos foi feito chegar pelos meios de comunicação, no entanto, a grande novidade do "novo" código prende-se com o duplicar do valor previsto para as coimas.
Um novo código implicou, imagino, pessoas pagas especialmente para o preparar. Especialistas, imagino. Estamos assim tão bem que a única melhoria que estes especialistas foram capazes de introduzir foi o aumento das coimas? , pensei. Não há uma única ideia, mais ou menos inovadora, para diminuir as mortes nas estradas?
A semana passada, no entanto, entrou em vigor uma das medidas do código: a obrigatoriedade de utilização de colete reflector quando se sai da viatura (por exemplo, para mudar um pneu, ou na eventualidade de um acidente). Ao ver os primeiro acidentados vítimas desta medida, compreendi finalmente que esta é sem dúvida uma optima ideia capaz de realmente diminuir o número de acidentes. Quem já viu o ridículo que ficam dois adultos a discutir um acidente vestidos de laranja fluorescente percebe o que eu quero dizer; sabendo que terá de vestir este colete em caso de acidente, os portugueses serão certamente mais cuidadosos na sua condução.

segunda-feira, fevereiro 21, 2005

Esquerda sobe

Há 5 meses, escrevi (e ainda sem saber a ajuda que Santana Lopes viria dar) que a eleição de Sócrates para secretário-geral do PS poderia ser boa notícia para os principais partidos de esquerda (leia-se PCP e BE), se estes o soubessem aproveitar. Ambos subiram nestas eleições, e juntos representam agora 14% do eleitorado. Quem disse, quem disse? :)
Um amigo perguntava-me ao almoço quem teria perdido votos para permitir a subida da CDU(mais uns 70.000 votos). O eleitorado PSD/PP, por muito descontente, certamente não teria votado nesses monstros que comem criancinhas; o BE mais do que duplicou a sua votação, e portanto também não foram eles os culpados; o PS, que atingiu a maioria absoluta pela primeira vez, também não parece ter perdido votos.
Só uma análise cuidada das sondagens o pode confirmar (já que normalmente se pergunta também em quem votaram os inquiridos nas eleições anteriores), mas parece-me que a transferência se deu do PSD para o PS, mas também, em parte, do PS para o CDU ou BE: alguns eleitores do PS que se consideram de esquerda não se identificarão com Sócrates, e outros (falei com vários) são contra maiorias absolutas, e votaram mais à esquerda na tentativa de a evitar.

Proporcionalidade

Novamente, as eleições deste fim-de-semana revelam os problemas do método de Hondt.
Para os seus 120 deputados, o PS, o partido mais votado, precisou de 2.573.311 votos, o que dá uma média de 21.624 votos por deputado. O BE, o menos votado dos partidos com acento parlamentar, precisou de 364.296 para 8 deputados: 45.537 votos por deputado, mais do dobro do PS! Os votos no PCTT/MRPP (47.745) seriam no PS suficientes para 2 deputados, mas o MRPP ficou sem nenhum.
Ou ainda: com 45% dos votos, o PS obteve 53% dos deputados (120 em 226, estando para já excluídos os círculos internacionais). Com 6,4% dos votos, o BE obteve 3,5% dos deputados.
Para quando uma outra solução, como a existência de um círculo nacional extra, que permita garantir a proporcionalidade e a verdadeira representatividade do parlamento?

Demissionários e resistentes

As manchetes de hoje apelidam o líder do PP de demissionário, e o líder do PSD de resistente. Ontem, Paulo Portas anunciou que chegou o fim de um ciclo e a hora de sair, enquanto Santana Lopes convoca um congresso extraordinário mas mantém para já o tabu da recandidatura.
Na verdade, penso que o cenário se mostrará exactamente o oposto: o "demissionário" Paulo Portas não resistirá à vaga de fundo que certamente aparecerá a pedir que continue a liderar o partido, e mais cedo ou mais tarde certamente estará de volta (se chegar a sair); o "resistente" Santana Lopes, e a ver pelos abutres que já sobrevoam os corpos ainda quentes, não parece capaz de resistir por muito tempo.

Antigamente

Nas eleições deste fim-de-semana efectuaram-se algumas experiências de voto electrónico, nas 5 freguesias onde votam o Presidente da República e os líderes dos 5 partidos com acento parlamentar. Na freguesia de Santos (Lisboa) votaram Pedro Santana Lopes e Paulo Portas. À saída, Portas disse aos jornalistas que a votação electrónica tinha corrido bem, mas que preferia as coisas à moda antiga, com papel e caneta.
"Preferia as coisas à moda antiga". E ainda dizem que já não há diferença entre direita e esquerda! Querem melhor definição?

quinta-feira, janeiro 27, 2005

Disciplina inter-partidária

De acordo com o que ouvi de Paulo Portas, PP e PSD comprometeram-se a que cada um não criticará em público medidas tomadas pelo outro.
A disciplina partidária sempre me fez confusão, mas um acordo destes entre partidos a concorrerem separadamente a eleições ainda me parece mais estranho.

Partidocracia

Em países onde a democracia está mais avançada é comum saber-se, antes da eleições e de parte de cada partido, a quem seriam atribuídos os ministérios. Mais: em algumas tradições democrátivas, o(s) partido(s) da oposição formam um governo-sombra, mais ou menos oficial; por exemplo, as críticas às medidas ambientiais serão nesta lógica realizadas preferencialmente pelo ministro-sombra do ambiente, especialista na matéria.
As vantagens de saber antecipadamente em que executivo estamos a votar parecem-me, em termos de democracia, óbvias. Infelizmente, nem toda a gente pensa assim: José Sócrates, por exemplo, veio dizer que anunciar antecipadamente os ministros do seu governo seria arrogante, e passaria a imagem de que "já ganharam". E assim vai a nossa partidocracia, em que os eleitores se vêm obrigados a votar num partido sem conseguir associar-lhe caras, e mantendo-se assim o afastamento geral da população da política (e dos políticos) que todos dizem querer combater.
Afirmações como as de Sócrates parecem-me hoje em dia inaceitáveis; afinal, a nossa "jovem" democracia passou já dos 30 anos, e estava na altura de se tornar adulta.