sexta-feira, julho 08, 2005

O 7 de Julho

Ontem, quatro explosões de origem terrorista no centro de Londres tiveram como trágico balanço a morte de várias pessoas, cujo número se estima vir a chegar à meia centena, e cerca de 700 feridos. Ao contrário do que aconteceu em Madrid, ninguém se lembrou de culpar o IRA; todos perceberam imediatamente que algum tentáculo da Al-Qaeda estaria por trás do atentado. O mundo está diferente, para pior, muito pior.
A primeira vez que fui a Londres, ainda criança, há uns 15 anos, lembro-me de ter ficado com a impressão que um ataque terrorista estava ali sempre iminente. Cartazes avisando para o perigo de malas abandonadas apareciam em todas as estações do metro, algo a que só me habituei mais recentemente a ver em todos os aeroportos. Numa das viagens no metro, alguns de nós defendiam que seguir por uma linha seria mais perto, enquanto outros votavam por outra (sem saber que o mapa do metro de Londres é esquemático, sem correspondência com as distâncias reais); para desempatar, decidimos que cada grupo seguiria pela sua linha. O meu grupo perdeu porque a meio a linha estava cortada por ameaça de bomba; nunca saberei quem tinha razão.
Anteontem, a mesma Londres foi escolhida para sede dos Jogos Olímpicos de 2012, sendo a primeira cidade a acolher os Jogos por 3 vezes. De manhã cedo, as notícias indicavam que 3 das cidades candidatas, Moscovo, Nova Iorque e Madrid, estavam excluídas da corrida, e os comentadores eram unânimes em afirmar que o principal critério para a exclusão se prendia com questões de segurança e com o perigo de atentados terroristas nessas cidades. Na disputa final com Paris, Londres ganhou por 54 contra 50 votos.
Sei que os dias do IRA estarão para trás, mas ainda assim custou-me imaginar Londres como a cidade menos sujeita a actos terroristas. Além disso, depois do 11 de Setembro e do 11 de Março, Blair era o único líder dos presentes na reunião que decidiu a guerra que ainda não tinha sido vítima da Al-Qaeda dentro de portas.
Resta-nos esperar que ninguém se lembre quem foi o mestre-de-cerimónias desse encontro, e que em Portugal a palavra terrorista continue a ser utilizada apenas para significar criança irrequieta.

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