quarta-feira, abril 12, 2006

V

"We have nothing to fear but fear itself", disse alguém há já mais de 60 anos. Hoje, quando o medo (seja ele dos aviões do Bin Laden, das ADM's do Saddam ou da bomba atómica do Irão) é usado mais uma vez para justificar a guerra e a perda de liberdades, a frase está mais actual que nunca. A acreditar nesta distopia orwelliana, fará ainda mais sentido daqui a umas dezenas de anos.
O filme, ainda que prejudicado pela utilização de alguns lugares comuns, acaba por estar muito bem conseguido na forma como V, um Edmond Dantés menos egoísta, prepara as suas peças de dominó até à revolução. A marcha triunfante dos mascarados não pode deixar de comover quem acredita que "o povo não deve temer os seus governos, os governos é que devem ter o seu povo".
A Natalie (a verdadeira razão, claro, que me levou a ver o filme) aparece como a cabeça rapada mais bonita desde que a Sinead chorou enquanto dizia que nada se compara a mim. Aliás, pode ser de mim, mas a tal Sinead pareceu-me bastante presente no filme: tal como na sua música, a Irlanda como vítima da Inglaterra aparece sempre como pano de fundo; o discurso que se ouve durante os créditos finais (que os funcionários do cinema fizeram o favor de cortar a meio), se não é o mesmo que abre o Universal Mother anda lá muito perto; e a história de Saint Mary's e Three Waters parece uma versão século XXI de "Famine" (do mesmo álbum), substituindo a falta de batatas por um vírus mortal.
Ainda em termos musicais, além de Jobim e Tchaikovsky, fica na memória a tal Natalie a dançar ao som de Antony, ainda que apenas durantes uns 10 segundos. Se a Igreja me tivesse prometido estes 10 segundos em vez de insossos querubins brancos, talvez hoje fosse mais religioso.
Impossível também não reparar na agenda gay presente no filme, associado a uma ideia de vítimas da sociedade: Deitrich é gay, a Valerie que escreve na prisão é gay. Bem, e quem escolhe Antony para a banda sonora.. :)
No geral, um filme sem dúvida a ver, com V de Verdade, Virtuoso, e Vingança, ainda que seja um pouco exagerado incluí-lo na lista dos melhores 250 de sempre, como acontece actualmente.

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