domingo, janeiro 28, 2007

Boas intenções

Entro num parque de estacionamento e ouço buzinadelas: um carro parado impede a passagem de outros que querem sair. Poucos segundos depois, um senhor idoso (não muito idoso, dos seus sessenta e tais, talvez), sai do veículo e, muito lentamente, circunda o carro e vai à porta do acompanhante; em seguida, abre a porta de trás e tira de dentro um casaco. Eu, dois carros atrás, consigo ouvir alguém perguntar se vai ficar ali, ou se vai tirar o carro que está a atrapalhar. O senhor idoso parece aperceber-se do seu erro, diz que vai tirar o carro e volta a meter-se lá dentro. Arranca em direcção da saída, o que me permite também a mim continuar e estacionar. Quando volto a olhar está a tentar meter o bilhete do parque na maquineta, mas sem grande sucesso; avança um pouco com o carro, avança, avança, até ter a parte da frente já debaixo da cancela. Entretanto, outros que querem sair buzinam atrás dele. Desloco-me até ao senhor idoso e pergunto se está a ter algum problema em sair; diz-me, muito lentamente também, que já tentou meter o bilhete, mas que não há meio de a cancela abrir. Pergunto-lhe se pagou o parque; surpreendido, como quem não faz ideia que se tem que pagar alguma coisa, diz-me que não. Peço-lhe o bilhete e digo-lhe que lhe vou tratar disso; pago os 60 centimos na máquina, meto-lhe o bilhete e digo-lhe que pode ir embora. Olha para mim como quem ainda não está a perceber bem o que se passou e, sem dizer nada, de novo muito lentamente, deixa o carro descair e depois lá consegue fazê-lo pegar. Logo em frente, à saída do parque, ainda o consigo ver a passar por cima de uma linha contínua e mais uma vez a levar com buzinadelas.
A caminho da secção de nascimentos do Registo Civil, penso para mim se terei feito a boa acção do dia ou se terei empurrado o senhor idoso para um acidente certo. Afinal, é bem verdade que o mundo está cheio de exemplos de boas intenções que terminaram muito mal (por muito reaccionário que esta frase possa soar).

Sem comentários: