Foi também curioso observar, nos debates sobre a proposta para a nova Constituição venezuelana, como os nossos democratas se insurgiam contra o final do limite de mandatos para a presidência, esse princípio basilar da Democracia tal qual a conhecemos.
E é curioso lembrar que alguns destes senhores são os mesmos que nos últimos 30 anos apoiam um Alberto João na Madeira ou um Mesquita Machado em Braga, eleição após eleição.
sábado, dezembro 15, 2007
sexta-feira, dezembro 14, 2007
Democratas
Alguns defensores de Chavez argumentam que, dada a História da América Latina, não o podemos avaliar pelos mesmos padrões que avaliamos os políticos da Europa Ocidental. Outros lembram ainda que Chavez foi eleito democraticamente, e que ainda há dias levou democraticamente a votos a sua proposta para uma nova Constituição, foi democraticamente derrotado e aceitou democraticamente o resultado (ainda por cima uma derrota por margem mínima, as mais difíceis de aceitar; derrotas por 80-20 não há grande remédio senão aceitá-las; após derrotas por 51-49 há sempre a tendência para encontrar argumentos fajutos, como demonstraram alguns defensores do Não ao Aborto).
Vem isto a propósito de ter estado por cá ontem um tal de Zé Manel (que será um gajo porreiro-pá-porreiro mas em quem eu não votei para estar onde está), para assinar uma nova Constituição sobre a qual, ao que tudo indica, também não me vão pedir a opinião.
Apetece dizer que Chavez é um democrata especialmente se o avaliarmos pelos padrões da Europa Ocidental.
Vem isto a propósito de ter estado por cá ontem um tal de Zé Manel (que será um gajo porreiro-pá-porreiro mas em quem eu não votei para estar onde está), para assinar uma nova Constituição sobre a qual, ao que tudo indica, também não me vão pedir a opinião.
Apetece dizer que Chavez é um democrata especialmente se o avaliarmos pelos padrões da Europa Ocidental.
terça-feira, dezembro 11, 2007
Audiolivros 2
Fui ver por curiosidade, e reparei que foi exactamente há um ano que escrevi aqui que o lançamento em audiolivro do Codex 632 poderia "ser sinal de que vai começar a haver oferta deste tipo de produtos, muito escassa em Portugal".
As notícias, há poucos dias, do Público ("Este foi o ano de "explosão" dos audiolivros") e do Expresso ("Os audiolivros chegaram a Portugal") vêm confirmar que todas as editoras lêem atentamente este blog.
Levaram também em conta o meu pedido: "e já agora a um preço mais reduzido que os 40 euros do Codex", pedia eu há um ano. Por exemplo, os "Livros para ouvir" da 101 Noites (Eça, Pessoa, Sá-Carneiro, Florbela Espanca, Camilo, Fialho de Almeida) custam 13,90€ (livro + cd), ou 4,50€ em mp3, o que é bastante aceitável.
As notícias, há poucos dias, do Público ("Este foi o ano de "explosão" dos audiolivros") e do Expresso ("Os audiolivros chegaram a Portugal") vêm confirmar que todas as editoras lêem atentamente este blog.
Levaram também em conta o meu pedido: "e já agora a um preço mais reduzido que os 40 euros do Codex", pedia eu há um ano. Por exemplo, os "Livros para ouvir" da 101 Noites (Eça, Pessoa, Sá-Carneiro, Florbela Espanca, Camilo, Fialho de Almeida) custam 13,90€ (livro + cd), ou 4,50€ em mp3, o que é bastante aceitável.
Literatura de WC 4
. Pura Anarquia (Woody Allen, Gradiva) (que, pelo menos o que já li - e sinto-me quase como quem mata o próprio pai a dizer isto -, é fraquito)
. Novas Aventuras do Menino Nicolau, O Regresso do Menino Nicolau, Volume III (Goscinny e Sempé, Teorema)
. Boca do Inferno (Ricardo Araújo Pereira, Tinta da China)
. Novas Aventuras do Menino Nicolau, O Regresso do Menino Nicolau, Volume III (Goscinny e Sempé, Teorema)
. Boca do Inferno (Ricardo Araújo Pereira, Tinta da China)
sábado, dezembro 01, 2007
Distraída
Ontem, na Fnac. Uma senhora, classe média e aspecto razoável, vem com a filha pela mão e pega no Equador para folhear.
- Este sim, escreve muito bem: foi o melhor livro que já li.
Espera uns momentos para que a filha possa assimilar toda a sabedoria da frase anterior, e prossegue:
- Não sei é se já editou mais algum. Vamos perguntar.
- Este sim, escreve muito bem: foi o melhor livro que já li.
Espera uns momentos para que a filha possa assimilar toda a sabedoria da frase anterior, e prossegue:
- Não sei é se já editou mais algum. Vamos perguntar.
terça-feira, novembro 27, 2007
Alone 2
Don't worry Mum,
don't worry Dad.
The hours that I spend alone
are the happiest I've ever had.
(The Divine Comedy, The Happy Goth)
don't worry Dad.
The hours that I spend alone
are the happiest I've ever had.
(The Divine Comedy, The Happy Goth)
domingo, novembro 25, 2007
Deus gosta de futebol
A semana passada a Inglaterra falhou a qualificação para o Euro 2008, depois de perder em casa por 2-3, com a.. Croácia.
Hoje, no sorteio para os grupos de qualificação para o Campeonato do Mundo 2010, a Inglaterra, 10ª classificada no ranking da FIFA, não tinha direito a um dos 9 lugares no 1º pote. O 9º lugar era ocupado pela... Croácia.
Estando no 2º pote, a Inglaterra teria que ficar no grupo de uma das equipas do 1º pote. Ficou, está bom de ver, no grupo da... Croácia.
É bom saber que quem quer que seja que lá em cima olha por nós tem sentido de humor.
Hoje, no sorteio para os grupos de qualificação para o Campeonato do Mundo 2010, a Inglaterra, 10ª classificada no ranking da FIFA, não tinha direito a um dos 9 lugares no 1º pote. O 9º lugar era ocupado pela... Croácia.
Estando no 2º pote, a Inglaterra teria que ficar no grupo de uma das equipas do 1º pote. Ficou, está bom de ver, no grupo da... Croácia.
É bom saber que quem quer que seja que lá em cima olha por nós tem sentido de humor.
O poder da blogosfera
"Se a fusão se confirmar, a minha conta do BPI não dura mais que uma semana. O BCP representa tudo o que eu detesto na sociedade portuguesa e não esqueço que foi com o seu dinheiro que se pagou parte da campanha pelo não no referendo à despenalização do aborto. Tenho a certeza que não serei o único a tomar esta decisão."
Luis M. Jorge, no seu (muito recomendável) blog, 2007-10-25
"Negociações entre BPI e BCP falharam"
Noticiado hoje, 2007-11-25
Luis M. Jorge, no seu (muito recomendável) blog, 2007-10-25
"Negociações entre BPI e BCP falharam"
Noticiado hoje, 2007-11-25
sábado, novembro 24, 2007
Alone 1
"Then I suppose he got tired of you and ran away."
Henrietta’s peculiar scarlet blush flowed rapidly over her cheeks as she flung Agatha's arm away, exclaiming, "How dare you say so! You have no heart. He adored me."
"Bosh!" said Agatha. "People always grow tired of one another. I grow tired of myself whenever I am left alone for ten minutes, and I am certain that I am fonder of myself than anyone can be of another person."
(GB Shaw, An unsocial socialist)
Henrietta’s peculiar scarlet blush flowed rapidly over her cheeks as she flung Agatha's arm away, exclaiming, "How dare you say so! You have no heart. He adored me."
"Bosh!" said Agatha. "People always grow tired of one another. I grow tired of myself whenever I am left alone for ten minutes, and I am certain that I am fonder of myself than anyone can be of another person."
(GB Shaw, An unsocial socialist)
quinta-feira, novembro 22, 2007
Caminhada para o euro 2008: alguns factos
1) De novo no Europeu, e finalmente começa um ser um hábito. Parabéns.
2) Antes de Scolari vivíamos de vitórias morais. Agora as exibições nem sempre agradam, mas a verdade é que os objectivos vão sendo cumpridos.
3) Melhor ataque (juntamente com a Polónia) e melhor diferença de golos do grupo.
4) Num grupo facílimo, o segundo lugar e a qualificação garantida apenas no último jogo (e um único golo da Finlândia teria deitado tudo a perder) sabem a pouco.
5) Nenhuma vitória sobre as 3 equipas "menos más" do grupo (uma derrota e um empate com a Polónia, dois empates com a Finlândia e com a Sérvia).
6) No Europeu o que por lá aparecerá será da Polónia para cima, por isso há muito a melhorar.
2) Antes de Scolari vivíamos de vitórias morais. Agora as exibições nem sempre agradam, mas a verdade é que os objectivos vão sendo cumpridos.
3) Melhor ataque (juntamente com a Polónia) e melhor diferença de golos do grupo.
4) Num grupo facílimo, o segundo lugar e a qualificação garantida apenas no último jogo (e um único golo da Finlândia teria deitado tudo a perder) sabem a pouco.
5) Nenhuma vitória sobre as 3 equipas "menos más" do grupo (uma derrota e um empate com a Polónia, dois empates com a Finlândia e com a Sérvia).
6) No Europeu o que por lá aparecerá será da Polónia para cima, por isso há muito a melhorar.
terça-feira, novembro 20, 2007
Meias
- Queria 6 pares de meias pretas, por favor.
- Lamento, mas as meias pretas estão esgotadas.
- Ah, é pena. Levo só um edredon de solteiro e a loja, por favor.
- Lamento, mas as meias pretas estão esgotadas.
- Ah, é pena. Levo só um edredon de solteiro e a loja, por favor.
segunda-feira, novembro 19, 2007
The Opposite Of Hallelujah
Já várias vezes descreveram a música que ouço como depressiva. Não que concorde com a definição, mas por vezes sabe bem variar e acordar com algo como um Tonight We Fly dos Divine Comedy, ou o Fim do Mundo dos Ala dos Namorados.
Ou este The Opposite of Hallelujah do Jens Lekman.
Ou este The Opposite of Hallelujah do Jens Lekman.
sábado, novembro 10, 2007
Primeiro passo
Os físicos continuam a tentar desenvolver a Teoria Total que explique todo o Universo. Como se sabe, esse será um primeiro, tímido passo para algo muito mais ambicioso e complexo: explicar a Mulher.
sábado, novembro 03, 2007
Da incompetência
Estou a ver o No Direction Home no canal 2 e vou-me rindo, alternadamente, das respostas de Dylan aos jornalistas (Quantos escritores de intervenção como eu existem? Ah? Quer saber quantos? Cerca de 136. 136 ou 142.) e da legendagem (péssima). Um exemplo, de memória: sobre um concerto, alguém se refere ao "sound coming from the speakers"; tradução: "o som vindo dos intervenientes(!)". Segundo exemplo: Dylan falta de pessoas comuns, "people like you and me"; tradução: "as pessoas gostam de você e de mim". (não estive sempre a ouvir com atenção, confesso, e pode até ter-me falhado alguma coisa nestes exemplos, mas haveria vários outros igualmente maus)
Assim como em pequenos acreditamos que os nossos pais sabem tudo, também acreditamos que os vários profissionais são competentes. Lembro-me de ter começado a dar formação (tinha 15, 16 anos) e a partir daí olhar de forma diferente para os meus professores, percebendo o quão incompetentes eram na generalidade. A mesma coisa se passou quando tive o primeiro emprego fixo, e olhei em volta e vi que a incompetência era a normalidade.
E lembro-me de pensar, assustado, que o mesmo se deve passar nas profissões às quais vou confiando a minha vida, desde médicos a pilotos de avião. Ainda não recuperei do susto.
Assim como em pequenos acreditamos que os nossos pais sabem tudo, também acreditamos que os vários profissionais são competentes. Lembro-me de ter começado a dar formação (tinha 15, 16 anos) e a partir daí olhar de forma diferente para os meus professores, percebendo o quão incompetentes eram na generalidade. A mesma coisa se passou quando tive o primeiro emprego fixo, e olhei em volta e vi que a incompetência era a normalidade.
E lembro-me de pensar, assustado, que o mesmo se deve passar nas profissões às quais vou confiando a minha vida, desde médicos a pilotos de avião. Ainda não recuperei do susto.
quarta-feira, outubro 31, 2007
Histórias sem moral nenhuma (2)
Amigos inseparáveis desde a infância, eu e o Pedro, e os dois melhores do nosso ano na Faculdade. Naquele exame eu tive 17, e o Pedro 18; o professor deu-me os parabéns, disse que eu escrevia muito bem, mas acrescentou que tive azar em ser do mesmo ano do Pedro. Ajeitou a gravata como quem vai dizer uma verdade universal, e finalizou: na vida real não tens que ser muito bom, tens que ser o melhor.
Na questão que o Pedro tinha falhado eu tinha tido pontuação máxima; a que eu errei era sobre o autor preferido do Pedro. Num momento de pouca lucidez, cheguei a considerar estudarmos juntos e melhorarmos os dois. Imediatamente bati na cabeça castigando-me pela minha própria estupidez: esse não era, obviamente, o caminho para ser o melhor.
No dia anterior ao segundo exame atropelei o Pedro a caminho da Faculdade, praticamente sem querer. O exame nem me correu especialmente bem e tirei 16, mas fui o melhor.
Na questão que o Pedro tinha falhado eu tinha tido pontuação máxima; a que eu errei era sobre o autor preferido do Pedro. Num momento de pouca lucidez, cheguei a considerar estudarmos juntos e melhorarmos os dois. Imediatamente bati na cabeça castigando-me pela minha própria estupidez: esse não era, obviamente, o caminho para ser o melhor.
No dia anterior ao segundo exame atropelei o Pedro a caminho da Faculdade, praticamente sem querer. O exame nem me correu especialmente bem e tirei 16, mas fui o melhor.
domingo, outubro 28, 2007
Já disse, mas depois talvez diga outra coisa
Sócrates diz que não divulga para já se o governo vai optar por referendar o Tratado de Lisboa, ou se será aprovado pelo Parlamento. A opção ficará em segredo até à assinatura do tratado, a 13 de Dezembro.
Faltou-lhe dizer que se os eleitores tomassem o Engenheiro, o Governo e o PS como honestos, não haveria segredo nenhum: o referendo fazia, afinal, parte do programa de Governo que foi a votos. Como já ninguém acredita nas promessas destes senhores, o segredo mantém-se.
Faltou-lhe dizer que se os eleitores tomassem o Engenheiro, o Governo e o PS como honestos, não haveria segredo nenhum: o referendo fazia, afinal, parte do programa de Governo que foi a votos. Como já ninguém acredita nas promessas destes senhores, o segredo mantém-se.
sexta-feira, outubro 26, 2007
David Sylvian
A mim, que tenho acompanhado a carreira de David Sylvian bastante de longe, parece-me que esta não tem sido feita em linha recta: colaborações com artistas variados têm-no feito visitar terrenos diferentes. Não sei bem se isto tem feito fugir alguns seguidores (que continuarão a preferir ouvir os Japan ou o Secrets of the Behive, preterindo o que o senhor vai editando ultimamente), ou se, pelo contrário, lhe permite ter várias legiões de fãs com gostos diferentes.
O alinhamento do concerto desta Terça no Teatro Circo em Braga, em tudo semelhante, pelo que se lê pela blogosfera, a outros desta The World is Everything Tour, parecia pensado para provar que afinal toda a obra se encaixa na perfeição. Abriu com Wonderful World (dos recentes Nine Horses), passou por World Citizen (sem Sakamoto), por vários temas desde os anos oitenta (Waterfront, Brilliant trees, e até um Ghosts dos Japan disfarçado) até aos mais recentes (A fire in the forest, Snow born sorrow, The librarian) e a coisa apresentava uma coerência que inicialmente não lhe atribuíria.
Em palco, David Sylvian não é dos artistas mais agitados (ou faladores) que por ali passaram. Não vou dizer que o ar é de frete, porque não é, mas todo o concerto é passado sentado no seu banquinho, e a interacção com o público limita-se a uns Thank You's quase inaudíveis. É quase difícil perceber como pode este trabalho tão sedentário levado o homem a cancelar 3 concertos na última semana (Moscovo, San Sebastian, CCB) por fadiga. Cansado ou não, musicalmente foi a perfeição que se lhe reconhece. Até parece fácil.
PS: Anda por aí pelos torrents um concerto em Glasgow do mês passado (com um alinhamento idêntico), com uma qualidade de som bastante boa. Recomendo a quem quiser recordar o que ouviu na Terça, ou aos lisboetas que (oh que pena) não tiveram (ainda?) direito a concerto.
O alinhamento do concerto desta Terça no Teatro Circo em Braga, em tudo semelhante, pelo que se lê pela blogosfera, a outros desta The World is Everything Tour, parecia pensado para provar que afinal toda a obra se encaixa na perfeição. Abriu com Wonderful World (dos recentes Nine Horses), passou por World Citizen (sem Sakamoto), por vários temas desde os anos oitenta (Waterfront, Brilliant trees, e até um Ghosts dos Japan disfarçado) até aos mais recentes (A fire in the forest, Snow born sorrow, The librarian) e a coisa apresentava uma coerência que inicialmente não lhe atribuíria.
Em palco, David Sylvian não é dos artistas mais agitados (ou faladores) que por ali passaram. Não vou dizer que o ar é de frete, porque não é, mas todo o concerto é passado sentado no seu banquinho, e a interacção com o público limita-se a uns Thank You's quase inaudíveis. É quase difícil perceber como pode este trabalho tão sedentário levado o homem a cancelar 3 concertos na última semana (Moscovo, San Sebastian, CCB) por fadiga. Cansado ou não, musicalmente foi a perfeição que se lhe reconhece. Até parece fácil.
PS: Anda por aí pelos torrents um concerto em Glasgow do mês passado (com um alinhamento idêntico), com uma qualidade de som bastante boa. Recomendo a quem quiser recordar o que ouviu na Terça, ou aos lisboetas que (oh que pena) não tiveram (ainda?) direito a concerto.
quarta-feira, outubro 24, 2007
Esgotado
David Sylvian, esgotado, faltou ao concerto no CCB no Domingo.
David Sylvian deu grande concerto ontem num Teatro Circo esgotado.
Está aí escondida, tenho a certeza, uma qualquer piada aproveitando a polissemia da palavra, mas neste momento não estou a ver qual.
David Sylvian deu grande concerto ontem num Teatro Circo esgotado.
Está aí escondida, tenho a certeza, uma qualquer piada aproveitando a polissemia da palavra, mas neste momento não estou a ver qual.
terça-feira, outubro 23, 2007
Escutas
O Ministério Público e a PJ não gostaram que o Procurador-Geral da República, Pinto Monteiro, viesse dizer, em entrevista ao Sol, que se fazem demasiadas escutas em Portugal.
Aliás, MP e PJ já não tinham gostado quando o Procurador expressou a mesma opinião, há algumas semanas, ao telefone com um amigo.
Aliás, MP e PJ já não tinham gostado quando o Procurador expressou a mesma opinião, há algumas semanas, ao telefone com um amigo.
sexta-feira, outubro 19, 2007
Histórias sem moral nenhuma
Ia sozinho no automóvel. O embate foi violento e fatal.
Abriu a porta, saiu, deu a volta ao carro e entrou pelo lado do passageiro. Sentou-se e pensou satisfeito que agora sim estava no lugar do morto. Toda a sua vida tinha sido conhecido por ser extremamente organizado, e não ia agora morrer fora do lugar.
Abriu a porta, saiu, deu a volta ao carro e entrou pelo lado do passageiro. Sentou-se e pensou satisfeito que agora sim estava no lugar do morto. Toda a sua vida tinha sido conhecido por ser extremamente organizado, e não ia agora morrer fora do lugar.
quinta-feira, outubro 18, 2007
Doris
Diz o Pedro Mexia que não comenta o Nobel a Doris Lessing porque "apenas" leu 2 dos seus 50 livros.
Em primeiro lugar, Pedro, parece-me uma limitação grave. Eu, que nunca li Doris Lessing, sinto-me perfeitamente à vontade para entrar num qualquer debate sobre a velhinha; dependendo do lado da mesa em que me coloquem, sou capaz de a defender com entusiasmo, e que vale muito mais o conjunto coerente da totalidade da sua obra do que cada livro individual (e bla bla); ou então, sentando-me do outro lado, defender com o mesmo entusiasmo que o prémio se destina não aos seus escritos mas ao passado de esquerda e feminista (e bla bla).
Por outro lado, um escritor de quem li 2 livros passa directamente para o rol de escritores de quem mais li. Dizer de algum escritor que li "apenas" 2 livros não me passa pela cabeça. Parecendo que não, isto de trabalhar acaba por roubar tempo a um gajo.
Em primeiro lugar, Pedro, parece-me uma limitação grave. Eu, que nunca li Doris Lessing, sinto-me perfeitamente à vontade para entrar num qualquer debate sobre a velhinha; dependendo do lado da mesa em que me coloquem, sou capaz de a defender com entusiasmo, e que vale muito mais o conjunto coerente da totalidade da sua obra do que cada livro individual (e bla bla); ou então, sentando-me do outro lado, defender com o mesmo entusiasmo que o prémio se destina não aos seus escritos mas ao passado de esquerda e feminista (e bla bla).
Por outro lado, um escritor de quem li 2 livros passa directamente para o rol de escritores de quem mais li. Dizer de algum escritor que li "apenas" 2 livros não me passa pela cabeça. Parecendo que não, isto de trabalhar acaba por roubar tempo a um gajo.
terça-feira, outubro 16, 2007
Populismo
Gostaria de ter escrito isto, mas o Pedro Magalhães já o fez, e bem:
Anteontem, Manuela Ferreira Leite, dirigindo-se ao congresso do PSD, explicava por que razão os temas da regionalização e do referendo europeu não deveriam fazer parte da agenda do partido no futuro próximo. Quanto ao primeiro, cito de memória, isso corresponderia a "servir de lebre ao PS" e a perder uma bandeira (a da oposição à regionalização) que tinha dado sucessos políticos e eleitorais ao partido no passado. Quanto ao referendo europeu, ele seria de evitar porque obrigaria a fazer campanha com o PS sobre um tema no qual os dois partidos estão de acordo, desfavorecendo, mais uma vez, a possibilidade de o segundo se diferenciar do primeiro. Sobre se a regionalização, o tratado europeu ou a sua submissão a referendo são "bons" ou "maus" em si mesmos, não recordo uma palavra. Assim, os eleitores que tenham ouvido Manuela Ferreira Leite só podem chegar a duas conclusões. A primeira é que a entrada ou saída dos temas da agenda não tem, pelos vistos, rigorosamente nada a ver com a sua substância, mas sim com a maneira ela como pode afectar o "jogo" político e as perspectivas eleitorais do partido.[...]
Foi exactamente o que pensei quando ouvi o discurso de MFL no congresso do PSD. Houve ainda outro argumento, na mesma linha, que o Pedro Magalhães não citou: não podemos pedir baixa de impostos pois isso seria admitir que tal já é possível devido ao bom trabalho do PS nestes dois anos, e não podemos admitir isso.
Já se sabe que este tipo de raciocínios serão normais em reuniões à porta fechada, ou em discursos "para dentro", mas estranha-se vê-los expostos, tão clara e cinicamente, em discursos a que o comum eleitor pode aceder pela TV, pelas rádios, pelos jornais.
Esta falta de vergonha só se compreende por uma de duas razões: ou consideram que cá fora ninguém liga patavina a estes discursos, ou acham que o povinho mesmo que os ouça não os vai perceber. E o mais triste é que são capazes de ter razão..
Anteontem, Manuela Ferreira Leite, dirigindo-se ao congresso do PSD, explicava por que razão os temas da regionalização e do referendo europeu não deveriam fazer parte da agenda do partido no futuro próximo. Quanto ao primeiro, cito de memória, isso corresponderia a "servir de lebre ao PS" e a perder uma bandeira (a da oposição à regionalização) que tinha dado sucessos políticos e eleitorais ao partido no passado. Quanto ao referendo europeu, ele seria de evitar porque obrigaria a fazer campanha com o PS sobre um tema no qual os dois partidos estão de acordo, desfavorecendo, mais uma vez, a possibilidade de o segundo se diferenciar do primeiro. Sobre se a regionalização, o tratado europeu ou a sua submissão a referendo são "bons" ou "maus" em si mesmos, não recordo uma palavra. Assim, os eleitores que tenham ouvido Manuela Ferreira Leite só podem chegar a duas conclusões. A primeira é que a entrada ou saída dos temas da agenda não tem, pelos vistos, rigorosamente nada a ver com a sua substância, mas sim com a maneira ela como pode afectar o "jogo" político e as perspectivas eleitorais do partido.[...]
Foi exactamente o que pensei quando ouvi o discurso de MFL no congresso do PSD. Houve ainda outro argumento, na mesma linha, que o Pedro Magalhães não citou: não podemos pedir baixa de impostos pois isso seria admitir que tal já é possível devido ao bom trabalho do PS nestes dois anos, e não podemos admitir isso.
Já se sabe que este tipo de raciocínios serão normais em reuniões à porta fechada, ou em discursos "para dentro", mas estranha-se vê-los expostos, tão clara e cinicamente, em discursos a que o comum eleitor pode aceder pela TV, pelas rádios, pelos jornais.
Esta falta de vergonha só se compreende por uma de duas razões: ou consideram que cá fora ninguém liga patavina a estes discursos, ou acham que o povinho mesmo que os ouça não os vai perceber. E o mais triste é que são capazes de ter razão..
sexta-feira, outubro 12, 2007
Conversa a 8
[...] e acreditaram que com aquele "cá estamos" me referia também a eles dois, certos como estavam de que ali, naquela sala de estar, estávamos agora três e não nove; ou antes, oito, visto que eu - por mim mesmo já não contava.
Que seja:
1) Dida, como era para si própria;
2) Dida, como era para mim;
3) Dida, como era para Quantorzo;
4) Quantorzo, como era para si próprio;
5) Quantorzo, como era para Dida;
6) Quantorzo, como era para mim;
7) O querido Gengè de Dida;
8) O caro Vitangelo de Quantorzo.
Naquela sala de estar, entre aqueles oito que se julgavam três, preparava-se uma bela conversa.
(Um, Ninguém e Cem Mil, de Luigi Pirandello, cap. V)
Que seja:
1) Dida, como era para si própria;
2) Dida, como era para mim;
3) Dida, como era para Quantorzo;
4) Quantorzo, como era para si próprio;
5) Quantorzo, como era para Dida;
6) Quantorzo, como era para mim;
7) O querido Gengè de Dida;
8) O caro Vitangelo de Quantorzo.
Naquela sala de estar, entre aqueles oito que se julgavam três, preparava-se uma bela conversa.
(Um, Ninguém e Cem Mil, de Luigi Pirandello, cap. V)
quarta-feira, outubro 10, 2007
Quarter Pounder with Cheese
O Vincent ficaria surpreendido ao descobrir que, apesar do sistema métrico, os espanhóis lhe chamam Cuarto de Libra con Queso.
segunda-feira, outubro 01, 2007
É que me lixo...
Será que as pessoas com quem me cruzo apenas quando vou levar o lixo à rua sabem que, em circunstâncias normais, não cheiro a comida estragada?
sexta-feira, setembro 28, 2007
Mulheres...
Viola deitou-se sobre a pele de javali.
- Trouxeste aqui outras mulheres?
Ele hesitou. E Viola:
- Se não trouxeste, não és homem, não és nada...
- Sim... uma ou outra...
Levou uma bofetada na cara, com a mão muito aberta.
- Era então assim que me esperavas?
(O Barão Trepador, Calvino)
- Trouxeste aqui outras mulheres?
Ele hesitou. E Viola:
- Se não trouxeste, não és homem, não és nada...
- Sim... uma ou outra...
Levou uma bofetada na cara, com a mão muito aberta.
- Era então assim que me esperavas?
(O Barão Trepador, Calvino)
Liderança
- Sabes que poderias comandar toda a nobreza, que te deveria vassalagem, com o título de duque?
- Sei apenas que quando tenho mais ideias do que os outros entrego a eles essas ideias, se as aceitam; e julgo que seja isto verdadeiramente comandar.
(O Barão Trepador, Calvino)
- Sei apenas que quando tenho mais ideias do que os outros entrego a eles essas ideias, se as aceitam; e julgo que seja isto verdadeiramente comandar.
(O Barão Trepador, Calvino)
sexta-feira, setembro 14, 2007
quinta-feira, setembro 13, 2007
Ensaio sensual
Normalmente, os mails de spam que tentam levar-nos a carregar num link qualquer são escritos num português macarrónico, e tão sem imaginação que não enganarão ninguém. Este que recebi, no entanto, achei bastante curioso pela forma como apela ao voyeur dentro de nós (salvo seja).
Olá Marilia,como foi seu dia????
Muita ressaca?? Olha eu fiquei bem melhor depois que vomitei tudo.
Também,misturar vodka com montilla não foi uma boa idéia,mais esse foi um dos melhores finais de semana da minha vida.
Olha,o ronaldo estava com as fotos mas eu peguei o cartão de memória da maquina dele e descarreguei no meu pc.
Estava cheia daquelas fotos da piscina (do "ensaio sensual" rsrsrs) nossas mais eu gravei no meu pc e apaguei tudo do cartãozinho de memória...Estou te mandando algumas delas aqui,mais cuidado pra não cair em mãos erradas e não dá merda pra nós duas!
<link para site manhoso>Fotos_farra.jpg</link>
Um beijo!!!
De sua amiga Jú.
Olá Marilia,como foi seu dia????
Muita ressaca?? Olha eu fiquei bem melhor depois que vomitei tudo.
Também,misturar vodka com montilla não foi uma boa idéia,mais esse foi um dos melhores finais de semana da minha vida.
Olha,o ronaldo estava com as fotos mas eu peguei o cartão de memória da maquina dele e descarreguei no meu pc.
Estava cheia daquelas fotos da piscina (do "ensaio sensual" rsrsrs) nossas mais eu gravei no meu pc e apaguei tudo do cartãozinho de memória...Estou te mandando algumas delas aqui,mais cuidado pra não cair em mãos erradas e não dá merda pra nós duas!
<link para site manhoso>Fotos_farra.jpg</link>
Um beijo!!!
De sua amiga Jú.
terça-feira, setembro 11, 2007
Escola virtual
Numa conhecida loja de electrodomésticos, decidiram que o DVD Escola Virtual: Matemática 9º Ano ficava bem ao lado de Tentações Anais. Parece-me que faz sentido; aliás, o autocolante "Melhora as tuas notas" poderia até ter sido colado também no das tentações...
segunda-feira, setembro 10, 2007
Opiniões
Definitivamente os ingleses não têm a mesma opinião que nós sobre os nossos avós:
Egrégio: do Lat. egrejiu, ovelha selecta < e, acima de + grege, rebanho; adj., elevado; distinto; nobre; ilustre; insigne.
Egregious: adjective 1. extraordinary in some bad way; glaring; flagrant: an egregious mistake; an egregious liar.
Egrégio: do Lat. egrejiu, ovelha selecta < e, acima de + grege, rebanho; adj., elevado; distinto; nobre; ilustre; insigne.
Egregious: adjective 1. extraordinary in some bad way; glaring; flagrant: an egregious mistake; an egregious liar.
quinta-feira, setembro 06, 2007
7 1/2
O elevador deste Ibis em Madrid seria perfeito para o Craig Schwartz utilizar no edifício Mertin Flemmer.
terça-feira, setembro 04, 2007
Por a + b
(público, 2007-09-03)
Está demonstrada a eficácia destas câmara de vigilância: até Maio, enquanto elas funcionaram, praticamente não houve incêndios; a partir de Junho, já sem câmaras, os incêndios começaram a aparecer.
segunda-feira, setembro 03, 2007
quinta-feira, agosto 16, 2007
O Murtal e o milénio
No capítulo doze do excelente "O pequeno livro do grande terramoto", Rui Tavares conta a história da bruxa do Murtal que "previu" um novo terramoto em Lisboa para 19 de Fevereiro de 1989. Os lisboetas, claro, não levaram nada disto a sério, mas, aparentemente, foram nesse fim-de-semana todos "passear" até à casa de campo da família, saída que "já tinham programado há muito tempo".
Em seguida, Rui Tavares decide dar mais 2 exemplos recentes de casos semelhantes (p. 199): a "mania da destruição de Paris, em Agosto de 1999, lançada por Paco Rabanne" e a "paranóia do bug do milénio".
Comparar o bug do ano 2000 com as previsões de Paco Rabanne e da bruxa do Murtal é, no mínimo, insultuoso para milhares de pessoas que passaram grande parte do ano de 99 e da própria noite de passagem de ano a trabalhar para que o Rui Tavares pudesse ter passado essa mesma noite calmamente a beber o seu champanhe. E mostra, o que é pena, que o Rui Tavares, que é das pessoas cujas opiniões mais gosto de ler e ouvir, não parece escapar à ignorância generalizada de tudo que entre no domínio das ciências exactas, a que no passado já me referi.
Em seguida, Rui Tavares decide dar mais 2 exemplos recentes de casos semelhantes (p. 199): a "mania da destruição de Paris, em Agosto de 1999, lançada por Paco Rabanne" e a "paranóia do bug do milénio".
Comparar o bug do ano 2000 com as previsões de Paco Rabanne e da bruxa do Murtal é, no mínimo, insultuoso para milhares de pessoas que passaram grande parte do ano de 99 e da própria noite de passagem de ano a trabalhar para que o Rui Tavares pudesse ter passado essa mesma noite calmamente a beber o seu champanhe. E mostra, o que é pena, que o Rui Tavares, que é das pessoas cujas opiniões mais gosto de ler e ouvir, não parece escapar à ignorância generalizada de tudo que entre no domínio das ciências exactas, a que no passado já me referi.
domingo, agosto 12, 2007
A internet reabre amanhã abre às 8h
A disponibilização de serviços na Web, já se sabe, implica uma mudança de paradigma que nem sempre é fácil de colocar em prática. Alguns casos, no entanto, são difíceis de compreender: esta é a mensagem apresentada pelo site da segurança social, após ter pedido para disponibilizar a minha situação contributiva a outra entidade:
domingo, agosto 05, 2007
Sim, ainda vais a tempo
Este post é dedicado a quem chegou aos 30, 40, 50 ou até 60 anos e pensa que começa a ser tarde para deixar obra para a posteridade.
Eis as (curtas) linhas decidadas a Saramago em 1983, tinha o senhor os seus 60 anos, pelo Pequeno Dicionário de Autores de Língua Portuguesa (Amigos do Livro).
Em 82 publicou o Memorial do Convento, em 84 o tal Ano da Morte de Ricardo Reis, em 91 o Evangelho segundo Jesus Cristo, em 95 o Ensaio sobre a cegueira. Em 98, com 75 anos, tornar-se-ia no primeiro prémio nobel da literatura de língua portuguesa. Aos 85 anos continua a escrever.
Eis as (curtas) linhas decidadas a Saramago em 1983, tinha o senhor os seus 60 anos, pelo Pequeno Dicionário de Autores de Língua Portuguesa (Amigos do Livro).
Natural de Azinhaga, na Golegã, tem apenas estudos secundários. Jornalista, dirigiu, em 1975, o Diário de Notícias e tem colaboração dispersa noutros periódicos e em revistas, como Seara Nova. Foi director literário e de produção de uma editora. É autor de poesia, ficção e teatro. Recebeu o "Prémio Cidade de Lisboa", pelo seu livro Levantado do Chão, editado em 1980. Tem para próxima publicação o romance O Ano da Morte de Ricardo Reis e planos para uma peça que pensa intitular A Segunda Vida de Francisco Assis.
Em 82 publicou o Memorial do Convento, em 84 o tal Ano da Morte de Ricardo Reis, em 91 o Evangelho segundo Jesus Cristo, em 95 o Ensaio sobre a cegueira. Em 98, com 75 anos, tornar-se-ia no primeiro prémio nobel da literatura de língua portuguesa. Aos 85 anos continua a escrever.
quinta-feira, junho 28, 2007
Balada do mar partido
Little girl have I told you
how you light up my life
come and lay down beside me
come and thrill me tonight
do you wanna?
Soa por vezes a Belle & Sebastian (por razões óbvias), mas também a Western spaghetti, a Cohen ou a Nick Cave colheita Boatman's call. É Ballad of the Broken Sea, é Isobel Campbell e Mark Lanegan, e é o que tem tocado por aqui.
how you light up my life
come and lay down beside me
come and thrill me tonight
do you wanna?
Soa por vezes a Belle & Sebastian (por razões óbvias), mas também a Western spaghetti, a Cohen ou a Nick Cave colheita Boatman's call. É Ballad of the Broken Sea, é Isobel Campbell e Mark Lanegan, e é o que tem tocado por aqui.
quarta-feira, junho 13, 2007
Ir e voltar
Já sabia que o aeroporto de Frankfurt era grande, mas embarcar na porta A14, levantar voo, e passado uma hora estar de volta na porta A17 nunca me tinha acontecido.
(a meio do voo para Viena voltamos para trás devido a um problema técnico; ao que tudo indica, tratou-se de uma partida do destino para dar oportunidade à Naoko - vinda de Tóquio para o mesmo evento que eu - de meter conversa).
(a meio do voo para Viena voltamos para trás devido a um problema técnico; ao que tudo indica, tratou-se de uma partida do destino para dar oportunidade à Naoko - vinda de Tóquio para o mesmo evento que eu - de meter conversa).
domingo, junho 10, 2007
Marketing
Ouvido em frente a uma barraca de S. João:
- É comprar rápido antes que chegue a ASAE e leve tudo...
- É comprar rápido antes que chegue a ASAE e leve tudo...
sexta-feira, junho 08, 2007
Andrew Bird
Sala já quase cheia à espera do início do espectáculo e o lugar ao meu lado direito, ali na 2ª fila, ainda vazio. A conversa já é repetida: ninguém se quer sentar ao teu lado, e tal, ah, vais ver a gaja boa que se vai sentar aqui (sim, nós homens somos assim infantis; mas deixem-nos, era o dia da criança). Enfim, a brincadeira do costume.
Com a diferença que destava vez não foi brincadeira.
Ao fundo da fila, fazendo as pessoas levantaram-se para conseguir passar, vem ela, direitinha ao meu lugar. Com o mesmo olhar perdido da Milla Jovovich no 5º elemento, mas com o cabelo curto como a Natalie Portman aqui há uns tempos. Sentou-se ao meu lado. Os olhos, grandes, destacam-se numa face de nariz e boca pequeninos. A orelha esquerda discute com o pescoço qual merece ser trincado primeiro, e ambos apresentam argumentos muito convincentes. A camisa, marota, não esconde um soutien pérola, e lá dentro uns seios pequenos não parecem contentes em estar presos, e tentam também sair e mostrar-se. Aos calções pela virilha seguem-se pernas longas e reluzentes. As sandálias de dedo mostram todo o pé, e duas vezes cinco dedos que pedem para ser contados das mais variadas formas.
Era nisto que pensava quando me apercebo que o espectáculo já começou. Os restantes espectadores pareciam estar atentos aos músicos, numa espécie de alucinação colectiva que os fazia acreditar que o mais interessante daquela sala estava em cima do palco.
E deve ter sido um concerto muito bom. Sim, deve ter sido, porque lembro-me de por breves momentos ter deixado de pensar no soutien pérola para ouvir com a atenção possível o violino de Andrew Bird. Tenho ideia que cheguei a esquecer brevemente os olhos grandes na face pequenina, para ouvir o som que ecoava na sala e me fazia lembrar um Jeff Buckley que tivesse aproveitado estes últimos anos, menos agitados, para aprender a tocar violino. Recordo-me de ter por instantes deixado de ouvir a discussão entre a orelha esquerda e o pescoço, para escutar o assobio mágico que nos faz duvidar se Bird é o seu nome de família ou uma alcunha bem escolhida. A passos deixei de imaginar até onde poderiam aquelas pernas levar alguém, para ouvir um pouco do pop-que-não-é-pop que se ia fazendo naquela sala.
Deve ter sido um concerto muito bom. Mesmo muito bom. Só tenho pena de não ter podido estar presente.
Com a diferença que destava vez não foi brincadeira.
Ao fundo da fila, fazendo as pessoas levantaram-se para conseguir passar, vem ela, direitinha ao meu lugar. Com o mesmo olhar perdido da Milla Jovovich no 5º elemento, mas com o cabelo curto como a Natalie Portman aqui há uns tempos. Sentou-se ao meu lado. Os olhos, grandes, destacam-se numa face de nariz e boca pequeninos. A orelha esquerda discute com o pescoço qual merece ser trincado primeiro, e ambos apresentam argumentos muito convincentes. A camisa, marota, não esconde um soutien pérola, e lá dentro uns seios pequenos não parecem contentes em estar presos, e tentam também sair e mostrar-se. Aos calções pela virilha seguem-se pernas longas e reluzentes. As sandálias de dedo mostram todo o pé, e duas vezes cinco dedos que pedem para ser contados das mais variadas formas.
Era nisto que pensava quando me apercebo que o espectáculo já começou. Os restantes espectadores pareciam estar atentos aos músicos, numa espécie de alucinação colectiva que os fazia acreditar que o mais interessante daquela sala estava em cima do palco.
E deve ter sido um concerto muito bom. Sim, deve ter sido, porque lembro-me de por breves momentos ter deixado de pensar no soutien pérola para ouvir com a atenção possível o violino de Andrew Bird. Tenho ideia que cheguei a esquecer brevemente os olhos grandes na face pequenina, para ouvir o som que ecoava na sala e me fazia lembrar um Jeff Buckley que tivesse aproveitado estes últimos anos, menos agitados, para aprender a tocar violino. Recordo-me de ter por instantes deixado de ouvir a discussão entre a orelha esquerda e o pescoço, para escutar o assobio mágico que nos faz duvidar se Bird é o seu nome de família ou uma alcunha bem escolhida. A passos deixei de imaginar até onde poderiam aquelas pernas levar alguém, para ouvir um pouco do pop-que-não-é-pop que se ia fazendo naquela sala.
Deve ter sido um concerto muito bom. Mesmo muito bom. Só tenho pena de não ter podido estar presente.
(braga, 1 Junho 2007)
segunda-feira, junho 04, 2007
Maldoror
Mal ou bem, os mão morta nunca foram associados a intelectualidade; prova disso, de certa forma, era a estranheza que se notava quando alguém ficava a saber que o Luxúria Canibal da noite bracarence era de dia o advogado Adolfo Macedo.
Com a idade, no entanto, também os grupos vão ganhando necessidade de se fazerem respeitar, e os Mão Morta têm, parece-me, percorrido bem esse caminho: assim foi com Heiner Müller aqui há uns anos, e assim é agora com os Cantos de Maldoror.
Parece que o Conde de Lautreamont se tem que ler na adolescência, e deve ter sido por falhar aí que hoje este tipo de literatura não é exactamente my cup of tea. Ainda assim, foi um espectáculo bem conseguido, por exemplo com um cuidado guarda-roupa e curiosos efeitos como o Luxúria a filmar-se e, em tempo real, a projectar nas suas costas o interior da própria boca. Não é para qualquer grupo encher o Teatro Circo em dois dias consecutivos com um espectáculo de hora e meia de monólogo (interrompido apenas raramente pelo resto do grupo), e só se explica por uma já longa carreira de sucesso dos Mão Morta, sempre intimamente ligada à cidade de Braga.
Com a idade, no entanto, também os grupos vão ganhando necessidade de se fazerem respeitar, e os Mão Morta têm, parece-me, percorrido bem esse caminho: assim foi com Heiner Müller aqui há uns anos, e assim é agora com os Cantos de Maldoror.
Parece que o Conde de Lautreamont se tem que ler na adolescência, e deve ter sido por falhar aí que hoje este tipo de literatura não é exactamente my cup of tea. Ainda assim, foi um espectáculo bem conseguido, por exemplo com um cuidado guarda-roupa e curiosos efeitos como o Luxúria a filmar-se e, em tempo real, a projectar nas suas costas o interior da própria boca. Não é para qualquer grupo encher o Teatro Circo em dois dias consecutivos com um espectáculo de hora e meia de monólogo (interrompido apenas raramente pelo resto do grupo), e só se explica por uma já longa carreira de sucesso dos Mão Morta, sempre intimamente ligada à cidade de Braga.
(braga, 11 maio 2007)
sexta-feira, maio 25, 2007
Igualdade
A Bárbara Reis brincava hoje no Ipsilon com o facto de o vencedor masculino do Lisboa Downtown 2007 ter recebido 5000€ de prémio, enquanto a vencedora feminina recebeu apenas 2500€. Escandaloso o facto de ter recebido apenas metade: segundo as suas contas, ao demorar apenas mais 15% do tempo (1m54 contra 1m39), a Sabrina Jonnnier deveria ter recebido quatro mil e qualquer coisa euros.
Tenho uma solução ainda mais justa: em nome da igualdade, porque não receber o mesmo que um homem que tenha feito também 1m54? Não sei a classificação completa, mas sei por exemplo que o 5º classificado, com 1m42, recebeu 750€...
Tenho uma solução ainda mais justa: em nome da igualdade, porque não receber o mesmo que um homem que tenha feito também 1m54? Não sei a classificação completa, mas sei por exemplo que o 5º classificado, com 1m42, recebeu 750€...
Blitz aprova
Comprei apenas a Blitz nº 1, e não voltei a repetir até ao mês passado, que comprei por culpa de um pequeno livro Blitz Aprova. Serão no total seis livros (grátis com a revista) e o primeiro número era dedicado a Pop/Rock 1993-2006, sendo os restantes referentes a períodos anteriores. A ideia é mostrar os melhores discos de cada período; o livro estava porreirito, e acho que me vai fazer comprar a Blitz nos próximos meses. Hoje já deve estar nas bancas o segundo (1985-1993).
Achei curioso, já agora, que o primeiro número "aprove" 3 discos de bandas que estiveram no 1º festival para gente sentada: o Regard the End dos Willard Grant Conspiracy, que comprei lá assinado pelo Robert Fischer; o Rejoicing in the Hands, que se bem me lembro era na altura o último álbum do Devendra; e o Greetins from Michigan, sendo que a actuação do Sufjan Stevens foi ao lado de um mapa desse estado.
Achei curioso, já agora, que o primeiro número "aprove" 3 discos de bandas que estiveram no 1º festival para gente sentada: o Regard the End dos Willard Grant Conspiracy, que comprei lá assinado pelo Robert Fischer; o Rejoicing in the Hands, que se bem me lembro era na altura o último álbum do Devendra; e o Greetins from Michigan, sendo que a actuação do Sufjan Stevens foi ao lado de um mapa desse estado.
segunda-feira, maio 21, 2007
Um Anjo na Terra
(sim, eu sei que isto chega com quase 3 semanas de atraso...)
A noite começou com um senhor de quem pensava nada ou quase nada ter ouvido. Estranhamente, fui descobrindo ao longo da sua actuação que afinal aquilo me soava conhecido. Tenho a certeza que já ouvi Carousing, por exemplo, muitas e muitas vezes. Onde? Não sei, acho que nunca vou saber. De qualquer forma, conhecidas ou não, as músicas não conseguiram impressionar: Alasdair Roberts pareceu demasiado sozinho no palco, apenas mais uma voz com a uma guitarra.
E depois, claro, veio o Anjo.
Todos sabemos que pedir a Deus que nos prove a sua existência não é coisa que se faça: o crente tem fé sem necessidade de milagres que a provem. Por vontade próprioa no entanto, Ele insiste em nos ir dando provas, e elas aparecem sob as mais diversas formas. Um Anjo, todo de branco como deve ser um Anjo, a tocar harpa como toca um Anjo, a cantar como canta um Anjo, foi a prova que esteve na semana passada no Teatro Circo. Com o mesmo sentido de humor dos irmão que disseriam chamar Eon (ao the One), Deus pegou nas letras de Anjo e decidiu chamar-lhe Joanna. Conta quem conseguiu manter algum nível de concentração que o Anjo nos encantou principalmente com o seu último álbum; até Only Skin, que tinha faltado em Lisboa (- we can't play that one, it's too long / - oh, come on / - ok, ok, but we ain't pleased).
Momento da noite: talvez o Sawdust & Diamonds;
O que faltou: Inflamatory writ, cujo início é o meu toque de telemóvel há já muito tempo;
O momento mais surreal: O Anjo diz que não nos consegue ver dada a iluminação da sala. - Oh, I can see some mobile phones now... And someone has a lighter... / - And I have a priest, diz uma voz algumas filas atrás de mim. / - A what?, diz o Anjo. / - Priest. P-R-I-E-S-T / - A priest?, repete o Anjo, sem perceber ainda a relaçao com telemóveis e isqueiros. Your jokes are my favourites, diz o Anjo entre-dentes, que os Anjos também podem ser irónicos. - To marry me (sic), diz a voz, já quase ninguém ouvir (nem o Anjo), e assim perdendo-se a piada que esteve a preparar toda a semana.
O pior: O rapaz exactamente atrás de mim acho que gritar UUU-AAA era a melhor forma de acabar cada uma das músicas (curiosamente aplicando a mesma receita ao pouco inspirado Alasdair e ao Anjo que se seguiu). A namorada, ainda mais curiosamente, era da mesma opinião, e lá iam gritando os dois, por vezes alternadamente, por vezes em uníssono. Lembrei-me na altura que "E o burro viu o Anjo" seria um bom título para o que se passava ali.
(a imagem é mostrada apenas para confirmar a crença popular de que, não lhes sendo possível roubar a alma, os anjos aparecem nas fotografias apenas como clarão de luz)
A noite começou com um senhor de quem pensava nada ou quase nada ter ouvido. Estranhamente, fui descobrindo ao longo da sua actuação que afinal aquilo me soava conhecido. Tenho a certeza que já ouvi Carousing, por exemplo, muitas e muitas vezes. Onde? Não sei, acho que nunca vou saber. De qualquer forma, conhecidas ou não, as músicas não conseguiram impressionar: Alasdair Roberts pareceu demasiado sozinho no palco, apenas mais uma voz com a uma guitarra.
E depois, claro, veio o Anjo.
Todos sabemos que pedir a Deus que nos prove a sua existência não é coisa que se faça: o crente tem fé sem necessidade de milagres que a provem. Por vontade próprioa no entanto, Ele insiste em nos ir dando provas, e elas aparecem sob as mais diversas formas. Um Anjo, todo de branco como deve ser um Anjo, a tocar harpa como toca um Anjo, a cantar como canta um Anjo, foi a prova que esteve na semana passada no Teatro Circo. Com o mesmo sentido de humor dos irmão que disseriam chamar Eon (ao the One), Deus pegou nas letras de Anjo e decidiu chamar-lhe Joanna. Conta quem conseguiu manter algum nível de concentração que o Anjo nos encantou principalmente com o seu último álbum; até Only Skin, que tinha faltado em Lisboa (- we can't play that one, it's too long / - oh, come on / - ok, ok, but we ain't pleased).
Momento da noite: talvez o Sawdust & Diamonds;
O que faltou: Inflamatory writ, cujo início é o meu toque de telemóvel há já muito tempo;
O momento mais surreal: O Anjo diz que não nos consegue ver dada a iluminação da sala. - Oh, I can see some mobile phones now... And someone has a lighter... / - And I have a priest, diz uma voz algumas filas atrás de mim. / - A what?, diz o Anjo. / - Priest. P-R-I-E-S-T / - A priest?, repete o Anjo, sem perceber ainda a relaçao com telemóveis e isqueiros. Your jokes are my favourites, diz o Anjo entre-dentes, que os Anjos também podem ser irónicos. - To marry me (sic), diz a voz, já quase ninguém ouvir (nem o Anjo), e assim perdendo-se a piada que esteve a preparar toda a semana.
O pior: O rapaz exactamente atrás de mim acho que gritar UUU-AAA era a melhor forma de acabar cada uma das músicas (curiosamente aplicando a mesma receita ao pouco inspirado Alasdair e ao Anjo que se seguiu). A namorada, ainda mais curiosamente, era da mesma opinião, e lá iam gritando os dois, por vezes alternadamente, por vezes em uníssono. Lembrei-me na altura que "E o burro viu o Anjo" seria um bom título para o que se passava ali.
(a imagem é mostrada apenas para confirmar a crença popular de que, não lhes sendo possível roubar a alma, os anjos aparecem nas fotografias apenas como clarão de luz)
domingo, maio 06, 2007
E pôr isto mais barato, não?
Acordo num daqueles dias em que penso que não tenho nada para ouvir, e vou à Fnac comprar 1 ou 2 cdzitos. Pouco tempo depois de ter entrado já decidi que o mais certo é não comprar nada: evito, por princípio, dar 4 ou 5 contos por um CD.
Procuro por exemplo o Kicking against the pricks, que já há bastante tempo me roubaram do carro e queria comprar novamente, e encontro-o a 19€: um cd com 20 anos! As novidades, essas, andas pelos 22 euros.
Enquanto o mercado de CD's definha, vendem-se DVD's, digo eu, como nunca se venderam cassestes VHS. Sera que é porque os DVD's aparecem, enquanto novidade, a vinte, vinte e tal euros, mas após algum tempo estão a 10, a 7 ou a 4,99?
Será possível que o iTunes seja um grande negócio a vender álbuns a 10 dólares e que não se consiga realmente vender, lucrativamente, um CD a menos de 20€, sendo que o suporte em si custa meia dúzia de tostões?
Acabo por sair de lá com 3 livros e um DVD, tudo por pouco mais do que me teria custado um CD. Não comprei CD nenhum. E a culpa, estou certo, é do emule e dos piratas.
Procuro por exemplo o Kicking against the pricks, que já há bastante tempo me roubaram do carro e queria comprar novamente, e encontro-o a 19€: um cd com 20 anos! As novidades, essas, andas pelos 22 euros.
Enquanto o mercado de CD's definha, vendem-se DVD's, digo eu, como nunca se venderam cassestes VHS. Sera que é porque os DVD's aparecem, enquanto novidade, a vinte, vinte e tal euros, mas após algum tempo estão a 10, a 7 ou a 4,99?
Será possível que o iTunes seja um grande negócio a vender álbuns a 10 dólares e que não se consiga realmente vender, lucrativamente, um CD a menos de 20€, sendo que o suporte em si custa meia dúzia de tostões?
Acabo por sair de lá com 3 livros e um DVD, tudo por pouco mais do que me teria custado um CD. Não comprei CD nenhum. E a culpa, estou certo, é do emule e dos piratas.
quarta-feira, maio 02, 2007
Senhor Pássaro de Corda
- Algures, numa terra distante, havia uma ilha de merda. Sem nome nem nada. Uma ilha de merda com a forma de um monte de merda. Ali cresciam palmeiras com uma forma de merda. E as palmeiras davam cocos que sabiam a merda. Mas ali também havia macacos que adoravam os cocos que sabiam a merda. E cagavam excremento de merda. A merda caía na terra, aumentava a camada de merda e as palmeiras de merda que ali cresciam eram cada vez mais de merda. Um círculo vicioso.
Bebi o resto do café.
- Aqui sentado a olhar para ti, lembrei-me da história da ilha de merda - disse eu a Noboru Wataya.
(Crónica do Pássaro de Corda, Haruki Murakami, p. 219)
ps: não que a passagem seja especialmente representativa da obra, mas apeteceu-me guardar este trecho porque pode ser útil para usar em alguma conversa no futuro.
domingo, abril 29, 2007
sexta-feira, abril 27, 2007
Tadinhos
Não alinho muito nestas guerras Norte/Sul, ou Porto/Lisboa, ou coisa que o valha. Mas neste país de Lisboa e o resto é paisagem, confesso que me dá um certo gosto ler coisas destas. Muito mal habituados, é o que é.
Lisboa ainda fica em Portugal
Eu concordo que o alvo dos concertos não deva ser somente Lisboa. Sei que é penoso ter de andar quilómetros, dormir no carro ou numa pensão manhosa, ou nem sequer dormir para assistirmos àquele espectáculo tão aguardado. E defendo que deve haver uma distribuição homogénea dos espectáculos pelo país, mas bolas, não os desviem de Lisboa. Dificilmente conseguirei ver Bonnie ‘Prince’ Billy em Braga ou uns Bad Seeds em Coimbra.
Lisboa ainda fica em Portugal
Eu concordo que o alvo dos concertos não deva ser somente Lisboa. Sei que é penoso ter de andar quilómetros, dormir no carro ou numa pensão manhosa, ou nem sequer dormir para assistirmos àquele espectáculo tão aguardado. E defendo que deve haver uma distribuição homogénea dos espectáculos pelo país, mas bolas, não os desviem de Lisboa. Dificilmente conseguirei ver Bonnie ‘Prince’ Billy em Braga ou uns Bad Seeds em Coimbra.
terça-feira, abril 24, 2007
Patrick Wolf
Desde que me conheço que evito a fila da frente. Nas festas em criança, quando apareciam os palhaços, evitava sentar-me à frente, receando ser chamado para participar em qualquer coisa. Nas aulas, apesar de ser bom aluno, nunca me juntei aos marrões que se sentavam nas primeiras filas, e optava por fazer amizades nas filas de trás com colegas que no ano seguinte já não estariam no mesmo ano que eu. Na universidade, mais do mesmo.
Nos concertos, no entanto, tento arranjar lugar lá na frente. Para poder ver melhor o que se passa em palco, claro, e já agora porque costumo tirar uma fotozita daquelas manhosas de telemóvel que coloco aqui, e se não estou nas primeiras filas a qualidade é ainda pior. Infelizmente, como se torna difícil comprar bilhetes logo que sei que estão à venda, nem sempre o consigo. O concerto de Patrick novo-David-Bowie Wolf, no entanto, foi uma excepção: os bilhetes foram comprados apenas a uma semana da data, mas acabei por me sentar na fila A do novo Teatro Circo, algo que ainda não tinha feito. A primeira impressão não é a mais favorável: quando o Sr. Lobo entra e se senta ao piano, notamos que a disposição das colunas de som não está pensada para as primeiras filas. Com o decorrer do concerto, no entanto, o ouvido habitua-se e as vantagens de ver tudo a acontecer à nossa beira superam as desvantagens. O bilhete da Joanna Newsom diz fila B, por isso em breve estarei por ali novamente.
Leio por aí que pode ter sido dos últimos espectáculos de Patrick Wolf, que se vai despedir da música ainda este ano. Acredito, no entanto, que são apenas amuos próprios dos 23 anos, e que isso lhe vai passar.
O concerto foi curto, curtíssimo. Uma hora, ou pouco mais. O rapaz parecia mais confiante do que quando o vi na Feira (também ele agora se sentará nas primeiras filas, imagino), mas ainda assim esteve pouco falador. Explicou-nos que não havia músicas ao ukelele porque a TAP, em quem podemos sempre confiar para essas coisas, perdeu as malas; mas não nos explicou que teve também de andar por Lisboa à procura de roupa, e que acabou por encontrar numa loja para adolescentes (no feminino, claro). Das poucas vezes que falou foi para nos contar como Railway House foi inspirado numa casa que ocupou com um rapazito com quem foi muito feliz (bem, rapazito estou eu, preconceituoso, a assumir).
Num alinhamento que privilegiou, como seria de esperar, o novo álbum, os momentos da noite foram Tristan e The Magical Position. Nesta última sugeriu ao público que se levantasse para dançar; de início não pegou, mas bastou levantar-se a primeira para em poucos segundos ter dezenas de teenagers meio histéricas aos saltos entre mim e o palco. Até pensei que tinha ouvido mal quando ele disse que o concerto ia terminar, mas houve só tempo mais para um encore com Magpie e um Feels like I'm in love que repescou dos eighties, e estava a noite feita.
Ah, e as pernas branquíssimas da menina do violino (como se chama?) também mereceriam um post só para elas, mas não há tempo.
Nos concertos, no entanto, tento arranjar lugar lá na frente. Para poder ver melhor o que se passa em palco, claro, e já agora porque costumo tirar uma fotozita daquelas manhosas de telemóvel que coloco aqui, e se não estou nas primeiras filas a qualidade é ainda pior. Infelizmente, como se torna difícil comprar bilhetes logo que sei que estão à venda, nem sempre o consigo. O concerto de Patrick novo-David-Bowie Wolf, no entanto, foi uma excepção: os bilhetes foram comprados apenas a uma semana da data, mas acabei por me sentar na fila A do novo Teatro Circo, algo que ainda não tinha feito. A primeira impressão não é a mais favorável: quando o Sr. Lobo entra e se senta ao piano, notamos que a disposição das colunas de som não está pensada para as primeiras filas. Com o decorrer do concerto, no entanto, o ouvido habitua-se e as vantagens de ver tudo a acontecer à nossa beira superam as desvantagens. O bilhete da Joanna Newsom diz fila B, por isso em breve estarei por ali novamente.
Leio por aí que pode ter sido dos últimos espectáculos de Patrick Wolf, que se vai despedir da música ainda este ano. Acredito, no entanto, que são apenas amuos próprios dos 23 anos, e que isso lhe vai passar.
O concerto foi curto, curtíssimo. Uma hora, ou pouco mais. O rapaz parecia mais confiante do que quando o vi na Feira (também ele agora se sentará nas primeiras filas, imagino), mas ainda assim esteve pouco falador. Explicou-nos que não havia músicas ao ukelele porque a TAP, em quem podemos sempre confiar para essas coisas, perdeu as malas; mas não nos explicou que teve também de andar por Lisboa à procura de roupa, e que acabou por encontrar numa loja para adolescentes (no feminino, claro). Das poucas vezes que falou foi para nos contar como Railway House foi inspirado numa casa que ocupou com um rapazito com quem foi muito feliz (bem, rapazito estou eu, preconceituoso, a assumir).
Num alinhamento que privilegiou, como seria de esperar, o novo álbum, os momentos da noite foram Tristan e The Magical Position. Nesta última sugeriu ao público que se levantasse para dançar; de início não pegou, mas bastou levantar-se a primeira para em poucos segundos ter dezenas de teenagers meio histéricas aos saltos entre mim e o palco. Até pensei que tinha ouvido mal quando ele disse que o concerto ia terminar, mas houve só tempo mais para um encore com Magpie e um Feels like I'm in love que repescou dos eighties, e estava a noite feita.
Ah, e as pernas branquíssimas da menina do violino (como se chama?) também mereceriam um post só para elas, mas não há tempo.
quinta-feira, abril 12, 2007
Esclarecimento
Para futura entrevista na RTP, esclareço desde já o seguinte:
1) Apesar de nunca ter entregue relatório de estágio, concluí a licenciatura após 3 anos do início do estágio, ficando com nota a essa cadeira igual à média de curso. Que eu saiba, esse tratamento é normal e não me foi concedido extraordinamente tendo em vista algum cargo relevante que pudesse vir a ocupar no futuro (e que aliás ainda aguardo)
2) Durante esse período, apesar de ainda faltar o tal relatório de estágio, é possível que num balcão de banco ou no quiosque da minha rua me tenham já chamado doutor, e que eu nem sempre os tenha corrigido.
3) É também possível que me tenham até chamado Engenheiro, apesar de o meu curso não ser uma engenharia. Nesses casos tentei sempre portar-me educadamente, e nunca retribuí o insulto.
4) Não fui a todas as aulas na Universidade, nem coisa que se pareça. Aliás, não me arrependo de poucas vezes lá ter posto os pés
5) Encontrei mais tarde uma colega que descobri ser do meu curso de licenciatura, e até do mesmo ano. Essa colega a princípio não acreditou, porque disse nunca me ter visto por lá. É possível: ver ponto anterior.
6) No meu currículo académico aparece, por exemplo, um 16 a Recursos Humanos no 5º ano. Se o regente dessa cadeira disser que não me conhece, é normal: eu também não faço a mínima ideia quem seja o senhor. Na altura estava demasiado entretido a crescer (para dar conta do que estava a acontecer) em Mikkeli, Finlândia. A equivalência para uma outra cadeira do programa do curso é normal no Erasmus, e não foi favor nenhum especial que me fizeram.
7) Se me pedirem recibos das propinas pagas há dez anos provavelmente não os vou encontrar.
8) Não faço ideia se me lançaram alguma nota em Agosto, ou se me passaram alguma declaração a um Domingo, ou se enviei alguma carta ao reitor em dia de lua cheia.
1) Apesar de nunca ter entregue relatório de estágio, concluí a licenciatura após 3 anos do início do estágio, ficando com nota a essa cadeira igual à média de curso. Que eu saiba, esse tratamento é normal e não me foi concedido extraordinamente tendo em vista algum cargo relevante que pudesse vir a ocupar no futuro (e que aliás ainda aguardo)
2) Durante esse período, apesar de ainda faltar o tal relatório de estágio, é possível que num balcão de banco ou no quiosque da minha rua me tenham já chamado doutor, e que eu nem sempre os tenha corrigido.
3) É também possível que me tenham até chamado Engenheiro, apesar de o meu curso não ser uma engenharia. Nesses casos tentei sempre portar-me educadamente, e nunca retribuí o insulto.
4) Não fui a todas as aulas na Universidade, nem coisa que se pareça. Aliás, não me arrependo de poucas vezes lá ter posto os pés
5) Encontrei mais tarde uma colega que descobri ser do meu curso de licenciatura, e até do mesmo ano. Essa colega a princípio não acreditou, porque disse nunca me ter visto por lá. É possível: ver ponto anterior.
6) No meu currículo académico aparece, por exemplo, um 16 a Recursos Humanos no 5º ano. Se o regente dessa cadeira disser que não me conhece, é normal: eu também não faço a mínima ideia quem seja o senhor. Na altura estava demasiado entretido a crescer (para dar conta do que estava a acontecer) em Mikkeli, Finlândia. A equivalência para uma outra cadeira do programa do curso é normal no Erasmus, e não foi favor nenhum especial que me fizeram.
7) Se me pedirem recibos das propinas pagas há dez anos provavelmente não os vou encontrar.
8) Não faço ideia se me lançaram alguma nota em Agosto, ou se me passaram alguma declaração a um Domingo, ou se enviei alguma carta ao reitor em dia de lua cheia.
quarta-feira, abril 11, 2007
Um príncipe em Braga
A noite começou mal. Uma desistência de última hora, com o bilhete há muito comprado, implicou uma nova contratação e atrasou a saída de casa. Para piorar a situação, a burrinha e mais a sua procissão (a quem não sabe a que me refiro sugiro uma estadia em Braga durante a Semana Santa, e vão ver que também ficam a adorar procissões) fecharam a Avenida Central e lotaram os parques em toda aquela zona. À hora marcada para o início do espectáculo ainda eu procurava estacionamento, com o meu bilhete e os de mais oito pessoas (que na altura, imagino, me insultavam à porta do Teatro Circo). Os outros bilhetes foram entregues a tempo, mas eu já só entrei um pouco depois de, segundo me dizem, Dawn McCarthy ter entrado pela mesma porta e iniciado o concerto, cantando a cappella mesmo ao lado de onde eu já deveria estar sentado. Deixei-a voltar ao palco, desci também o corredor (sem cantar a cappella) e discretamente procurei o meu lugar, que encontrei ocupado. Na fila atrás lá encontrei um lugar vazio e, menos mal, contra todas as probabilidades, acabei por ficar sentado ao lado de uma miúda gira e não de um cabeludo-barbudo-mau-aspecto como eu.
Ela, o Fauno, continuava a encantar em palco. Fabuloso, no sentido original da palavra. Ele, o Sátiro, de casaco de cabedal e barbicha mefistofélica, mais Fausto que Fauno, parece ao princípio um pouco deslocado. Quase como se, em vez de ter sido a guitarra a ser emprestada pelo Bonnie, nos tivesse anunciado antes: "Peço desculpa, mas o meu músico quebrou esta tarde, por isso tive que trazer este que um grupo de metal me emprestou". Mas não, continua-se a ouvir e não é nada disso: o duo é mesmo um duo, Nils encaixa ali perfeitamente; quando canta, ou quando sopra na flauta transversal, ou quando, teatralmente, é a voz do comboio em trânsito. E nós rendidos.
Depois veio o príncipe, e sinceramente não sei dizer se deu um bom concerto. Alguém que não o conhecia bem (como é possível?) diz-me que o concerto foi demasiado longo, ainda por cima quando "as músicas dele são todas iguais" (heresia!). Eu, confesso, há coisas em que não consigo ser imparcial: assim como o Simãozinho foi nitidamente derrubado (foi penalty, pois claro), também o Bonnie deu (pois claro) um grande concerto. Ok, entrou e foi ele próprio preparando o palco, meio desastradamente; as suas piadas podem não ser tão boas como isso ("a friend of mine is opening a maternity shop, and will call it We're fucked"); a guitarra nova não conhecerá tão bem os dedos como a anterior. Mas, senhores, é o Bonnie. São aqueles versos que ouvimos e re-ouvimos, ainda que o que ele ali nos mostre sejam na realidade covers e medleys das suas próprias criações, a ponto de tornar quase irreconhecíceis músicas que pensávamos reconhecer mesmo que tocadas de trás para a frente. Com ou sem Dawn the Faun, Bonnie foi sempre genial (o pobre coitado não sabe ser outra coisa). Entre genialidades, lá ficamos a saber que em breve vai passar muito mais tempo em Portugal, algures in a minor place, visto que, graças à Madonna ter copiado o O Let it be (na versão dela ficou Let It Will Be), se vai reformar com os royalties (não soubemos o resultado final do malmequer, mas tudo indica que virá sozinho).
Cá fora, o lugar para o carro que tanto me custou a encontrar era afinal num parque que fechava à meia noite. Que está fechado, portanto, e o carro lá ficará até de manhã. Mas, claro, há noites que por mais percalços que tenham não deixam de ser perfeitas.
Ela, o Fauno, continuava a encantar em palco. Fabuloso, no sentido original da palavra. Ele, o Sátiro, de casaco de cabedal e barbicha mefistofélica, mais Fausto que Fauno, parece ao princípio um pouco deslocado. Quase como se, em vez de ter sido a guitarra a ser emprestada pelo Bonnie, nos tivesse anunciado antes: "Peço desculpa, mas o meu músico quebrou esta tarde, por isso tive que trazer este que um grupo de metal me emprestou". Mas não, continua-se a ouvir e não é nada disso: o duo é mesmo um duo, Nils encaixa ali perfeitamente; quando canta, ou quando sopra na flauta transversal, ou quando, teatralmente, é a voz do comboio em trânsito. E nós rendidos.
Depois veio o príncipe, e sinceramente não sei dizer se deu um bom concerto. Alguém que não o conhecia bem (como é possível?) diz-me que o concerto foi demasiado longo, ainda por cima quando "as músicas dele são todas iguais" (heresia!). Eu, confesso, há coisas em que não consigo ser imparcial: assim como o Simãozinho foi nitidamente derrubado (foi penalty, pois claro), também o Bonnie deu (pois claro) um grande concerto. Ok, entrou e foi ele próprio preparando o palco, meio desastradamente; as suas piadas podem não ser tão boas como isso ("a friend of mine is opening a maternity shop, and will call it We're fucked"); a guitarra nova não conhecerá tão bem os dedos como a anterior. Mas, senhores, é o Bonnie. São aqueles versos que ouvimos e re-ouvimos, ainda que o que ele ali nos mostre sejam na realidade covers e medleys das suas próprias criações, a ponto de tornar quase irreconhecíceis músicas que pensávamos reconhecer mesmo que tocadas de trás para a frente. Com ou sem Dawn the Faun, Bonnie foi sempre genial (o pobre coitado não sabe ser outra coisa). Entre genialidades, lá ficamos a saber que em breve vai passar muito mais tempo em Portugal, algures in a minor place, visto que, graças à Madonna ter copiado o O Let it be (na versão dela ficou Let It Will Be), se vai reformar com os royalties (não soubemos o resultado final do malmequer, mas tudo indica que virá sozinho).
Cá fora, o lugar para o carro que tanto me custou a encontrar era afinal num parque que fechava à meia noite. Que está fechado, portanto, e o carro lá ficará até de manhã. Mas, claro, há noites que por mais percalços que tenham não deixam de ser perfeitas.
terça-feira, abril 10, 2007
Quorum nos referendos
Luis Aguiar-Conraria, professor de economia da UM, escreveu uma interessante coluna no caderno de Economia de dia 30 do Público (que encontrei também no seu blog), e vem novamente explicar aquilo que o Pedro Magalhães, por exemplo, já tinha explicado aqui: que a bem intencionada regra consitucional que exige 50% de participação nos referendos para que se tornem vinculativos pode levar, paradoxalmente, a uma diminuição da participação.
De facto, em alguns casos o lado que sente que vai perder pode apelar à abstenção, e assim transformar, pelo menos, uma derrota vinculativa numa derrota não vinculativa. Aliás, se pensarmos que, devido aos eleitores fantasmas, a percentagem exigida é na prática bastante superior aos 50%, percebe-se que a táctica da abstenção pode frequentemente ser uma boa opção para quem quer manter o status quo. Como explica Aguiar-Conraria, mais 600 mil votantes no Não no último referendo teriam tornado o referendo vinculativo (com vitória do Sim), e evitavam-se as ameaças de Cavaco de veto à lei do Aborto.
O objectivo seria, então, algo que garantisse a (necessária?) representatividade mínima da votação, mas evitando que a abstenção pudesse ser a táctica de um dos lados. A solução pode passar então por algo muito simples: em vez de exigir 50% de participação, passa-se a exigir apenas que o lado ganhador tenha 25% do total. Assim de repente, diria que caem por terra os incentivos à abstenção. As melhores soluções são frequentemente, como se sabe, as mais simples.
PS: Do pouco que percebi pela leitura na diagonal, no entanto, o artigo referido pelo Pedro Magalhães prova matematicamente que um quorum de aprovação tem na verdade o mesmo efeito que um quorum de participação. O que tiro disso é que, com um quorum de aprovação, o status quo pode ainda assim preferir não mobilizar os seus eleitores, e portanto a taxa de participação será baixa; tenho de ler melhor, mas acredito que, num cenário de pelo menos 25% de aprovação, o status quo vai tentar, no mínimo, "perder por poucos".
De facto, em alguns casos o lado que sente que vai perder pode apelar à abstenção, e assim transformar, pelo menos, uma derrota vinculativa numa derrota não vinculativa. Aliás, se pensarmos que, devido aos eleitores fantasmas, a percentagem exigida é na prática bastante superior aos 50%, percebe-se que a táctica da abstenção pode frequentemente ser uma boa opção para quem quer manter o status quo. Como explica Aguiar-Conraria, mais 600 mil votantes no Não no último referendo teriam tornado o referendo vinculativo (com vitória do Sim), e evitavam-se as ameaças de Cavaco de veto à lei do Aborto.
O objectivo seria, então, algo que garantisse a (necessária?) representatividade mínima da votação, mas evitando que a abstenção pudesse ser a táctica de um dos lados. A solução pode passar então por algo muito simples: em vez de exigir 50% de participação, passa-se a exigir apenas que o lado ganhador tenha 25% do total. Assim de repente, diria que caem por terra os incentivos à abstenção. As melhores soluções são frequentemente, como se sabe, as mais simples.
PS: Do pouco que percebi pela leitura na diagonal, no entanto, o artigo referido pelo Pedro Magalhães prova matematicamente que um quorum de aprovação tem na verdade o mesmo efeito que um quorum de participação. O que tiro disso é que, com um quorum de aprovação, o status quo pode ainda assim preferir não mobilizar os seus eleitores, e portanto a taxa de participação será baixa; tenho de ler melhor, mas acredito que, num cenário de pelo menos 25% de aprovação, o status quo vai tentar, no mínimo, "perder por poucos".
quinta-feira, abril 05, 2007
Deep South
Parecendo que não, parando por momentos o zapping na Oprah pode-se aprender alguma coisa. Segunda-feira, por exemplo, aprendi que as Dixie Chicks, na altura da invasão ao Iraque, no topo da fama, disseram num concerto que eram contra a guerra, e algo como ter vergonha de aquele presidente ser do Texas. A partir daí, as vendas desceram a pique, as salas ficaram vazias, eram recebidas com cartazes com "Traidoras" e "Comunistas". Alguns entrevistados defendiam que claro que há liberdade de expressão e tal, mas não é para ser usada no estrangeiro (o problema, parece, foi ter sido dito no estrangeiro).
É realmente uma terra curiosa, o sul profundo dos US of A.
É realmente uma terra curiosa, o sul profundo dos US of A.
domingo, abril 01, 2007
Ele e ela 3
Tinha-me queixado da falta de reportagens sobre concertos na nova Blitz. Segundo o Vítor Junqueira continua igual. Mais uma razão para eu continuar a não a comprar.
Ainda o NÃO...
Os defensores do NÃO ainda continuam a supreender. Segundo notícia do Público defendem que Cavaco Silva devia vetar a lei, com este argumento peregrino que não precisa de comentários:
“Fomos um milhão e 500 mil portugueses que dissemos não a esta lei. Mas se a nós juntarmos mais um por nascer por cada voto nosso, teremos seguramente mais de três milhões de portugueses”, afirmou Isilda Pegado, em nome dos movimentos do “não”.
segunda-feira, março 26, 2007
O Grande Português
Bem sei que não tem qualquer validade científica uma eleição em que os votantes é que telefonam para dar o seu voto. Bem sei que os 41% de Salazar significam, no fundo, "apenas" umas 60 mil pessoas. Mas a verdade é que me assusta um bocado pensar que alguém considere Oliveira Salazar como o maior português de sempre, e isto sem ser preciso recorrer a bastonadas ou tortura do sono.
Se calhar o homem é que tinha razão: para quê gastar dinheiro em eleições quando ele ganharia de certeza? Se deu esta coça ao Afonso Henriques e ao D. João II, que hipóteses teriam, sejamos francos, Norton de Matos ou Humberto Delgado?
Para registo:
1º António de Oliveira Salazar - 41,0%; 2º Álvaro Cunhal - 19,1%; 3º Aristides de Sousa Mendes - 13,0%; 4º D. Afonso Henriques - 12,4%; 5º Luís de Camões - 4,0%; 6º D. João II - 3,0%; 7º Infante D. Henrique - 2,7%; 8º Fernando Pessoa - 2,4%; 9º Marquês de Pombal - 1,7%; 10º Vasco da Gama - 0,7%
Se calhar o homem é que tinha razão: para quê gastar dinheiro em eleições quando ele ganharia de certeza? Se deu esta coça ao Afonso Henriques e ao D. João II, que hipóteses teriam, sejamos francos, Norton de Matos ou Humberto Delgado?
Para registo:
1º António de Oliveira Salazar - 41,0%; 2º Álvaro Cunhal - 19,1%; 3º Aristides de Sousa Mendes - 13,0%; 4º D. Afonso Henriques - 12,4%; 5º Luís de Camões - 4,0%; 6º D. João II - 3,0%; 7º Infante D. Henrique - 2,7%; 8º Fernando Pessoa - 2,4%; 9º Marquês de Pombal - 1,7%; 10º Vasco da Gama - 0,7%
Joanna
Este bilhete também já não escapa: Joanna Newsom, 3 Maio, Teatro Circo, Braga. Confesso que estou curioso em saber como se portará a menina em palco.
Como é que Faun Fables + Bonnie valem 8 euros e a Joanna sozinha vale 20 é, no entanto, coisa que me escapa.
Na Aula Magna no dia anterior.
Como é que Faun Fables + Bonnie valem 8 euros e a Joanna sozinha vale 20 é, no entanto, coisa que me escapa.
Na Aula Magna no dia anterior.
sábado, março 24, 2007
Pedopolítica
Como os cidadãos com idade para votar não lhe ligam nenhuma, Manuel Monteiro parece virar-se agora para a faixa etária 3 a 6 anos. Só assim se percebe o argumento que o Público de ontem citou: "Venho dizer que ainda há direita. A direita está aqui, os outros são tortos".
quarta-feira, março 21, 2007
Bonnie
Ao vivo só o vi uma vez, há uns anos, no Bla Bla em Matosinhos. Will Oldham aka Bonnie Prince Billy aka Palace Brother volta, desta vez ao Teatro Circo de Braga e com Faun Fables a fazer a primeira parte, a 4 de Abril. Imperdível, claro, ainda mais quando os bilhetes são apenas a 8 euritos; os meus já cá estão.
No dia seguinte tocam no Maxime em Lisboa.
No dia seguinte tocam no Maxime em Lisboa.
terça-feira, março 20, 2007
SISI
Sempre atento, Sérgio Godinho escreveu estes dias uma música sobre o novo Sistema Integrado de Segurança Interna.
O fascismo é uma minhoca (não é? lá isso é)
que se infiltra na maçã (não é? lá isso é)
ou vem com botas cardadas
ou com pèzinhos de lã
O fascismo é uma minhoca (não é? lá isso é)
que se infiltra na maçã (não é? lá isso é)
ou vem com botas cardadas
ou com pèzinhos de lã
sexta-feira, março 09, 2007
Brincar aos referendos
Bem sei que o referendo não foi vinculativo, mas a grande maioria das pessoas que se deslocaram às urnas votou a favor da legalização do aborto por vontade da mulher. Ignorando tudo isto, ontem, na Assembleia da República, apenas votaram a favor da lei que a permitirá os mesmo partidos que o teriam feito se não tivesse havido referendo.
Não é gozar connosco?
Não é gozar connosco?
quinta-feira, março 08, 2007
Maxi
Foi já há 3 semanas que Maximilian Hecker passou pelo Teatro Circo, mas dada a qualidade do senhor tenho de escrever qualquer coisita.
Não tenho acompanhado a discografia recente de Hecker, e por isso já estava a contar não conhecer grande parte das músicas apresentadas. Ainda assim, ele lá me fez o jeito e tocou 3 ou 4 músicas dos 2 primeiros álbuns (os mesmos que já ouvi vezes sem conta enquanto trabalho). As restantes não destoam, mas as músicas que mais gostei em palco foram basicamente as que já conhecia. É claro que nesta apreciação posso ter sido influenciado por conhecê-las, mas quem tem os álbuns todos já me tinha avisado que os tais dois são os mais conseguidos. Além das suas músicas, no final tivemos ainda direito a uma versão de I Want You, de Bob Dylan.
Quanto à presença em palco de Maxi (parece que é assim que a mãe lhe chama), é algo que tem que ser visto, porque as palavras não lhe fazem justiça. Ja. Diz ele que gostava de saber meter treta: o pai ensinou-lhe que as pessoas gostam de histórias e, diz ele, sente-se muito culpado por não conseguir seguir o conselho do pai. Mas pronto, coitado, não nasceu realmente para isso: é ilucidativo o "What are your hobbies?" que tentou para meter conversa com o público. Ja. Parecendo muito pouco à vontade em palco, lá diz que isso até é bom, porque bate certo com as letras das músicas ("people think i'm heart broken, but i'm just uncomfortable to be here"). Ja. Em Cold Wind Blowing cantou "There's no place to hide", mas não era preciso tê-lo dito para toda a gente ter percebido que era nisso que ele estava a pensar.
Os momentos bizarros não faltaram. Feel like children foi introduzida com "It was nice when I was a child. I pooed in my pants. I still do sometimes". Ja. Quando ninguém do público lhe ofereceu um lenço, a folha com o setlist foi a alternativa encontrada. Ja. E um arroto (a que se seguiram outros) serviu para contar uma história de quando tentou o mesmo feito num concerto em Taiwan. Ja.
"I am not very stable today. Which is good. I read artists should be strange". Ja.
Não tenho acompanhado a discografia recente de Hecker, e por isso já estava a contar não conhecer grande parte das músicas apresentadas. Ainda assim, ele lá me fez o jeito e tocou 3 ou 4 músicas dos 2 primeiros álbuns (os mesmos que já ouvi vezes sem conta enquanto trabalho). As restantes não destoam, mas as músicas que mais gostei em palco foram basicamente as que já conhecia. É claro que nesta apreciação posso ter sido influenciado por conhecê-las, mas quem tem os álbuns todos já me tinha avisado que os tais dois são os mais conseguidos. Além das suas músicas, no final tivemos ainda direito a uma versão de I Want You, de Bob Dylan.
Quanto à presença em palco de Maxi (parece que é assim que a mãe lhe chama), é algo que tem que ser visto, porque as palavras não lhe fazem justiça. Ja. Diz ele que gostava de saber meter treta: o pai ensinou-lhe que as pessoas gostam de histórias e, diz ele, sente-se muito culpado por não conseguir seguir o conselho do pai. Mas pronto, coitado, não nasceu realmente para isso: é ilucidativo o "What are your hobbies?" que tentou para meter conversa com o público. Ja. Parecendo muito pouco à vontade em palco, lá diz que isso até é bom, porque bate certo com as letras das músicas ("people think i'm heart broken, but i'm just uncomfortable to be here"). Ja. Em Cold Wind Blowing cantou "There's no place to hide", mas não era preciso tê-lo dito para toda a gente ter percebido que era nisso que ele estava a pensar.
Os momentos bizarros não faltaram. Feel like children foi introduzida com "It was nice when I was a child. I pooed in my pants. I still do sometimes". Ja. Quando ninguém do público lhe ofereceu um lenço, a folha com o setlist foi a alternativa encontrada. Ja. E um arroto (a que se seguiram outros) serviu para contar uma história de quando tentou o mesmo feito num concerto em Taiwan. Ja.
"I am not very stable today. Which is good. I read artists should be strange". Ja.
Prémio Não se percebe então porque iam as mulheres a Espanha...
Qualidade das alheiras é preocupante em termos de segurança alimentar: Bactéria responsável por abortos espontâneos encontrada em 60 por cento dos lotes industriais.
(Público de hoje)
quinta-feira, março 01, 2007
Demissionários e resistentes 2
Um deles deu-me razão quase imediatamente: fora um ou outro bitaite de vez em quando, acho que ninguém sabe bem o que faz na vida; o outro demorou mais um pouco, mas conseguiu nunca desaparecer completamente e dois anos depois, conforme previsto, prepara-se para ser o próximo líder do CDS.
quarta-feira, fevereiro 28, 2007
Argumento original
Parece que tenho realmente de ver novamente o filme da Abigail. Já sabia que era a única pessoa que não tinha gostado do filme, mas agora ainda lhe decidiram dar o meu Óscar preferido, o de Melhor Argumento Original (que nos últimos anos, por exemplo, foi para Crash, Eternal Sunshine of the Spotless Mind, Lost in Translation, Hable con Ella). Talvez eu é que estivesse num dia mau e o filme é mesmo bom, quem sabe...
segunda-feira, fevereiro 26, 2007
Working less
Um bom artigo sobre este tema.
(Working less and living longer: long-term trends in working time and time budgets, Jesse H. Ausubel e Arnulf Grübler)
(Working less and living longer: long-term trends in working time and time budgets, Jesse H. Ausubel e Arnulf Grübler)
segunda-feira, fevereiro 19, 2007
A promessa
A SIC Notícias apresenta amanhã um especial sobre JP Simões, e apresenta-o como "uma promessa do panomara musical português". Há gente distraída...
Dez
Vi há uns anos o Dez de Kiarostami, e na altura adorei este misto de filme/documentário da vida de uma mulher iraniana recém-divorciada. O objectivo último de um filme é, parece-me, que o espectador fique na dúvida se se trata realmente de um filme e se os actores estão a representar, ou se é uma câmera escondida a filmar momentos reais; não é fácil, mas Kiarostami consegue-o com mestria.
A RTP decidiu passar esse filme; a que horas? 2:15 da manhã...
A RTP decidiu passar esse filme; a que horas? 2:15 da manhã...
quinta-feira, fevereiro 15, 2007
Delírios
Menezes, num post delirante que entretanto parece ter desaparecido misteriosamente do seu blog, anunciava a vitória do não (e para chegar a essa conclusão somava o NÃO com a abstenção).
Agora vem dizer que a constituição exige maioria para validar uma opção; recomenda-se a consulta de vinculativo num dicionário, e a reflectir sobre a diferença entre "obrigar" e "permitir", e talvez até perceba porque é que, ao contrário do que dizia Marques Mendes, não se poderia despenalizar se o NÃO tivesse ganho (votando mais de metade dos eleitores).
Mas o que achei engraçado neste post de Menezes foi esta conclusão em que ele diz que se não se concorda com os 50% + 1 da Constituição se devia mudar a lei: "A lei é inexequível e, portanto, má? Talvez. Mas a solução passa por alterá-la e não por ignorá-la. Pelo menos, haja o bom senso de aproveitar a oportunidade para a adequar à realidade." Não parece mesmo uma frase retirada de um discurso do SIM, sobre uma outra lei?
PS: Para registo, aqui fica o tal delírio desaparecido:
"Os primeiros dados deste referendo consubstanciam desde já, independentemente da posição de cada português em relação ao problema concreto, uma enorme derrota política do Primeiro-Ministro.
Uma votação que, dado o enorme abstentismo, torna o resultado do referendo não vinculativo tem leituras óbvias e indiscutíveis: uma iniciativa política do Primeiro-Ministro é reprovada por cerca de 80% dos portugueses (somatório dos que não se interessaram, abstendo-se, com os que votam contra), derrota porque para além de ter sido o promotor desta iniciativa política, foi militantemente pró-activo em toda a campanha e fez do combate à abstenção a grande bandeira dos seu derradeiros discursos políticos.
Os portugueses, quer se queira quer não, não tinham a sua cabeça concentrada em exclusivo na problemática que ia ser referendada. Tinham-na também, na sua má disposição com as promessas diariamente quebradas, na sua incompreensão para com a evolução medíocre dos resultados da governação.
José Sócrates sai ferido na sua credibilidade. Oxalá aprenda a lição. Foi um primeiro cartão amarelo a esta governação cinzenta, desesperançada e triste."
Agora vem dizer que a constituição exige maioria para validar uma opção; recomenda-se a consulta de vinculativo num dicionário, e a reflectir sobre a diferença entre "obrigar" e "permitir", e talvez até perceba porque é que, ao contrário do que dizia Marques Mendes, não se poderia despenalizar se o NÃO tivesse ganho (votando mais de metade dos eleitores).
Mas o que achei engraçado neste post de Menezes foi esta conclusão em que ele diz que se não se concorda com os 50% + 1 da Constituição se devia mudar a lei: "A lei é inexequível e, portanto, má? Talvez. Mas a solução passa por alterá-la e não por ignorá-la. Pelo menos, haja o bom senso de aproveitar a oportunidade para a adequar à realidade." Não parece mesmo uma frase retirada de um discurso do SIM, sobre uma outra lei?
PS: Para registo, aqui fica o tal delírio desaparecido:
"Os primeiros dados deste referendo consubstanciam desde já, independentemente da posição de cada português em relação ao problema concreto, uma enorme derrota política do Primeiro-Ministro.
Uma votação que, dado o enorme abstentismo, torna o resultado do referendo não vinculativo tem leituras óbvias e indiscutíveis: uma iniciativa política do Primeiro-Ministro é reprovada por cerca de 80% dos portugueses (somatório dos que não se interessaram, abstendo-se, com os que votam contra), derrota porque para além de ter sido o promotor desta iniciativa política, foi militantemente pró-activo em toda a campanha e fez do combate à abstenção a grande bandeira dos seu derradeiros discursos políticos.
Os portugueses, quer se queira quer não, não tinham a sua cabeça concentrada em exclusivo na problemática que ia ser referendada. Tinham-na também, na sua má disposição com as promessas diariamente quebradas, na sua incompreensão para com a evolução medíocre dos resultados da governação.
José Sócrates sai ferido na sua credibilidade. Oxalá aprenda a lição. Foi um primeiro cartão amarelo a esta governação cinzenta, desesperançada e triste."
quarta-feira, fevereiro 14, 2007
Orgulho
Nós, os homens, sempre orgulhosos. Sós, mas orgulhosos. Solitariamente orgulhosos.
Se eu por acaso te vir por aí
Passo sem sequer te ver
Naturalmente que já te esqueci
E tenho mais que fazer
Quero que saibas que cago no amor
Acho que fui sempre assim
Espero que encontres tudo o que quiseres
E vás para longe de mim
(JP Simões, 1970, também conhecido como O Álbum Que Sérgio Godinho Faria Se Quisesse Homenagear Chico Buarque)
Se eu por acaso te vir por aí
Passo sem sequer te ver
Naturalmente que já te esqueci
E tenho mais que fazer
Quero que saibas que cago no amor
Acho que fui sempre assim
Espero que encontres tudo o que quiseres
E vás para longe de mim
(JP Simões, 1970, também conhecido como O Álbum Que Sérgio Godinho Faria Se Quisesse Homenagear Chico Buarque)
domingo, fevereiro 11, 2007
Hora H
Depois de ver o novo programa do Herman, fico a pensar se é ele que tem vindo a piorar nos últimos 20 anos, ou se somos nós que temos vindo a evoluir.
sexta-feira, fevereiro 09, 2007
Liberalização
Pode parecer estranho neste mundo cada vez mais liberal, mas a verdade é que a palavra liberalização é usada como bicho-papão; ainda por cima, é um falso argumento.
A mim parece-me simples de perceber: se o SIM ganhar não haverá liberalização coisa nenhuma: a IVG só poderá ser realizada (1) até às 10 semanas, (2) por opção da mulher (e nunca contra sua vontade), e (3) em estabelecimento de saúde legalmente autorizado (ou seja, terá que cumprir as normas necessárias para ser aprovado).
Os defensores do NÃO vêm também agora dizer que não querem pena para a mulher, mas o resto mantém-se como está. Ou seja, aborto sem pena, na semana que se quiser, num sítio qualquer, feito por qualquer pessoa, sem sequer alguém garantir que é essa a vontade da mulher. Mais liberalizado do que isto parece-me impossível...
A mim parece-me simples de perceber: se o SIM ganhar não haverá liberalização coisa nenhuma: a IVG só poderá ser realizada (1) até às 10 semanas, (2) por opção da mulher (e nunca contra sua vontade), e (3) em estabelecimento de saúde legalmente autorizado (ou seja, terá que cumprir as normas necessárias para ser aprovado).
Os defensores do NÃO vêm também agora dizer que não querem pena para a mulher, mas o resto mantém-se como está. Ou seja, aborto sem pena, na semana que se quiser, num sítio qualquer, feito por qualquer pessoa, sem sequer alguém garantir que é essa a vontade da mulher. Mais liberalizado do que isto parece-me impossível...
terça-feira, fevereiro 06, 2007
Os males do aborto
Quando se discute o aborto há basicamente 3 problemas que se tenta resolver. A importância que dão a cada um, e como os pretende resolver, divide os dois lados em campanha neste referendo.
1) Penalização da mulher. Este é talvez, vamos ser sinceros, o menor dos problemas: é verdade que as mulheres são humilhadas com estes julgamentos, mas se bem recordo os números foram apenas umas 200 mulheres julgadas desde o último referendo, quando se falam em 20 a 40 mil abortos por ano, e nenhuma foi presa. É também o mais fácil de resolver, já que o próprio NÃO vem dizer que está disposto a concordar com esta despenalização, e por isso pode parecer que SIM e NÃO estão neste ponto a defender a mesma coisa. Nada mais enganador: o NÃO defende a manutenção da situação actual, mas esconder o problema acabando com a penalização das mulheres que recorrem ao aborto clandestino; o SIM defende uma alternativa dentro da legalidade para as mulheres que pretendem abortar (e não despenalizar o aborto de vão de escada);
2) O aborto em si, ou seja, o fim da vida do feto. Este é sem dúvida o problema mais difícil de resolver: as soluções existem no longo prazo (educação sexual, por exemplo) e são apoiadas pelos dois lados, mas nem estas resolverão alguma vez a 100% o problema. A solução do NÃO passa por confiar no efeito de persuasão da lei actual (que, como se sabe, não tem resultado); a solução do SIM passa por trazer o aborto para estabelecimentos autorizados, e com isso melhorar o aconselhamento e apoio às mulheres;
3) O aborto clandestino, com as consequências conhecidas para a saúde da mulher. A solução do NÃO é indexar este problema ao problema anterior (que é, como já se disse, o de mais difícil resolução), e por isso torna-o também virtualmente irresolúvel; a solução do SIM passa por despenalizar (eis novamente a palavra mágica) os médicos e os estabelecimentos autorizados que o façam, e assim oferecer uma verdadeira alternativa ao aborto clandestino, eliminando-o assim no médio/longo prazo.
Por me parecer a melhor solução para os vários problemas, votarei SIM.
PS: Já agora, convenço-me cada vez mais que o Não vai voltar a ganhar. Nunca "ganhei" umas eleições desde que voto, estava a estranhar ser desta vez...
1) Penalização da mulher. Este é talvez, vamos ser sinceros, o menor dos problemas: é verdade que as mulheres são humilhadas com estes julgamentos, mas se bem recordo os números foram apenas umas 200 mulheres julgadas desde o último referendo, quando se falam em 20 a 40 mil abortos por ano, e nenhuma foi presa. É também o mais fácil de resolver, já que o próprio NÃO vem dizer que está disposto a concordar com esta despenalização, e por isso pode parecer que SIM e NÃO estão neste ponto a defender a mesma coisa. Nada mais enganador: o NÃO defende a manutenção da situação actual, mas esconder o problema acabando com a penalização das mulheres que recorrem ao aborto clandestino; o SIM defende uma alternativa dentro da legalidade para as mulheres que pretendem abortar (e não despenalizar o aborto de vão de escada);
2) O aborto em si, ou seja, o fim da vida do feto. Este é sem dúvida o problema mais difícil de resolver: as soluções existem no longo prazo (educação sexual, por exemplo) e são apoiadas pelos dois lados, mas nem estas resolverão alguma vez a 100% o problema. A solução do NÃO passa por confiar no efeito de persuasão da lei actual (que, como se sabe, não tem resultado); a solução do SIM passa por trazer o aborto para estabelecimentos autorizados, e com isso melhorar o aconselhamento e apoio às mulheres;
3) O aborto clandestino, com as consequências conhecidas para a saúde da mulher. A solução do NÃO é indexar este problema ao problema anterior (que é, como já se disse, o de mais difícil resolução), e por isso torna-o também virtualmente irresolúvel; a solução do SIM passa por despenalizar (eis novamente a palavra mágica) os médicos e os estabelecimentos autorizados que o façam, e assim oferecer uma verdadeira alternativa ao aborto clandestino, eliminando-o assim no médio/longo prazo.
Por me parecer a melhor solução para os vários problemas, votarei SIM.
PS: Já agora, convenço-me cada vez mais que o Não vai voltar a ganhar. Nunca "ganhei" umas eleições desde que voto, estava a estranhar ser desta vez...
segunda-feira, fevereiro 05, 2007
Dead Combo + Howe Gelb
Esta quarta-feira fugi às minhas obrigações durante umas horitas para ir ver Howe Gelb ao Teatro Circo.
A noite começou com Dead Combo, e estes mostraram porque foram escolhidos como banda do ano 2006 em várias publicações. É música portuguesa, com certeza, mas é também um ambiente western que encaixaria na perfeição num Kill Bill 3. E foi até Like a Drug, dos Queens of the Stone Age (versão restaurante chinês, nas palavras do próprio Tó Trips), e Temptation de Tom Waits. Gostei muito de os ver ao vivo, embora confesse que, para mim, a ausência de voz me dá sempre a impressão que falta ali qualquer coisa, e após a primeira meia hora isso começa a tornar-se cada vez mais evidente.
Howe Gelb é o génio da música que se sabe, mas esta noite foi-me dando a impressão que se podia esforçar mais. Lembro-me que quando Robert Fisher foi ao primeiro Festival para Gente Sentada disse que se tinha inspirado nos Giant Sand para criar os Willard Grant Conspiracy: em estúdio gravava com quem aparecesse, e ao vivo tocava com quem estivesse pela zona. Imagino que Howe Gelb não tenha muitos amigos por cá, e por isso teve que tocar sozinho. E sozinho pareceu meio perdido, entre a guitarra, o piano e os dois microfones. É difícil imaginar que isso possa acontecer com Gelb, mas chegou a parecer intimidado com o local: "This is a nice place. Not a bar!", ou "Do you want an opera? This place should be good for an opera", dizia, não se percebendo bem se aquilo era um elogio. A verdade é que o concerto foi melhorando para o fim, quando se libertou, falou mais, com humor, e começou a tocar algumas versões (como o Desperate Kingdom of Love da Poly Jean) e acabou em beleza com um pequeno medley que fundiu Ring of Fire (Cash) com o Hey Jude. Li qualquer coisa do que se passou no dia anterior no Santiago Alquimista e parece-me que foi um concerto mais conseguido, mas ainda assim foi mais uma óptima noite no novo Teatro Circo.
A noite começou com Dead Combo, e estes mostraram porque foram escolhidos como banda do ano 2006 em várias publicações. É música portuguesa, com certeza, mas é também um ambiente western que encaixaria na perfeição num Kill Bill 3. E foi até Like a Drug, dos Queens of the Stone Age (versão restaurante chinês, nas palavras do próprio Tó Trips), e Temptation de Tom Waits. Gostei muito de os ver ao vivo, embora confesse que, para mim, a ausência de voz me dá sempre a impressão que falta ali qualquer coisa, e após a primeira meia hora isso começa a tornar-se cada vez mais evidente.
Howe Gelb é o génio da música que se sabe, mas esta noite foi-me dando a impressão que se podia esforçar mais. Lembro-me que quando Robert Fisher foi ao primeiro Festival para Gente Sentada disse que se tinha inspirado nos Giant Sand para criar os Willard Grant Conspiracy: em estúdio gravava com quem aparecesse, e ao vivo tocava com quem estivesse pela zona. Imagino que Howe Gelb não tenha muitos amigos por cá, e por isso teve que tocar sozinho. E sozinho pareceu meio perdido, entre a guitarra, o piano e os dois microfones. É difícil imaginar que isso possa acontecer com Gelb, mas chegou a parecer intimidado com o local: "This is a nice place. Not a bar!", ou "Do you want an opera? This place should be good for an opera", dizia, não se percebendo bem se aquilo era um elogio. A verdade é que o concerto foi melhorando para o fim, quando se libertou, falou mais, com humor, e começou a tocar algumas versões (como o Desperate Kingdom of Love da Poly Jean) e acabou em beleza com um pequeno medley que fundiu Ring of Fire (Cash) com o Hey Jude. Li qualquer coisa do que se passou no dia anterior no Santiago Alquimista e parece-me que foi um concerto mais conseguido, mas ainda assim foi mais uma óptima noite no novo Teatro Circo.
Grandes Portugueses
Está a decorrer na RTP a votação para eleger o "maior português de todos os tempos". Foram já eleitos os 10 mais, e desta lista vai sair o maior: Afonso Henriques, Álvaro Cunhal, António Salazar, Aristides de Sousa Mendes, Fernando Pessoa, Infante D. Henrique, D. João II, Luis de Camões, Marquês de Pombal, Vasco da Gama.
Parece-me uma lista mais ou menos politicamente correcta (exceptuando o facto de não se ter incluído nenhuma mulher), incluindo até Salazar e Cunhal para criar a necessária polémica, mas, sem saber exactamente como foi conduzida esta votação e até que ponto as pessoas foram influenciadas, custa-me a crer que o português médio, tendo de responder livremente sobre o maior português de sempre, se fosse realmente lembrar destas personagens. Alguém acredita mesmo que as pessoas se vão lembrar, sei lá, de Aristides de Sousa Mendes, ou até de Pessoa ou de D. João II, e não da Amália ou do Eusébio? Da Rosa Mota e do Carlos Lopes? Do Mourinho e do Figo? De Soares ou de Cavaco?
Parece-me uma lista mais ou menos politicamente correcta (exceptuando o facto de não se ter incluído nenhuma mulher), incluindo até Salazar e Cunhal para criar a necessária polémica, mas, sem saber exactamente como foi conduzida esta votação e até que ponto as pessoas foram influenciadas, custa-me a crer que o português médio, tendo de responder livremente sobre o maior português de sempre, se fosse realmente lembrar destas personagens. Alguém acredita mesmo que as pessoas se vão lembrar, sei lá, de Aristides de Sousa Mendes, ou até de Pessoa ou de D. João II, e não da Amália ou do Eusébio? Da Rosa Mota e do Carlos Lopes? Do Mourinho e do Figo? De Soares ou de Cavaco?
domingo, fevereiro 04, 2007
Organização
Vou ao Centro de Saúde para a inscrição para a BCG. Depois de algumas perguntas, informam-me, com toda a naturalidade do mundo, que devo fazê-lo na telefonista: passo por uma porta com "Entrada proibida a estranhos ao serviço" e, ao lado de umas senhoras numa mesa a almoçar, encontro a placa a dizer PBX, e dentro a tal telefonista que acumula com a tarefa de registar inscrições para BCG. Em seguida preciso de inscrever a bebé como beneficiária. Onde se faz isso? No balcão das urgências, pois claro. Por fim, no dia da vacina, devo dirigir-me a um balcão identificado por uma placa onde, apesar de algumas letras terem desaparecido, ainda se consegue ler "Atendimento Administrativo".
Penso para mim que simples desorganização não poderia levar a tanto, por isso isto só pode ser obra de um director com demasiado tempo livre e sentido de humor kafkiano.
Penso para mim que simples desorganização não poderia levar a tanto, por isso isto só pode ser obra de um director com demasiado tempo livre e sentido de humor kafkiano.
quinta-feira, fevereiro 01, 2007
Maquiavel
Marcelo disse este Domingo na RTP que se devia partir para eleições intercalares na Câmara de Lisboa. E porque defende ele isto? Em nome da Democracia? Para melhorar a imagem dos politicos, tão debilitada? Para evitar que a Câmara fique dois anos nesta situação? Não.
Segundo Marcelo, deixar esta sitação até 2009 pode prejudicar a imagem do PSD e, coincidindo as eleições autárquicas com as legislativas, o efeito pode verificar-se também nestas últimas, e não só em Lisboa mas até a nível nacional.
Parace-me que não é com pensamentos destes, virados apenas para a manutenção do poder e pensando no umbigo, que os portugueses vão melhorar a imagem que têm dos políticos, e convencerem-se que estes trabalham para o bem do país.
Segundo Marcelo, deixar esta sitação até 2009 pode prejudicar a imagem do PSD e, coincidindo as eleições autárquicas com as legislativas, o efeito pode verificar-se também nestas últimas, e não só em Lisboa mas até a nível nacional.
Parace-me que não é com pensamentos destes, virados apenas para a manutenção do poder e pensando no umbigo, que os portugueses vão melhorar a imagem que têm dos políticos, e convencerem-se que estes trabalham para o bem do país.
terça-feira, janeiro 30, 2007
Fugas? Nem pensar!
Vários jornais online noticiam, citando a Lusa, que Pinto da Costa foi hoje ouvido sobre a "alegada fuga para Espanha antes de busca à sua casa" e que há "suspeitas de que a fuga partiu da PJ".
E como obteve a Lusa estes detalhes sobre um inquérito ainda a decorrer? Foi informada "por fonte policial".
Não é bonito o país em que vivemos?
E como obteve a Lusa estes detalhes sobre um inquérito ainda a decorrer? Foi informada "por fonte policial".
Não é bonito o país em que vivemos?
IVG
Já tive mais certezas em relação ao assunto que se referenda no próximo mês. Mesmo sem entrarmos em extremismos (os do Sim certamente não são assassinos sanguinários, os do Não não serão todos fanáticos religiosos e neo-nazis), há dos dois lados argumentos que não me convencem.
Eis então alguns argumentos do não:
a) Desde a concepção há vida. Vida humana. Certamente que há. É vida. E é humana. Mas a verdade é que, digam o que disserem, não valoramos da mesma forma um embrião e um recém-nascido. Ninguém defende, que não seja punida a morte de bebés deficientes, mas o aborto de fetos com mal-formações está previsto na lei; mesmo quem pretende penalizar as mulheres não sugere uma pena igual à do infanticídio; não fazemos funerais religiosos a embriões.
b) As mulheres não devem ir para a prisão, mas devemos manter a pena na lei para mostrar que é algo errado e como factor dissuasivo. Parece-me um caminho perigoso, o termos leis que não são para cumprir, o passar a ideia que há leis que existem mas que na verdade não são aplicadas. É uma solução que se vai usando em várias situações, não só no aborto: o mesmo argumento é usado para o consumo de drogas, para a prostituição, ou até por exemplo quando se define o limite de velocidade em alguns locais em 50 km/h, mas, vá lá, pode ir até 80 que não faz mal. O Rui Tavares fala aqui desta noção de Lei como Ideal, que pode realmente passar a ideia errada do que deverá ser uma lei.
c) O impacto nas finanças públicas. Não sei se este argumento peregrino, que tenta apelar ao que de mais mesquinho há nos portugueses, funcionará ou não, mas revela realmente as preocupações dos defensores da vida. A ideia que passam é que se o aborto fosse só realizado em clínicas privadas, sem mexer nos nossos impostos, não haveria problema. Mesmo que este argumento de contar cifrões num caso de saúde pública fosse razoável, seria facilmente desmontado se contarmos com as despesas existentes no tratamento de complicações resultantes de abortos clandestinos, ou até dos julgamentos das mães que abortam. Como é óbvio, só se conseguirá combater o aborto clandestino se se puder fazê-lo dentro do Serviço Nacional de Saúde; se formos simplesmente permitir a criação em Portugal de clínicas de aborto a situação continuará exactamente como está, apenas com a diferença que quem pode pagar estas clínicas vai deixar de precisar de atravessar a fronteira.
d) De vez em quando ainda ouço do Não o argumento de que se deveria era apostar no planeamento familiar a sério, em vez de partir para a despenalização. Concordo, e seria um bom argumento se não se tivesse já usado este argumento há 10 anos, e pouco ou nada se fez entretanto. É difícil não achar que votar Não será mais do que manter tudo como está.
e) Já cheguei a ouvir até que é ridículo ir para este caminho agora, numa altura em que a população europeia está a estagnar. E conseguem dizer isto com uma cara séria, como se a penalização do aborto fosse uma medida de fomento da natalidade.
Entretanto, o Sim também me apresenta argumentos muito fracos:
a) O Sim como defesa da Liberdade de Escolha. Estando despenalizado, quem quiser abortar aborta, quem não quiser pode não abortar. Parece simplista, e não podemos ir por aí: não podemos simplesmente descriminalizar o roubo dizendo que quem não concordar não rouba.
b) Não vale a pena penalizar porque o aborto sempre existiu e sempre existirá. Mais uma vez, não é argumento: há muito crimes que sempre existiram e sempre existirão; não é esse o motivo para os descriminalizar.
c) Já toda a Europa seguiu este caminho. Como não me considero um lemming, este também não é argumento.
d) Penalizar o aborto é impor um padrão moral de uma parte da população à totalidade da população. É verdade, mas o mesmo se pode dizer, por exemplo, em relação à criminalização da poligamia. Aliás, não será isso aplicável a (quase) todas as leis? Podemos ser optimistas e considerar que existe um conjunto básico de normas do Direito Natural que serão imutáveis, mas até estas normas "imutáveis" mudam de vez em quando...
É verdade que gostaria de ver na lei maior relevo para o aconselhamento e apoio a mães que pretendam abortar. Que gostaria, por exemplo, que estivesse previsto um período de reflexão. E que me fazem um pouco de confusão as tais clínicas de aborto: se o seu negócio é o aborto, não estou a ver que tentem de alguma forma mostrar à mulher que podem existir outras alternativas. Mais uma vez, mesmo aqui, o enquadramento no SNS é também neste ponto uma vantagem.
É verdade que pode haver situações de abuso. Mulheres que abortam repetidas vezes. Mas acredito que isso será sempre a excepção, e custa-me a crer que as mulheres, levianamente, utilizem o aborto como método contraceptivo. Um aborto será sempre uma decisão extremamente difícil, tomada apenas em casos extremos.
Como homem, custa-me também ler o "por opção da mulher", e imaginar que, por exemplo, uma mulher casada pode abortar sem sequer consultar o marido, sem este sequer chegar a saber que a esposa esteve grávida. Compreendo em parte quem diz que se estamos a tirar ao homem o direito de ter opinião na interrupção da gravidez, é difícil perceber como podemos depois exigir deveres de paternidade resultades de uma gravidez que a mãe - e só a mãe - decidiu manter até ao fim. No último referendo, pelo que me lembro, o Não não tinha levantado esta questão, mas desta vez já o vi a ser usado; eu próprio já tinha levantado essa dúvida há uns anos. No entanto, vendo os principais motivos que as mulheres apontam para o aborto parece-me que estes casos de abortar à revelia do companheiro não serão reais. Por outro lado, a verdade no final de contas é que uma gravidez só será realmente levada ao fim se a mulher quiser.
Depois de tudo pesado, ficamos com os factos: o aborto clandestino é hoje um problema grave de saúde pública, com implicações graves na vida de muitas mulheres, em alguns casos levando à morte da mulher. A vitória do Não há 10 anos deixou tudo na mesma, e tudo leva a crer que uma nova vitória do Não tenha novamente o mesmo efeito. A despenalização abrirá o caminho para a regulamentação e o enquadramento no Serviço Nacional de Saúde, e assim minimizar os efeitos negativos que o aborto sempre tem. Por isso votarei Sim.
Eis então alguns argumentos do não:
a) Desde a concepção há vida. Vida humana. Certamente que há. É vida. E é humana. Mas a verdade é que, digam o que disserem, não valoramos da mesma forma um embrião e um recém-nascido. Ninguém defende, que não seja punida a morte de bebés deficientes, mas o aborto de fetos com mal-formações está previsto na lei; mesmo quem pretende penalizar as mulheres não sugere uma pena igual à do infanticídio; não fazemos funerais religiosos a embriões.
b) As mulheres não devem ir para a prisão, mas devemos manter a pena na lei para mostrar que é algo errado e como factor dissuasivo. Parece-me um caminho perigoso, o termos leis que não são para cumprir, o passar a ideia que há leis que existem mas que na verdade não são aplicadas. É uma solução que se vai usando em várias situações, não só no aborto: o mesmo argumento é usado para o consumo de drogas, para a prostituição, ou até por exemplo quando se define o limite de velocidade em alguns locais em 50 km/h, mas, vá lá, pode ir até 80 que não faz mal. O Rui Tavares fala aqui desta noção de Lei como Ideal, que pode realmente passar a ideia errada do que deverá ser uma lei.
c) O impacto nas finanças públicas. Não sei se este argumento peregrino, que tenta apelar ao que de mais mesquinho há nos portugueses, funcionará ou não, mas revela realmente as preocupações dos defensores da vida. A ideia que passam é que se o aborto fosse só realizado em clínicas privadas, sem mexer nos nossos impostos, não haveria problema. Mesmo que este argumento de contar cifrões num caso de saúde pública fosse razoável, seria facilmente desmontado se contarmos com as despesas existentes no tratamento de complicações resultantes de abortos clandestinos, ou até dos julgamentos das mães que abortam. Como é óbvio, só se conseguirá combater o aborto clandestino se se puder fazê-lo dentro do Serviço Nacional de Saúde; se formos simplesmente permitir a criação em Portugal de clínicas de aborto a situação continuará exactamente como está, apenas com a diferença que quem pode pagar estas clínicas vai deixar de precisar de atravessar a fronteira.
d) De vez em quando ainda ouço do Não o argumento de que se deveria era apostar no planeamento familiar a sério, em vez de partir para a despenalização. Concordo, e seria um bom argumento se não se tivesse já usado este argumento há 10 anos, e pouco ou nada se fez entretanto. É difícil não achar que votar Não será mais do que manter tudo como está.
e) Já cheguei a ouvir até que é ridículo ir para este caminho agora, numa altura em que a população europeia está a estagnar. E conseguem dizer isto com uma cara séria, como se a penalização do aborto fosse uma medida de fomento da natalidade.
Entretanto, o Sim também me apresenta argumentos muito fracos:
a) O Sim como defesa da Liberdade de Escolha. Estando despenalizado, quem quiser abortar aborta, quem não quiser pode não abortar. Parece simplista, e não podemos ir por aí: não podemos simplesmente descriminalizar o roubo dizendo que quem não concordar não rouba.
b) Não vale a pena penalizar porque o aborto sempre existiu e sempre existirá. Mais uma vez, não é argumento: há muito crimes que sempre existiram e sempre existirão; não é esse o motivo para os descriminalizar.
c) Já toda a Europa seguiu este caminho. Como não me considero um lemming, este também não é argumento.
d) Penalizar o aborto é impor um padrão moral de uma parte da população à totalidade da população. É verdade, mas o mesmo se pode dizer, por exemplo, em relação à criminalização da poligamia. Aliás, não será isso aplicável a (quase) todas as leis? Podemos ser optimistas e considerar que existe um conjunto básico de normas do Direito Natural que serão imutáveis, mas até estas normas "imutáveis" mudam de vez em quando...
É verdade que gostaria de ver na lei maior relevo para o aconselhamento e apoio a mães que pretendam abortar. Que gostaria, por exemplo, que estivesse previsto um período de reflexão. E que me fazem um pouco de confusão as tais clínicas de aborto: se o seu negócio é o aborto, não estou a ver que tentem de alguma forma mostrar à mulher que podem existir outras alternativas. Mais uma vez, mesmo aqui, o enquadramento no SNS é também neste ponto uma vantagem.
É verdade que pode haver situações de abuso. Mulheres que abortam repetidas vezes. Mas acredito que isso será sempre a excepção, e custa-me a crer que as mulheres, levianamente, utilizem o aborto como método contraceptivo. Um aborto será sempre uma decisão extremamente difícil, tomada apenas em casos extremos.
Como homem, custa-me também ler o "por opção da mulher", e imaginar que, por exemplo, uma mulher casada pode abortar sem sequer consultar o marido, sem este sequer chegar a saber que a esposa esteve grávida. Compreendo em parte quem diz que se estamos a tirar ao homem o direito de ter opinião na interrupção da gravidez, é difícil perceber como podemos depois exigir deveres de paternidade resultades de uma gravidez que a mãe - e só a mãe - decidiu manter até ao fim. No último referendo, pelo que me lembro, o Não não tinha levantado esta questão, mas desta vez já o vi a ser usado; eu próprio já tinha levantado essa dúvida há uns anos. No entanto, vendo os principais motivos que as mulheres apontam para o aborto parece-me que estes casos de abortar à revelia do companheiro não serão reais. Por outro lado, a verdade no final de contas é que uma gravidez só será realmente levada ao fim se a mulher quiser.
Depois de tudo pesado, ficamos com os factos: o aborto clandestino é hoje um problema grave de saúde pública, com implicações graves na vida de muitas mulheres, em alguns casos levando à morte da mulher. A vitória do Não há 10 anos deixou tudo na mesma, e tudo leva a crer que uma nova vitória do Não tenha novamente o mesmo efeito. A despenalização abrirá o caminho para a regulamentação e o enquadramento no Serviço Nacional de Saúde, e assim minimizar os efeitos negativos que o aborto sempre tem. Por isso votarei Sim.
domingo, janeiro 28, 2007
Boas intenções
Entro num parque de estacionamento e ouço buzinadelas: um carro parado impede a passagem de outros que querem sair. Poucos segundos depois, um senhor idoso (não muito idoso, dos seus sessenta e tais, talvez), sai do veículo e, muito lentamente, circunda o carro e vai à porta do acompanhante; em seguida, abre a porta de trás e tira de dentro um casaco. Eu, dois carros atrás, consigo ouvir alguém perguntar se vai ficar ali, ou se vai tirar o carro que está a atrapalhar. O senhor idoso parece aperceber-se do seu erro, diz que vai tirar o carro e volta a meter-se lá dentro. Arranca em direcção da saída, o que me permite também a mim continuar e estacionar. Quando volto a olhar está a tentar meter o bilhete do parque na maquineta, mas sem grande sucesso; avança um pouco com o carro, avança, avança, até ter a parte da frente já debaixo da cancela. Entretanto, outros que querem sair buzinam atrás dele. Desloco-me até ao senhor idoso e pergunto se está a ter algum problema em sair; diz-me, muito lentamente também, que já tentou meter o bilhete, mas que não há meio de a cancela abrir. Pergunto-lhe se pagou o parque; surpreendido, como quem não faz ideia que se tem que pagar alguma coisa, diz-me que não. Peço-lhe o bilhete e digo-lhe que lhe vou tratar disso; pago os 60 centimos na máquina, meto-lhe o bilhete e digo-lhe que pode ir embora. Olha para mim como quem ainda não está a perceber bem o que se passou e, sem dizer nada, de novo muito lentamente, deixa o carro descair e depois lá consegue fazê-lo pegar. Logo em frente, à saída do parque, ainda o consigo ver a passar por cima de uma linha contínua e mais uma vez a levar com buzinadelas.
A caminho da secção de nascimentos do Registo Civil, penso para mim se terei feito a boa acção do dia ou se terei empurrado o senhor idoso para um acidente certo. Afinal, é bem verdade que o mundo está cheio de exemplos de boas intenções que terminaram muito mal (por muito reaccionário que esta frase possa soar).
A caminho da secção de nascimentos do Registo Civil, penso para mim se terei feito a boa acção do dia ou se terei empurrado o senhor idoso para um acidente certo. Afinal, é bem verdade que o mundo está cheio de exemplos de boas intenções que terminaram muito mal (por muito reaccionário que esta frase possa soar).
quarta-feira, janeiro 24, 2007
Literatura de WC 3
Novidades, de Natal e não só, em termos de literatura de WC:
. Pobre e mal agradecido (Rui Tavares, Tinta da China)
. A câmara clara (Roland Barthes, Edições 70)
. Eu sou o Maior, O Regresso do Menino Nicolau, Volume II (Goscinny e Sempé, Teorema)
. Mais bastidores de Hollywood (Mário Augusto, Prime Books)
. Pobre e mal agradecido (Rui Tavares, Tinta da China)
. A câmara clara (Roland Barthes, Edições 70)
. Eu sou o Maior, O Regresso do Menino Nicolau, Volume II (Goscinny e Sempé, Teorema)
. Mais bastidores de Hollywood (Mário Augusto, Prime Books)
sábado, janeiro 20, 2007
E agora para algo completamente diferente...
Ter um piano, já se sabe, não faz de ninguém pianista.
A ver...
A ver...
sexta-feira, janeiro 05, 2007
Venham os próximos
Num espaço de apenas um mês morreram dois ditadores (bem, vamos excluir o Turcomenistão que nem sei bem onde fica isso). Um, aos 90 anos, sem ser julgado; o outro, de corda ao pescoço, como se pensava que já não morria ninguém. E assim, de uma forma ou de outra, se vai abrindo caminho para que outros se sigam.
Necessidades
Reduz as necessidades se queres passar bem, dizia o outro.
Mas a gente habitua-se às coisas, e depois não é fácil viver sem elas. Acomodamo-nos. E não percebemos como é que há poucos anos se vivia sem um telefone sempre no bolso, e sem televisão por cabo, e sem internet. Como houve música quem não tem leitor de mp3 no carro? Ou, na verdade, como se desenraca quem nem carro tem? E como há quem não sinta falta de livros, de cinema, de cd's, de concertos, ou de viajar, ou de um queijinho e um bom tinto?
E vai ficando sempre a dúvida: trabalhar para poder comprar o tal tinto mas não ter tempo para o beber, ou optar pelo tempo mas não poder comprar o tinto?
Mas a gente habitua-se às coisas, e depois não é fácil viver sem elas. Acomodamo-nos. E não percebemos como é que há poucos anos se vivia sem um telefone sempre no bolso, e sem televisão por cabo, e sem internet. Como houve música quem não tem leitor de mp3 no carro? Ou, na verdade, como se desenraca quem nem carro tem? E como há quem não sinta falta de livros, de cinema, de cd's, de concertos, ou de viajar, ou de um queijinho e um bom tinto?
E vai ficando sempre a dúvida: trabalhar para poder comprar o tal tinto mas não ter tempo para o beber, ou optar pelo tempo mas não poder comprar o tinto?
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